Compartilhar
Informação da revista
Vol. 96. Núm. 1.
Páginas 91-93 (1 janeiro 2020)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
12672
Vol. 96. Núm. 1.
Páginas 91-93 (1 janeiro 2020)
Dermatologia Tropical/Infectoparasitária
Open Access
Tinea corporis por Nannizia gypsea: atraso no diagnóstico por apresentação incomum
Visitas
12672
Juliana de Jesus Soaresa,
Autor para correspondência
jujuxsoares@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Nathalie Andrade Sousaa, Luna Azulay‐Abulafiab, Rosane Orofino Costab
a Ambulatório de Dermatologia Geral, Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
b Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (4)
Mostrar maisMostrar menos
Resumo

As infecções fúngicas por dermatófitos podem apresentar‐se com manifestações clínicas incomuns, podendo causar dificuldade diagnóstica. Apresentamos o caso de paciente com infecção cutânea por Nanizzia gypsea, tratada inicialmente de maneira equivocada com corticosteroides tópicos, por diagnóstico errôneo. O paciente obteve cura após tratamento com antifúngico.

Palavras‐chave:
Antifúngicos
Corticosteroides
Fungos
Tinea corporis
Texto Completo

Descreve‐se um caso de paciente do sexo masculino, 43 anos de idade, residente em Jacarepaguá (Rio de Janeiro/RJ), que ao exame dermatológico apresentava, havia cerca de um mês, placa eritematosa discretamente pruriginosa, de aspecto numular, com pústulas periféricas e pelos tonsurados, localizada no antebraço direito. Notava‐se lesão adjacente semelhante e referia início após ter voltado de um sítio no interior do estado do Rio de Janeiro (fig. 1). Foi submetido a tratamento oral com cefalexina e tópico com corticoide, sem melhora. Como hipóteses diagnósticas foram sugeridos esporotricose e piodermite. O fragmento de pele obtido por biópsia cutânea e corado pela HE evidenciou folículo piloso dilatado contendo hifas hialinas em sua porção distal (fig. 2), estas também evidentes na impregnação pela prata, método de Grocott (fig. 3) e coloração pelo PAS. Havia também reação inflamatória na derme superficial com predomínio de mononucleares. A cultura para germes comuns foi negativa. Nannizzia gypsea foi isolada do fragmento de pele, em ágar Mycosel, confirmando o diagnóstico de tinea corporis. Submeteu‐se a tratamento com ciclopiroxolamina spray obtendo cura da lesão após 30 dias (fig. 4).

Figura 1.

Aspecto clínico das lesões: placa eritematosa de aspecto numular, com pústulas periféricas e pelos tonsurados, localizada no antebraço direito, associada à lesão satélite com as mesmas características. Tinea corporis por Nannizia gypsea: atraso no diagnóstico por apresentação incomum.

(0.12MB).
Figura 2.

Corte histológico mostra folículo piloso dilatado e reação inflamatória na derme superficial, com predomínio de mononucleares (Hematoxilina & eosina, 100×).

(0.07MB).
Figura 3.

(A), Folículo piloso dilatado contendo hifas hialinas em seu interior (Hematoxilina & eosina, 400×). (B), Idem, impregnação pela prata, método de Grocott (Grocott, 400×).

(0.27MB).
Figura 4.

Aspecto clínico das lesões 30 dias após tratamento.

(0.09MB).

A prevalência das dermatofitoses causadas por Nannizia gypsea varia de 0,72% a 0,5%.1,2 É possível que a baixa prevalência se deva à reação inflamatória exuberante por ser este um fungo geofílico, não adaptado ao parasitismo humano.3,4 Em geral, a clínica da tinea corporis é bastante característica, com reação inflamatória discreta ou moderada, por vezes vesiculosa ou vesico‐crostosa, na borda de lesão macular, eritematoescamosa.5 Neste caso, a apresentação clínica da lesão não era a típica da dermatofitose do corpo; ao contrário, era uma placa com pústulas. No Rio de Janeiro, devido à hiperendemicidade da esporotricose, esta foi, corretamente, a primeira hipótese. Atualmente, no estado do RJ, as lesões com aspecto infiltrado, sem descamação e que não respondem de início à antibioticoterapia sistêmica são sugestivas de esporotricose.

