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Vol. 97. Núm. 6.
Páginas 742-746 (1 novembro 2022)
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Vol. 97. Núm. 6.
Páginas 742-746 (1 novembro 2022)
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Microscopia eletrônica de transmissão de pili annulati
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Joice Brião Göebel Pintoa, Hiram Larangeira de Almeida Jr.a,b,
Autor para correspondência
hiramalmeidajr@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Antonia Larangeira de Almeidac,d, Pedro de Oliveira Firpod
a Programa de Pós‐Graduação em Ciências da Saúde, Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil
b Departamento de Dermatologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil
c Liga de Dermatologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil
d Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil
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Resumo
Fundamentos

Pouco se sabe sobre a ultraestrutura do pili annulati.

Objetivos

Examinar com microscopia eletrônica de transmissão os cabelos afetados de uma família, cujo diagnóstico havia sido confirmado em cinco indivíduos com microscopia eletrônica evidenciando ondulações superficiais na cutícula capilar em “dobras de cortina” e comparar com controle normal.

Métodos

Cabelos de dois pacientes afetados e um controle foram embebidos em resina e cortados longitudinalmente para produzir seções ultrafinas.

Resultados

O cabelo normal apresentou arranjo paralelo de linhas escuras associadas a bandas largas menos eletrodensas. Pequenas cavidades puderam ser observadas, principalmente nas linhas escuras; os cabelos afetados apresentavam grande número de cavidades, associadas ou não à inserção de melanossomas e perda de paralelismo das linhas escuras. Maiores aumentos mostraram perda significativa desse paralelismo, lembrando “ranhuras de madeira”. Linhas escuras alargadas foram observadas em algumas áreas.

Limitações do estudo

Apenas alguns fios de cabelos foram examinados.

Conclusões

Nossos resultados sugerem que os microcanalículos da superfície do cabelo, facilmente encontrados à microscopia eletrônica de varredura, podem ser secundários não somente às cavidades observadas nos cortes, mas também ao desarranjo das proteínas que formam essa região, evidenciado pelas alterações das linhas escuras do córtex.

Palavras‐chave:
Microscopia eletrônica de transmissão
Microscopia eletrônica de varredura
Pili annulati
Texto Completo
Introdução

Pili annulati (PA) é alteração incomum da haste capilar. Caracteriza‐se pela alternância de faixas claras e escuras ao longo da haste do cabelo, que aparece brilhante e manchada, e é mais comumente transmitida como doença autossômica dominante. Essa aparência pode resultar de cavidades cheias de ar dentro do córtex da haste do cabelo 1,2 reveladas na microscopia eletrônica de transmissão (MET).3,4

A microscopia eletrônica de varredura (MEV) mostra ondulações superficiais com dobras “semelhantes a cortina” da cutícula capilar.3,5 Associação com alopecia areata, distúrbios autoimunes da tireoide, bem como deficiência primária de imunoglobulina A foram relatadas, mas uma verdadeira associação patogênica com PA não foi estabelecida.6,7 Alguns casos revelaram fragilidade capilar, principalmente relacionada a danos externos ao cabelo afetado anteriormente.8

Examinamos amostras de cabelo de cinco indivíduos afetados de uma família que apresentavam bandas claras e escuras alternadas características (fig. 1a). A condição foi relatada primeiro pelos cabeleireiros, enquanto os indivíduos estavam cortando o cabelo. O padrão de herança era autossômico dominante, e os pacientes não apresentavam comorbidades associadas nem fragilidade capilar. Áreas mais claras e mais escuras foram observadas nas hastes capilares na microscopia óptica (fig. 1b). O exame com luz polarizada mostrou áreas com birrefringência (fig. 1c). O diagnóstico foi confirmado em todos os cinco pacientes com MEV, que mostrou ondulações superficiais da cutícula capilar com dobras “semelhantes a cortina” (fig. 1d).

Figura 1.

(a) Aspecto clínico na tricoscopia. (b) Microscopia óptica com área discreta mais clara (seta) – 150×. (c) Microscopia com luz polarizada mostrando área com birrefringência (seta). (d) Microscopia eletrônica de varredura ‐ pregueamento “em cortina” da cutícula (1.200×).

(0.74MB).
Métodos

Os cabelos de dois pacientes afetados e um controle foram embebidos em resina e cortados longitudinalmente para produzir seções ultrafinas do córtex da haste capilar para serem examinadas por MET.

Resultados

Espécimes de fios de cabelo do controle não afetado mostraram um arranjo paralelo de linhas escuras associado a bandas largas menos eletrodensas (fig. 2a‐c). Pequenas cavidades foram observadas, principalmente nas linhas escuras (fig. 2b‐d). Essas cavidades ocorrem de maneira espontânea (fig. 2b e d) ou em áreas de inserção dos melanossomas, que geralmente são observados nas linhas escuras (fig. 2c e d).

