Atualmente, o Brasil e vários outros países estão relatando um rápido aumento dos casos de infecção por Monkeypox ou varíola dos macacos (Mpox), especialmente em homens que fazem sexo com homens (HSH), sem vínculos epidemiológicos aparentes com áreas endêmicas, representando importante problema de saúde pública global.1 Essa doença zoonótica emergente, antes vista apenas na África Ocidental e Central, é causada por um vírus Orthopox transmitido por contato íntimo e gotículas de ar, com possibilidade de disseminação por fluidos sexuais.2,3 Um paciente de 37 anos, identificando‐se como um HSH, apresentou‐se à unidade de pronto atendimento do Hospital Universitário, com erupção cutânea discretamente pruriginosa que havia surgido quatro dias antes, contendo múltiplas pápulas vesiculares ou pústulas eritematosas‐ulceradas em membros, face, tronco, pênis e região perianal, algumas com acentuada umbilicação e crostas centrais (figs. 1 e 2). Ele também apresentava linfadenopatia cervical esquerda. Antes do aparecimento das lesões cutâneas, referia cefaleia, febre baixa e mal‐estar havia dois dias. Não se lembrava de ter tido contato próximo com animais e negava ter viajado para o exterior, mas mencionou algumas relações sexuais sem preservativo nas semanas anteriores. A dermatoscopia mostrou áreas esbranquiçadas sem estrutura, com crostas ou ulcerações centrais acastanhadas e eritema perilesional (figs. 3 e 4).4 Após o exame clínico, foi realizada notificação de caso suspeito de Mpox, e foram realizados exames de sangue e coleta de raspados ou fluido do assoalho das lesões para detecção do DNA viral, utilizando reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT‐ PCR). O paciente recebeu alta hospitalar, com todas as orientações de medidas de isolamento de contato e gotículas. O exame sorológico foi positivo para sífilis (VDRL 1:1024), e também reagente para HIV (teste rápido e imunoensaio); os testes para hepatite B e C não foram reativos; e o ensaio de RT‐PCR para Mpox foi positivo.
Alguns dos sintomas desse paciente, antes do início da antibioticoterapia, também podem ser considerados manifestações concomitantes de sífilis.5 O paciente recebeu prescrição para tratamento de sífilis secundária com penicilina benzatina e foi encaminhado a um infectologista para iniciar o tratamento para a infecção pelo HIV.
Portanto, a disseminação inter‐humana atualmente dominante em HSH com possíveis outras coinfecções de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) é causa válida para melhor conscientização da Mpox em ambientes dermatovenerológicos, pois o paciente pode procurá‐los antes de consultar‐se com outros especialistas. Recentemente, a Mpox está se espalhando rapidamente pelo mundo, principalmente entre HSH. Esses pacientes geralmente têm combinações de várias ISTs. Assim, é necessário considerar o diagnóstico de Mpox em todos os pacientes HSH com erupção cutânea típica e comportamento sexual de risco. Para esses casos, é importante garantir testes acessíveis, rápidos e confiáveis para evitar maior disseminação das doenças. A dermatoscopia pode ser um método diagnóstico complementar muito útil na avaliação de Mpox e outras infecções virais da pele.6,7
Suporte financeiroEsta pesquisa não recebeu nenhum suporte específico de agências de financiamento nos setores público, comercial ou sem fins lucrativos.
Contribuição dos autoresLeandro Ourives Neves: Concepção do artigo; organização do artigo; elaboração do manuscrito; revisão e aprovação da versão final do manuscrito.
Amanda Domingos Cordeiro: Elaboração e redação do manuscrito; revisão e aprovação da versão final do manuscrito.
Bruna Dell’Acqua Cassão Rezende: Elaboração e redação do manuscrito; revisão e aprovação da versão final do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.