Compartilhar
Informação da revista
Vol. 98. Núm. 3.
Páginas 396-398 (1 maio 2023)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
6021
Vol. 98. Núm. 3.
Páginas 396-398 (1 maio 2023)
Cartas ‐ Caso clínico
Acesso de texto completo
Morfeia após vacina contra SARS‐CoV‐2
Visitas
6021
Giovanni Paolinoa, Matteo Ricardo Di Nicolaa,
Autor para correspondência
dinicola.matteo@hsr.it

Autor para correspondência.
, Nathalie Rizzob, Santo Raffaele Mercuria
a Unidade de Dermatologia e Cosmetologia, IRCCS San Raffaele Hospital, Milão, Itália
b Patologia Cirúrgica, IRCCS San Raffaele Hospital, Milão, Itália
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (2)
Texto Completo
Prezado Editor,

Juntamente com o aumento da administração de vacinas contra COVID‐19, nos últimos meses, a detecção de possíveis reações cutâneas adversas aumentou, destacando a possibilidade de que não apenas a infecção por SARS‐CoV‐2, mas também as vacinas contra COVID‐19 possam induzir manifestações cutâneas.1,2 A esse respeito, reações de hipersensibilidade do tipo I (p. ex., urticária, angioedema e anafilaxia) e reações de hipersensibilidade do tipo IV (p. ex., reações inflamatórias no local da injeção, erupções cutâneas morbiliformes e semelhantes a eritema multiforme) são as mais comumente observadas; também foram observadas reações semelhantes a pitiríase rósea, reativações de herpes‐zóster e angiopatias funcionais (p. ex., lesões semelhantes a frieiras e eritromelalgia).2 Por outro lado, há dados muito limitados sobre doenças cutâneas autoimunes após a vacina contra SARS‐CoV‐2.2 Que seja de conhecimento dos autores, embora existam poucos casos de morfeia induzida pela infecção por COVID‐19 descritos na literatura, é relatado aqui o primeiro caso de morfeia generalizada induzida por uma vacina de mRNA contra a COVID‐19.4

A paciente do sexo feminino, 61 anos, caucasiana, procurou o serviço de dermatologia com história de 10 placas simétricas, esbranquiçadas, xeróticas e escleróticas, com três meses de evolução, com diâmetro variando entre 5 e 12cm, localizadas na região abdominal, membros inferiores, dorso e membros superiores (figs. 1A‐B e 2A). A dermatoscopia de uma das lesões mostrou proeminentes feixes fibróticos esbranquiçados (fig. 2A). A história familiar e pessoal da paciente era negativa para doenças autoimunes e inflamatórias crônicas da pele. Ela nunca havia apresentado fenômeno de Raynaud, não apresentava esclerodactilia, nem acometimento facial ou acometimento de pregas ungueais. A paciente relatou que as primeiras lesões surgiram na região abdominal 15 dias após a primeira dose da vacina Comirnaty‐Pfizer® SARS‐CoV‐2, e as lesões cresceram em número e tamanho 15 dias após a segunda dose da vacina. As lesões cutâneas surgiram inicialmente como placas eritematosas e pruriginosas, tornando‐se posteriormente esbranquiçadas e escleróticas. Foi realizada biópsia cutânea de uma lesão no abdome. A histopatologia mostrou espessamento e hialinização do tecido conjuntivo da derme profunda e gordura subcutânea, com atrofia das estruturas anexiais, aumento de fibroblastos e colágeno denso na derme profunda (fig. 2B). As investigações laboratoriais mostraram presença de anticorpos antinucleares (1:160 em padrão homogêneo), presença de anticorpos contra o domínio de ligação ao receptor SARS‐CoV‐2 em 113 U/mL (valores normais: <80 U/mL), enquanto anticorpos para antígenos nucleares extraíveis foram negativos. Com base na correlação clinicopatológica, estabeleceu‐se diagnóstico final de morfeia generalizada (MG) e foi iniciada terapia com creme de propionato de clobetasol a 0,05%, associada a tratamento sistêmico com metotrexato 7,5mg/semana, com dose única de 5mg de ácido fólico, 1 ×/semana.

Figura 1.