Figura 2.

Microscopia eletrônica de transmissão ‐ controle normal com um arranjo paralelo de linhas escuras com bandas largas menos eletrodensas (a e b). Pequenas cavidades foram observadas, principalmente nas linhas escuras (b‐d). Essas cavidades ocorrem espontaneamente (b e d), ou em áreas onde os melanossomas estão inseridos (c e d; 15.000×).

(0.89MB).

O aumento menor revelou que o primeiro paciente afetado apresentava grande número de cavidades, associadas ou não à inserção de melanossomas (fig. 3a e b) e perda do paralelismo das linhas escuras. Aumento maior mostrou perda significativa desse paralelismo, assemelhando‐se a “ranhuras de madeira” (fig. 3c). Indentações foram observadas na cutícula perto da superfície (fig. 3d).

Figura 3.

Microscopia eletrônica de transmissão do primeiro caso ‐ menor aumento com grande quantidade de cavidades, associadas ou não à inserção de melanossomas (a e b) e perda do paralelismo das linhas escuras (8.000×e 15.000×). Detalhe da perda de paralelismo das linhas escuras, lembrando “ranhuras de madeira” (setas, c). Indentação na cutícula (seta, d; 15.000×).

(0.57MB).

O segundo paciente afetado também apresentou perda significativa do paralelismo das linhas escuras (fig. 4a e b), também lembrando “ranhuras de madeira”, com pequenas cavidades não associadas aos melanossomas (fig. 4a‐c). Linhas escuras alargadas foram observadas em algumas áreas (fig. 4c e d).

Figura 4.

Microscopia eletrônica de transmissão ‐ perda significativa do paralelismo das linhas escuras (a e b), também lembrando “ranhuras de madeira”, com pequenas cavidades não associadas à inserção dos melanossomas (20.000×e 25.000×). Linhas escuras alargadas e cavidades (setas; c e d; 25,000×).

(0.59MB).
Discussão

As hastes capilares são tecidos de difícil processamento para microscopia eletrônica devido a quebras frequentes e artefatos de imagem,9 razão pela qual há poucas informações sobre MET em doenças capilares.

Foram obtidas hastes de cabelo de um controle não afetado, mostrando paralelismo das bandas largas claras e bandas estreitas escuras no córtex regular. Esse achado foi descrito anteriormente como linhas seguindo o “eixo da haste capilar”.10 Algumas cavidades são encontradas no córtex capilar normal.

As cavidades cheias de ar ao longo do córtex capilar são bem conhecidas na análise por MET do PA.6–8 Essas cavidades foram encontradas em maior número quando comparadas ao cabelo não afetado e aparecem isoladas ou associadas à inserção de melanossomas. Entretanto, outro achado importante nos cabelos afetados foi o arranjo irregular das linhas escuras do córtex, lembrando “ranhuras de madeira”; essas linhas às vezes eram alargadas.

Indentações na cutícula não danificada adjacentes às cavidades foram descritas anteriormente utilizando microscopia eletrônica;6,8 entretanto, a maioria dos estudos utilizou cortes transversais da estrutura interna da haste capilar,8 dificultando a comparação com os achados em cortes longitudinais do presente estudo.

A MEV mostra um padrão intermitente de ondulações longitudinais com dano variável à cutícula, mencionado por alguns autores como uma aparência de “calçamento de pedras”4,6 ou “semelhante a cortina”.5 Essas ondulações provavelmente correspondem às regiões subjacentes às alterações corticais.8

Os resultados do presente estudo sugerem que os microcanalículos da superfície da haste capilar, facilmente encontrados com MEV, podem ser secundários não somente às cavidades observadas nos cortes, mas também ao desarranjo das proteínas que formam essa região, evidenciado pelas alterações das linhas escuras do córtex, que perderam seu paralelismo normal e aparecem alargadas.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Joice Brião Göebel Pinto: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica dos casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.

Hiram Larangeira de Almeida Jr.: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.

Antonia Larangeira de Almeida: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.

Pedro de Oliveira Firpo: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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F. Sakamoto, M. Ito, R. Saito.
Ultrastructural study of acquired pili torti‐like hair defects accompanying pseudopelade.

Como citar este artigo: Pinto JB, Almeida Jr HL, Almeida AL, Firpo PO. Transmission electron microscopy of pili annulati. An Bras Dermatol. 2022;97:742–6.

Trabalho realizado no Programa de Pós‐Graduação em Saúde e Comportamento, Universidade Católica de Pelotas e na Liga de Dermatologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Brasil.

Copyright © 2022. Sociedade Brasileira de Dermatologia
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