Monkeypox, ou varíola dos macacos, é doença endêmica da África Central e Ocidental causada pelo vírus Monkeypox, membro do gênero Orthopoxvirus. A doença foi diagnosticada pela primeira vez em humanos em 1970, em um bebê no Zaire1 e, desde então, casos em pessoas fora da África têm sido frequentemente associados a viagens internacionais ou contato com animais importados.2,3 Recentemente, um surto de varíola dos macacos ocorreu em todo o mundo.4 Na região europeia, em 22 de junho de 2022, os European Centres for Disease Control identificaram um total de 2.746 casos em 29 países, incluindo a República da Sérvia.5 Aqui, os autores relatam um caso de varíola dos macacos com erupção genital, simulando infecção sexualmente transmissível.
Um homem de 35 anos foi encaminhado ao Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis para avaliação de erupção genital dolorosa que havia aparecido cinco dias antes e foi seguida por febre. A história pessoal do paciente mostrou que a febre e lesões na pele apareceram cinco dias após relação anal desprotegida com um parceiro masculino desconhecido na Alemanha. Ele apresentava história pessoal de herpes genital e nenhuma outra infecção sexualmente transmissível. O exame físico revelou múltiplas pápulas firmes, profundas e bem circunscritas, com umbilicação central na região púbica e na diáfise do pênis. As lesões eram relativamente do mesmo tamanho e apresentavam o mesmo estágio de desenvolvimento, cercadas por halo eritematoso, seguido por edema de linfonodos na região inguinal. O exame físico não revelou outras lesões cutâneas/mucosas. O paciente não apresentava comorbidades. Os exames sorológicos para sífilis (Venereal Disease Research Laboratory – VDRL e Treponema Pallidum Hemaglutination Assay – TPHA) e HIV foram negativos. Foi tratado com uma dose oral única de azitromicina 1g e no dia seguinte a febre desapareceu. No quarto dia, as lesões apresentavam crostas (fig. 1) e ainda eram dolorosas. Como as doenças sexualmente transmissíveis haviam sido excluídas e havia suspeita de varíola dos macacos, o paciente foi encaminhado para a Clínica de Doenças Infecciosas, onde foram coletados swabs das lesões de pele e a reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real confirmou varíola dos macacos. O paciente foi tratado com terapia sintomática e hospitalizado por cinco dias. Depois disso, ficou isolado em casa. Todas as lesões cutâneas regrediram completamente em cinco semanas.
O período de incubação da infecção pelo vírus monkeypox é de uma a duas semanas. Logo após o pródromo (febre, dor de cabeça, mal‐estar, linfadenopatia) aparece uma erupção com distribuição centrífuga (face, braços, pernas, incluindo palmas e plantas) passando por diferentes estágios (pápulas, vesículas, pústulas, crostas) antes da cicatrização. A infecção pode ser transmitida por gotículas respiratórias, contato físico próximo, incluindo relações sexuais, e por contato com fômites.4,6 Os pacientes são infectantes quando os sintomas se iniciam e permanecem infectantes até que todas as lesões cutâneas sejam resolvidas.
O surto de varíola dos macacos na região europeia acomete homens entre 31 e 40 anos, predominantemente aqueles que fazem sexo com homens.5 Embora os casos fora das regiões endêmicas estejam frequentemente ligados a viagens internacionais, neste surto não há ligações com viagens para a África. A transmissão de humano para humano ocorre por contato direto, inclusive durante o sexo, como descrito no presente caso. As apresentações clínicas neste surto são incomuns, com lesões na região anogenital e sintomas prodrômicos leves. Portanto, a doença pode ser confundida com infecções sexualmente transmissíveis (sífilis secundária, herpes genital, cancro mole) ou infecção pelo vírus varicela‐zoster.4 Isso reforça a importância dos dermatologistas em serviços ambulatoriais na identificação e isolamento precoce dos casos com pronto rastreamento dos contatos. Os dermatologistas devem permanecer vigilantes; embora a varíola dos macacos não seja uma doença venérea clássica, pode ser transmitida durante a relação sexual.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresMilan Bjekic: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; elaboração e redação do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.
Milica Markovic: Revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.
Lidija Dejanovic: Participação efetiva na orientação da pesquisa; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.