A pele pode sinalizar doenças internas, como neoplasias viscerais. Qualquer tumor tem o potencial de causar metástases para a pele, o que pode ocorrer por via linfática, hematogênica, por contiguidade ou por iatrogenia. Os nódulos subcutâneos podem ter diferentes etiologias, como inflamatórias, infecciosas ou neoplásicas. As metástases cutâneas ocorrem entre 1% e 9% dos casos de malignidades e cerca de 10% afetam a região umbilical.1,2
A metástase para a cicatriz umbilical foi descrita como nódulo da Irmã Mary‐Joseph. Trata‐se de protuberância palpável, indolor, cuja cor varia de violácea a marrom‐avermelhado, podendo se assemelhar a uma estrutura vascular.2 A origem principal são as vísceras abdominais e pélvicas; o trato gastrintestinal é o sítio mais comum no sexo masculino, e o ginecológico, no sexo feminino, em particular o tumor ovariano. Em 75% dos casos o adenocarcinoma é o tipo histológico mas frequente.3
Paciente do sexo feminino de 45 anos, com lesões nodulares indolores na região umbilical e periumbilical havia seis meses, associadas a perda ponderal e dor abdominal. Clinicamente, apresentava‐se hipocorada, emagrecida, com abdome globoso, ascítico, massa abdominal na região pélvica e nódulos castanho‐violáceos com superfície úlcero‐necrótica e consistência endurecida no umbigo e na região periumbilical (fig. 1). Na ultrassonografia abdominal, ovário esquerdo aumentado, nódulos sugestivos de implantes peritoneais e hepáticos (fig. 2). No histopatológico de uma das lesões periumbilicais, observou‐se tecido neoplásico constituído por glândulas atípicas revestidas por epitélio cilíndrico alto e núcleos basais, associados a material mucinoso, compatível com adenocarcinoma mucinoso metastático (fig. 3). Na imuno‐histoquímica, positividade forte e difusa com os anticorpos anti‐CK20 CEA e p16; positividade focal com CA125 e imunonegatividade com receptor de estrogênio e CK7. O perfil histoquímico CK20 positivo e CK7 negativo favorece metástase ovariana variante intestinal, configurando neoplasia maligna de ovário metastática. Após diagnóstico, a paciente foi encaminhada ao serviço de oncologia, porém evoluiu para óbito após um mês.
Tecido neoplásico constituído por glândulas atípicas revestidas por epitélio cilíndrico alto e núcleos basais associados a material mucinoso; diagnóstico: adenocarcinoma mucinoso metástatico. (Hematoxilina & eosina, 40×). No detalhe, células glandulares altas e células caliciformes sobre epitélio escamoso estratificado (Hematoxilina & eosina, 400×).
É fundamental conhecer as causas de nódulos umbilicais, uma vez que a manifestação cutânea pode representar uma oportunidade para se chegar ao diagnóstico da lesão primária. Alguns diagnósticos diferenciais são: endometriose cutânea, granuloma piogênico, melanoma, carcinoma de células escamosas/basocelular e hérnia umbilical.3 A biópsia é um procedimento de baixo risco em comparação ao seu alto rendimento; possibilita o diagnóstico precoce, buscando reduzir a morbimortalidade. A histopatologia da lesão complementada pela imuno‐histoquímica deve ser realizada sempre que possível, uma vez que pode determinar a origem tumoral ou orientar a pesquisa clínica e por imagem do sítio primário. Metástases com características microscópicas glandulares impõem o diagnóstico diferencial entre várias neoplasias primárias. Os painéis CK7−CK20+, CK7+CK20+e CK7−CK20−indicam em geral tumores que incluem bexiga, trato gastrintestinal, pâncreas e raros tumores ovarianos.
Achados semelhantes aos do caso em questão (CK7+, CK20−) correspondem a tumores primitivos que podem estar localizados na mama, pulmão, tireoide e tumores ginecológicos. Anticorpos específicos foram utilizados excluindo adenocarcinoma de outras origens e indicando ovário como a mais forte possibilidade da origem primária das metástases umbilicais. Por fim, é importante salientar que, na presença de nódulos umbilicais, deve‐se pensar na possibilidade de metástases cutâneas.4
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresIvonne Dannesy Rodriguez Hernandez: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito
Patricia de Franco Marques Ferreira: aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Paula Dadalti Granja: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Mayra Carrijo Rochael: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.