Os casos de dermatofitose com apresentação clínica atípica, como o relatado, podem ser erroneamente tratados com medicamentos ineficazes ou inadequados, se não houver exames complementares específicos. Corticoides e antibióticos são os mais comuns.6

O tratamento tópico com terbinafina, butenafina, ciclopiroxolamina ou azóis por duas a quatro semanas, na maioria das vezes, é simples, custo‐efetivo e suficiente para a cura.7,8 Deve‐se considerar o tratamento sistêmico com antifúngicos orais, como terbinafina e itraconazol, nos pacientes imunossuprimidos, nas lesões extensas e/ou recorrentes ou nos que não respondem ao uso de medicamentos tópicos.

Com o relato deste caso, pretendemos reforçar a ideia de que complementar o diagnóstico clínico com exames laboratoriais específicos que excluam ou confirmem os diagnósticos clínicos hipotéticos iniciais pode evitar tratamentos desnecessários e onerosos, que muitas vezes prolongam o sofrimento dos pacientes.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Juliana de Jesus Soares: Elaboração e redação do manuscrito.

Nathalie Andrade Sousa: Elaboração e redação do manuscrito.

Luna Azulay‐Abulafia: Revisão crítica do manuscrito.

Rosane Orofino Costa: Revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
M. Kobayashi, H. Kitahara, T. Yaguchi, T. Sato.
A case of tinea corporis on the arm caused by Nannizzia gypsea with dermatoscopic images.
J Dtsch Dermatol Ges., 16 (2018), pp. 784-786
[2]
P.H.O.H. Sun.
Concentric rings: an unusual presentation of tinea corporis caused by Microsporum gypseum.
[3]
T. Demitsu, T. Yamada, N. Unemoto, M. Kakurai, T. Maeda, K. Harada, et al.
Disseminated dermatophytosis due to Nannizzia gypsea (Microsporum gypseum) in an elderly patient.
J Dermatol., 46 (2019), pp. 169-170
[4]
B.S. Souza, D.S. Sartori, C. Andrade, E. Weisheimer, A.E. Kiszewski.
Dermatofitose causada por Microsporum gypseum em lactentes: relato de quatro casos e revisão da literatura.
An Bras Dermatol., 91 (2016), pp. 825-827
[5]
M. Dolenc-Voljč, J. Gasparič.
Human Infections with Microsporum gypseum Complex (Nannizzia gypsea) in Slovenia.
Mycopathologia., 182 (2017), pp. 1069-1075
[6]
A.H. Soankasina, N. Rakotozandrindrainy, S. Andrianteloasy, N.J. Zafindraibe, T. Rasamoelina, C. Rafalimanana, et al.
Dermatophyte infection caused by Nannizzia gypsea: A rare case report from Madagascar.
Med Mycol Case Rep., 20 (2017), pp. 7-9
[7]
M. Skerlev, P. Miklić.
The changing face of Microsporum spp infections.
Clinics In Dermatology., 28 (2010), pp. 146-150
[8]
C.A.A. Pires, N.F.S. Cruz, A.M. Lobato, P.O. Sousa, F.R.O. Carneiro, A.M.D. Mendes.
Perfil clínico, epidemiológico e terapêutico das dermatofitoses.
An Bras Dermatol., 91 (2014), pp. 264-269

Como citar este artigo: Soares JJ, Sousa NA, Azulay‐Abulafia L, Costa RO. Tinea corporis by Nannizia gypsea: delayed diagnosis due to unusual presentation. An Bras Dermatol. 2021;96:91–3.

Trabalho realizado no Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.