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Vol. 99. Issue 1.
Pages 125-126 (1 January 2024)
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Pages 125-126 (1 January 2024)
Carta – Caso Clínico
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Úlcera vulvar de Lipschütz em adolescente após vacina da Pfizer contra COVID‐19
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Juan‐Manuel Morón‐Ocaña
Corresponding author
, Ana‐Isabel Lorente‐Lavirgen, Isabel‐María Coronel‐Pérez, María‐Luisa Martínez Barranca
Departamento de Dermatologia, Hospital Universitario Virgen de Valme, Sevilha, Espanha
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Prezado Editor,

A ulceração vulvar aguda de Lipschütz é condição não sexualmente adquirida, que se caracteriza pelo aparecimento súbito de úlceras genitais necróticas e dolorosas. A autorresolução sem cicatrizes e recidivas é o curso normal da condição.1 A patogênese das úlceras aftosas vulvares não é clara. Vários relatos descreveram úlceras aftosas como resposta imune desregulada associada a uma variedade de infecções, incluindo citomegalovírus (CMV), influenza, vírus da caxumba, salmonela, micoplasma e principalmente o vírus Epstein‐Barr (EBV).2

Mais de 334 milhões de doses das vacinas Moderna, Pfizer e Johnson & Johnson foram administradas desde dezembro de 2020. Os efeitos colaterais são comuns e amplamente relatados. Os efeitos colaterais sistêmicos após a vacina Pfizer contra a COVID‐19, como dor de cabeça, fadiga, calafrios, diarreia, febre e mialgias, são bem conhecidos.3 Entretanto, as manifestações cutâneas não são tão bem estudadas.4 Neste breve relato, apresentamos o caso de uma paciente que apresentou úlcera aftosa vulvar após receber a vacina da Pfizer contra COVID‐19.

Uma menina de 13 anos, sem antecedentes pessoais relevantes, apresentou febre, mialgias e dor intensa na genitália 48 horas após ter sido vacinada com a segunda dose da vacina contra COVID‐19 (Pfizer).

Após o exame, foram observadas úlceras fibrinosas com padrão em espelho (kissing ulcers) na vulva (fig. 1).

Figura 1.

Úlcera fibrinosa com padrão em espelho ou “kissing pattern” na vulva.

(0.15MB).

A paciente negou o início das relações sexuais e relatou menarca há um ano, com menstruações regulares que não coincidiam com as úlceras.

As culturas de exsudato e PCR para herpes‐vírus 1 e 2, treponema e micoplasma da vulva foram negativas. Testes sorológicos incluindo HIV, vírus Epstein‐Barr e anticorpos antinucleares também foram negativos. A paciente também apresentou teste de nasofaringe negativo para infecção por SARS‐CoV‐2.

Foi iniciado tratamento empírico com antibióticos tópicos e corticoides. Em 15 dias, a paciente foi reavaliada, com resolução completa das lesões.

O caso foi notificado ao sistema espanhol de farmacovigilância. De acordo com seu algoritmo de casos, a úlcera vulvar foi considerada possivelmente relacionada à vacina.

Um dos raros efeitos colaterais da vacina contra COVID‐19 pode ser o aparecimento de úlceras na vulva. De fato, entre os 1.128.289 casos de efeitos adversos da vacina Pfizer contra a COVID‐19 que o banco de dados de farmacovigilância da Agência Europeia de Medicamentos (Eudravigilance) relatou até 24/09/22, 47 casos eram de úlceras vulvares.5

Ao serem comparados com dados das outras vacinas contra COVID‐19, nove casos de úlceras vulvares foram descritos com a vacina Moderna, 19 com a vacina AstraZeneca e um com a vacina Janssen até 24/09/22.5

Este relato descreve possível relação entre o desenvolvimento de úlceras aftosas vulvares e a vacinação contra COVID‐19. A presente paciente apresentava características clínicas típicas de úlcera aftosa, incluindo pródromo semelhante à influenza e manifestações dermatológicas características que ocorreram após receber a segunda dose da vacina Pfizer contra COVID‐19.6

Acredita‐se que as úlceras aftosas vulvares sejam desencadeadas pelo estresse fisiológico de uma variedade de insultos, principalmente infecções virais. A vacina contra COVID‐19da Pfizer BioNTech (BNT162b2), que a presente paciente recebeu, é um mRNA modificado por nucleosídeo formulado com nanopartículas lipídicas que codifica o domínio de ligação ao receptor da glicoproteína spike SARS‐CoV‐2. A glicoproteína spike é um alvo popular no desenvolvimento da vacina contra COVID‐19, pois realiza a mediação da entrada do SARS‐CoV‐2 nas células hospedeiras por meio da ligação ao receptor da enzima conversora da angiotensina 2.7

A relação temporal dos sintomas da presente paciente com a aplicação da vacina Pfizer BioNTech (BNT162b2) no contexto de um teste negativo para SARS‐COV‐2 RNA, bem como o descarte de outras etiologias infecciosas, sugere que seus sintomas sistêmicos e úlcera aftosa vulvar podem ter ocorrido secundários a uma resposta imune precipitada pela vacina.

Em resumo, este caso destaca possível nova associação entre a vacinação com Pfizer BioNTech (BNT162b2) mRNA contra COVID‐19 e úlcera aftosa vulvar. Um mecanismo proposto para estudo é investigar como a resposta do sistema imunológico à vacinação recapitula a resposta pró‐inflamatória associada a úlceras aftosas vulvares secundárias a doenças virais.

No caso da paciente aqui descrita, a resposta imune pode ter sido desencadeada pelas proteínas do vírus da vacina Pfizer contra COVID‐19 pois nenhuma outra causa subjacente foi encontrada.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Juan Manuel Morón Ocaña: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.

Ana Isabel Lorente Lavirgen: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Isabel María Coronel Pérez: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

María Luisa Martínez Barranca: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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COVID‐19 vaccine BNT162b1 elicits human antibody and TH1 T cell responses.
Nature., 586 (2020), pp. 594-599

Como citar este artigo: Morón‐Ocaña JM, Lorente‐Lavirgen AI, Coronel‐Pérez IM, Martínez Barranca ML. Lipschutz's vulvar ulcer in an adolescent after Pifzer COVID‐19 vaccine. An Bras Dermatol. 2024;99:125–6.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Hospital Universitario Virgen de Valme, Sevilha, Espanha.

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