O SARS‐CoV‐2 tem amplo espectro de sintomas, variando de doenças semelhantes a resfriados leves, dificuldade respiratória grave, doença multissistêmica e morte. Há alguns relatos sobre manifestações cutâneas; os achados relatados foram rash cutâneo, urticária, vesículas semelhantes à varicela, livedo reticular, lesões herpetiformes e eritema pérnio.1,2 Um estudo transversal descritivo foi realizado no Roosevelt Hospital da Guatemala, um hospital de nível primário localizado na capital. A amostra foi determinada com base na prevalência relatada, que varia de 1,5%, 7,8% e 20%.1,3,4 Um percentual esperado de 9% foi estimado, com erro amostral de 4% e nível de confiança de 95%. Foram incluídos 202 pacientes: 77 mulheres (38,1) e 125 (61,9%) homens. A faixa etária era de 12 a 82 anos, com média de idade de 48,9. As comorbidades mais frequentes eram diabetes em 63 (31,2%), hipertensão em 41 (20,3%), doença renal crônica em 9 (4,5%) e obesidade em 14 (6,9%) indivíduos. Verificou‐se que 12 pacientes apresentavam manifestações cutâneas, estabelecendo‐se que cinco (2,5%) tinham associação direta com SARS‐CoV‐2 (figs. 1‐3), e sete (3,5%) uma relação circunstancial com a infecção viral. No grupo de pacientes com associação direta, não havia outra explicação para a lesão dermatológica. Encontramos um paciente com artrite reacional no joelho (esse paciente apresentava cultura de fluido sinovial estéril e nenhuma outra infecção associada), um paciente com reação urticariforme, um paciente com rash cutâneo eritematoso (que receberam apenas acetaminofen) e dois pacientes com livedo reticular nas pernas. A associação circunstancial baseia‐se no fato de haver lesões relacionadas ao tratamento ou estado imunológico do paciente. Foram encontrados três pacientes com máculas vasculares nos joelhos (esses pacientes estavam em posição prona para melhorar a oxigenação); uma biópsia foi realizada para descartar vasculite, e apenas eritrócitos extravasados foram encontrados. Dois pacientes apresentavam pápulas monomórficas no tórax e na região frontal, mas estavam em uso de metilprednisolona; foi diagnosticada acne por esteroide. Dois pacientes imunossuprimidos (HIV positivo e doença renal crônica) apresentavam vesículas sobre base eritematosa; a distribuição era dermatomal em um caso, e no outro as lesões eram agrupadas. Esses achados são clinicamente consistentes com infecção por vírus da família Herpesviridae. Na literatura, são relatadas lesões vesiculares semelhantes à varicela, com distribuição mais dispersa e difusa e localizadas no tronco.3,5 Portanto, as características clínicas e evolutivas podem ajudar a diferenciar esse tipo de lesão em particular. É muito útil coletar uma amostra da lesão para o teste de reação em cadeia da polimerase (PCR) para identificar o vírus causador.4
A prevalência de lesões cutâneas que observamos foi muito menor do que a encontrada por Recalcati, mas semelhante à relatada por Tammaro.1,3
As manifestações cutâneas encontradas neste estudo são semelhantes às causadas por outros vírus e não se pode concluir que exista uma lesão cutânea patognomônica de SARS‐CoV‐2.
Como relatado anteriormente, não houve qualquer correlação das manifestações dermatológicas com a gravidade da doença causada pelo SARS‐CoV‐2.1,4 O déficit no sistema imunológico pode causar outras infecções; a terapia instituída também pode causar lesões cutâneas, por isso é essencial a realização de estudos detalhados em cada caso para obter um melhor diagnóstico diferencial.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição do autorAzucena Hernández Rousselin: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados.
Conflito de interessesNenhum.