(A) Placas simétricas, esbranquiçadas, cor de marfim, xeróticas e escleróticas, com diâmetro ≥ 3cm. (B) Placa cutânea esbranquiçada e esclerótica com aspecto de “papel de cigarro” na região dorsal da paciente.

(0.4MB).
Figura 2.

Placas esbranquiçadas e escleróticas localizadas no abdome e região inguinal. (A) Detalhe inferior esquerdo: dermatoscopia evidenciando feixes fibróticos esbranquiçados proeminentes e perda de pelos na área afetada. (B) Histopatologia exibindo espessamento e hialinização do tecido conjuntivo da derme profunda e hipoderme, com atrofia das estruturas anexiais, aumento de fibroblastos e colágeno denso na derme profunda (Hematoxilina & eosina, 50×).

(0.39MB).

A MG é caracterizada por mais de quatro placas, medindo pelo menos 3cm, que envolvem duas ou mais regiões anatômicas e difere da esclerodermia pela ausência de fenômeno de Raynaud, esclerodactilia, envolvimento facial, envolvimento de pregas ungueais e autoanticorpos específicos.3 No presente caso, o início da MG pode ser justificado pelo fato de que as vacinas podem ocasionalmente causar um novo surto de doenças autoimunes. De fato, a proteína spike da vacina SARS‐CoV‐2 compartilha semelhanças genéticas com proteínas humanas, e é fator importante que pode desencadear doenças autoimunes após a vacinação em decorrência do mimetismo molecular e da geração de linfócitos autorreativos.2 Ao mesmo tempo, embora o aparecimento de doenças cutâneas após vacinas contra a COVID‐19 possa representar associação de causalidade, o número muito grande de casos que receberam vacinas SARS‐CoV‐2 durante os últimos meses pode induzir a vieses,2 associando também com vacinas manifestações cutâneas que poderiam ter ocorrido independentemente. Desse modo, este é um dos poucos casos de MG surgindo após a vacina SARS‐CoV‐2, e outros casos são necessários para avaliar melhor a possível associação de MG com essa vacinação. O relato de possíveis efeitos colaterais das vacinas contra a COVID‐19 é importante para a prática clínica diária; ao mesmo tempo, até o momento, as vacinas contra a COVID‐19 mantêm alto perfil de segurança e, portanto, a população não deve ser desencorajada a se vacinar.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Giovanni Paolino: Concepção e planejamento do estudo; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; aprovação da versão final do manuscrito.

Matteo Ricardo Di Nicola: Redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; aprovação da versão final do manuscrito.

Nathalie Rizzo: Concepção e planejamento do estudo; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; aprovação da versão final do manuscrito.

Santo Raffaele Mercuri: Concepção e planejamento do estudo; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; aprovação da versão final do manuscrito.

Nathalie Rizzo e Santo Raffaele Mercuri dividem a coautoria final.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
F. Pigliacelli, A. Pacifico, M. Mariano, A. D’Arino, A. Cristaudo, P. Iacovelli.
Morphea induced by SARS‐CoV‐2 infection: A case report.
Int J Dermatol., 61 (2022), pp. 377-378
[2]
T. Gambichler, S. Boms, L. Susok, H. Dickel, C. Finis, N.A. Rached, et al.
Cutaneous findings following COVID‐19 vaccination: review of world literature and own experience.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 36 (2022), pp. 172-180
[3]
Z. Lotfi, A. Haghighi, A. Akbarzadehpasha, S. Mozafarpoor, A. Goodarzi.
Pansclerotic Morphea Following COVID‐19: A Case Report and Review of Literature on Rheumatologic and Non‐rheumatologic Dermatologic Immune‐Mediated Disorders Induced by SARS‐CoV‐2.
Front Med (Lausanne)., 8 (2021), pp. 728411
[4]
G. Paolino, C. Campochiaro, Di Nicola, S.R. Mercuri, N. Rizzo, L. Dagna, et al.
Generalized morphea after COVID‐19 vaccines: a case series.
J Eur Acad Dermatol and Venereol., 36 (2022),

Como citar este artigo: Paolino G, Di Nicola MR, Rizzo N, Mercuri SR. Morphea after SARS‐CoV2 vaccine. An Bras Dermatol. 2023;98:400–2.

Trabalho realizado no IRCCS San Raffaele Hospital, Milão, Itália.

Copyright © 2023. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.