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Vol. 98. Núm. 3.
Páginas 398-400 (1 maio 2023)
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Vol. 98. Núm. 3.
Páginas 398-400 (1 maio 2023)
Cartas ‐ Caso clínico
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Caso para diagnóstico. Placas infiltradas múltiplas em paciente com coinfecção pelo vírus da imunodeficiência humana e da hepatite C: lichen myxedematosus
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Nathalia Hoffmann Guardaa,
Autor para correspondência
hofgan@pitt.edu

Autor para correspondência.
, Renan Rangel Bonamigoa,b, Renata Hecka
a Ambulatório de Dermatologia Sanitária, Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
b Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
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Prezado Editor,

Paciente do sexo masculino, 45 anos, tabagista, com diagnóstico de infecção pelo vírus do HIV e vírus da hepatite C (HCV) havia três anos. Em tratamento regular com terapia antirretroviral (ritonavir, tenofovir e atazanavir), carga viral indetectável e contagem de células CD4 534 células/mm3. Ainda sem tratamento para hepatite C. Queixava‐se de lesões cutâneas com dois anos de evolução e piora significante nos últimos meses, com prurido local. Ao exame, presença de pápulas e placas eritematosas, infiltradas, localizadas na região glútea bilateralmente, também presentes na região abdominal esquerda, região cervical e dorsal superior (figs. 1, 2 e 3). Realizou exames laboratoriais que evidenciaram TGO 82 U/L, TGP 115 U/L, GGT 131 U/L, fosfatase alcalina 83 U/L, bilirrubinas totais 1,28 mg/dL, glicemia de jejum 103 mg/dL. Os demais exames laboratoriais estavam dentro do limite da normalidade: Hb 15,3 g/dL, leucócitos 5800mm3, plaquetas 205.000mm3, TSH 2,51 UI/mL, T4 livre 1,08 μg/dL, Cr 0,79 mg/dL, FAN não reagente, fator reumatoide não reagente, proteinograma sem picos monoclonais. O paciente realizou biópsia cutânea que evidenciou depósitos de mucina abundantes na derme superior e média (fig. 4).

Figura 1.

Placas eritematosas, confluentes, com aspecto infiltrado na região glútea bilateral.

(0.18MB).
Figura 2.

Placa eritematosa com centro papular na região abdominal esquerda.

(0.18MB).
Figura 3.

Pápulas eritematosas e esbranquiçadas no dorso superior e cervical posterior.

(0.22MB).
Figura 4.

(A) Depósitos de mucina na derme superior e média, sem proliferação fibroblástica associada, ausência de material amiloide (Hematoxilina & eosina, 40×). (B) Depósito de mucina evidenciado (Alcian Blue, 40×).

(0.6MB).
Qual o seu diagnóstico?

a. Líquen amiloide;

b. Líquen mixedematoso;

c. Colagenoma eruptivo;

d. Granuloma anular.

Discussão

Por meio da correlação clínico‐patológica, o diagnóstico de líquen mixedematoso foi firmado. O paciente foi orientado a manter o tratamento com terapia antirretroviral, e a iniciar tratamento para a hepatite C.

O líquen mixedematoso (LM) é um subtipo de mucinose, raro, crônico, que clinicamente manifesta‐se por pápulas, nódulos ou placas restritas à pele. É caracterizado pela proliferação de fibroblastos, com graus variados de fibrose e pelo depósito de mucina na derme, na ausência de doença tireoidiana.1–3 Sua etiopatogenia é desconhecida; porém, sabe‐se que uma variedade de condições clínicas tem sido associada ao LM, como a infecção pelos vírus HIV, HCV, além de exposição a químicos como o L‐triptofano.2–7

A classificação atual das mucinoses foi proposta por Rongioletti et al. e divide as mucinoses papulares em escleromixedema, variante com acometimento sistêmico e associada a paraproteinemias, e o LM papular localizado. O LM localizado é dividido em cinco subtipos: mucinose papular discreta, mucinose papular persistente acral, mucinose cutânea com cura espontânea, mucinose papular juvenil e mucinose papular nodular.1,6 Casos atípicos com sobreposição de subtipos e com características distintas podem ocorrer.1,6 Nosso paciente pode ser classificado como apresentando LM papular localizado do subtipo mucinose papular discreta.

Os critérios diagnósticos incluem erupção cutânea papular, deposição de mucina e grau variável de proliferação de fibroblastos no exame histopatológico, além de ausência de gamopatia, doença tireoidiana ou acometimento sistêmico.4 O exame histopatológico revela a deposição de mucina predominantemente na derme média e superior.3 O diagnóstico diferencial do LM inclui granuloma anular, líquen amiloide, erupções liquenoides, líquen plano, colagenoma eruptivo.4

Não há tratamentos bem definidos na literatura, e a abordagem recomendada é apenas observação clínica.3,4 Em geral, o prognóstico é bom, mesmo sem tratamento específico e, em raros casos, pode ocorrer a resolução espontânea.3,8 Não há descrição, até o momento, da evolução de quadros localizados para quadros de escleromixedema. Os corticosteroides e inibidores da calcineurina tópicos são utilizados para alívio dos sintomas.3

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Nathalia Hoffmann Guarda: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Renan Rangel Bonamigo: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Renata Heck: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
F. Rongioletti, A. Rebora.
Updated classification of papular mucinosis, lichen myxedematosus, and scleromyxedema.
J Am Acad Dermatol., 44 (2001), pp. 273-281
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Widespread papules in a patient with human immunodeficiency virus.
Papular mucinosis (PM) in association with HIV infection. Clin Exp Dermatol., 35 (2010), pp. 801-802
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J. Alves, D. Matos, M. Capitão-Mor.
Primary cutaneous mucinoses – a clinicopathological review.
J Port Soc Dermatol Venereol., 71 (2013), pp. 467-475
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F. Rongioletti.
Lichen myxedematosus (papular mucinosis): new concepts and perspectives for an old disease.
Semin Cutan Med Surg., 25 (2006), pp. 100-104
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F. Rongioletti, C. Ghigliotti, R. De Marchi, A. Rebora.
Cutaneous mucinoses and HIV infection.
Br J Dermatol., 139 (1998), pp. 1077-1079
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M.B. Volpato, T.J. Jaime, M.P. Proença, A.C. Gripp, M.F.G.S. Alves.
Papular mucinosis associated with hypothyroidism.
An Bras Dermatol., 85 (2010), pp. 89-92
[7]
H. Banno, H. Takama, Y. Nitta, T. Ikeya, Y. Hirooka.
Lichen myxedematosus associated with chronic hepatitis C.
Int J Dermatol., 39 (2000), pp. 212-214
[8]
F. Depaire-Duclos, F. Renuy, M. Dandurand, B. Guillot.
Papular mucinosis with rapid spontaneous regression in an HIV‐infected patient.
Eur J Dermatol., 8 (1998), pp. 353

Como citar este artigo: Guarda NH, Bonamigo RR, Heck R. Case for diagnosis. Multiple infiltrated plaques in a patient with human immunodeficiency virus and hepatitis C co‐infection: lichenmyx edematosus. An Bras Dermatol. 2023;98:403–5.

Trabalho realizado no Ambulatório de Dermatologia Sanitária, Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

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