Journal Information
Vol. 99. Issue 3.
Pages 462-464 (1 May 2024)
Visits
2884
Vol. 99. Issue 3.
Pages 462-464 (1 May 2024)
Cartas ‐ Caso clínico
Full text access
Facomatose cesio‐flammea‐marmorata: relato desta rara associação
Visits
2884
Luciane Zagonel
Corresponding author
dra.zagonel@gmail.com

Autor para correspondência.
, Mônica Vannucci Nunes Lipay, Glaucos Ricardo Paraluppi, Célia Antônia Xavier de Moraes Alves
Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, SP, Brasil
This item has received
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (2)
Full Text
Prezado Editor,

Facomatose pigmento vascular (PPV) é anomalia congênita rara caracterizada pela presença de lesões vasculares e pigmentares. Apresentamos um caso de rara associação de cútis marmorata telangectásica congênita, nevus flammeus e manchas mongólicas aberrantes. Esses achados não permitem o enquadramento em nenhuma classificação de PPV, exceto na denominação proposta de facomatose cesio‐flammea‐marmorata.1

Bebê nascido pré‐termo tardio, de gestação gemelar dicoriônica e diamniótica, pais não consanguíneos, mãe teve quadro SARS‐CoV‐2 durante gestação; parto e gestação sem intercorrência. Irmão gêmeo sem alterações. Apresentava desde o nascimento lesão eritematosa acometendo quase a totalidade da face, compatível com nevus flammeus, eritema em padrão reticular em hemicorpo à direita com nítida demarcação em linha média anterior, compatível com cútis telangectásica marmorata congênita, extensas máculas azul‐acinzentadas nos membros inferiores, glúteos e dorso, compatíveis com manchas mongólicas. Apresentava, ainda, escleras acinzentadas bilateralmente e discreta assimetria na circunferência de membros inferiores. As lesões vasculares se tornavam mais intensas ao choro ou exposição ao frio (figs. 1 e 2).

Figura 1.

Aos 28 dias, cútis telangectásica congênita, manchas mongólicas aberrantes e nevus flammeus na face.

(0.2MB).
Figura 2.

Aos 6 meses de vida, extensas manchas mongólicas. Escleras acinzentas.

(0.17MB).

Realizados ecocardiograma, ultrassonografia transfontanela e abdominal, sem alterações. Avaliação neurológica, oftálmica e ortopédica, sem anormalidades. Ultrassom dermatológico identificou hipoplasia de tecido subcutâneo na perna direita em comparação ao membro contralateral.

O sequenciamento completo de exoma em sangue periférico identificou variante provavelmente patogênica em heterozigose no gene COL17A1, (c.3277+1G>A), além de variante patogênica em heterozigose no gene HBB, (c.20A>T: p., Glu7Val) atribuindo betalassemia minor.

No momento desta publicação, o paciente estava com 1 ano de idade e apresentava desenvolvimento neuropsicomotor normal e melhora parcial das lesões vasculares. Foi feito o diagnóstico de facomatose pigmento vascular; todavia, os achados não se alinham completamente aos critérios vigentes, o que tornou a classificação desafiadora. A denominação de facomatose cesio‐flammea‐marmorata já foi proposta na literatura, com a identificação de sete casos até o momento,1 que apresentam heterogeneidade de características, e um caso com a tríade descrita associada a nevo de Ota e nevo anêmico.2

Facomatose

PPV é um grupo de síndromes congênitas raras caracterizadas pela combinação de malformações capilares e lesões pigmentadas, associadas ou não a manifestações sistêmicas. Inicialmente foi classificada em quatro tipos conforme os fenótipos (I ‐ Nevus flammeus e nevus pigmentosos ou verrucoso; II ‐ flammeus +/− anêmico e manchas mongólicas; III ‐ flammeus +/− anêmico e spilus; IV ‐ flammeus +/− anêmico e spilus com mancha mongólica) e em subtipos (a – acometimento apenas cutâneo; b – acometimento sistêmico). Happle3 reclassificou em facomatose cesioflamea, cesiomarmorata, spilorosea e sem classificação, com ou sem manifestação sistêmica.

A patogênese da síndrome não é bem compreendida. Os genes GNAG e GNA11 foram associados a alguns casos.4 O gene COL17A1, identificado neste paciente, codifica o colágeno XVII, essencial na estabilização da epiderme e, até onde sabemos, é a primeira vez que variantes possivelmente patogênicas neste gene são identificadas em um paciente com essas características. Esse gene é relacionado à epidermólise bolhosa; contudo, não tem penetrância de 100%, o que pode explicar a ausência de fenótipo. O paciente não apresenta fragilidade cutânea até o momento.

O diagnóstico de PPV é clínico; entretanto, a classificação é desafiadora quando não preenche todos os critérios ou há uma sobreposição entre eles, motivo pelo qual já foi proposto que a combinação das três condições encontradas neste paciente receba uma classificação distinta como facomatose cesio‐flammeo‐marmorata.1 Recomenda‐se investigação de acometimento ocular e neurológico,5 principalmente, e outros exames, conforme suspeição clínica.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Luciane Zagonel: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.

Mônica Vannucci Nunes Lipay: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.

Glaucos Ricardo Paraluppi: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado.

Célia Antônia Xavier de Moraes Alves: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado.

Conflito de interesses

Nenhum.

Agradecimento

Dra. Rosa Sigrist.

Referências
[1]
A.S. Chehad.
New case of phacomatosis cesio‐flammeo‐marmorata: the time is right to review the classification for phacomatosis pigmentovascularis.
Int J Dermatol., 58 (2019), pp. e237-e240
[2]
H. Ma, M. Liao, S. Qiu, R. Luo, R. Lu, C. Lu.
The case of a boy with nevus of ota, extensive Mongolian spot, nevus flammeus, nevus anemicus and cutis marmorata telangectasica congenita: A unique instance of phacomatosis pigmento‐vascularis.
An Bras Dermatol., 90 (2015), pp. 10-12
[3]
R. Happle.
Phacomatosis pigmentovascularis revisted and reclassified.
Arch Dermatol., 141 (2005), pp. 385-388
[4]
A.C. Thomas, Z. Zeng, J.B. Rivière, R. O'Shaughnessy, L. Al- Olabi, J. St-Onge, et al.
Mosaic activating mutations in GNA11 and GNAQ are associated with phakomatosis pigmentovascularis and extensive dermal melanocytoses.
J Invest Dermatol., 136 (2016), pp. 770-778
[5]
A. Kumar, D.B. Zastrow, E.J. Kravets, D. Beleford, M.R.Z. Ruzhnikov, M.E. Grove, et al.
Extracutaneous manifestations in phacomatosis cesioflammea and cesiomarmorata: case series and literature review.
Am J Med Genet A., 179 (2019), pp. 966-977

Como citar este artigo: Zagonel L, Lipay MVN, Paraluppi GR, Alves CAXM. Phacomatosis cesio‐flammeo‐marmorata: report of a rare association. An Bras Dermatol. 2024;99:462–4.

Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, SP, Brasil.

Copyright © 2023. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Download PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia
Article options
Tools
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.