Relatamos o caso de uma mulher caucasiana de 30 anos de idade com neurofibromatose tipo 1 (NF1), que procurou atendimento médico pelo agravamento recente de forma grave concomitante de dermatite atópica (DA). A paciente apresentava características típicas de NF1: sardas axilares e inguinais, manchas cafe‐au‐lait, múltiplos neurofibromas subcutâneos, nódulos de Lisch, alterações da coluna vertebral com escoliose. A DA caracterizava‐se por um padrão generalizado, com acometimento predominante da face com eczema e ectrópio palpebral (fig. 1). O escore do Eczema Area Severity Index (EASI) foi 30, e o Dermatology Life Quality Index (DLQI) foi 25, correspondendo a uma forma grave da doença. Em razão da ineficácia dos tratamentos anteriores (esteroides sistêmicos e ciclosporina) em obter melhora clínica da dermatite atópica, a paciente iniciou terapia com dupilumabe na dosagem padrão aprovada de 600mg por via subcutânea seguida de 300mg a cada duas semanas, de acordo com as diretrizes atuais. Quatro semanas após o início da terapia, observamos melhora dos sinais e sintomas de DA (EASI 4; fig. 2). Como achado colateral, observamos também redução do tamanho e do edema dos neurofibromas (fig. 3). Após 16 semanas, constatamos a remissão completa da DA e nenhuma progressão da NF1, em termos de quantidade e tamanho dos neurofibromas, com melhora geral da qualidade de vida da paciente (DLQI 0). Após 18 meses de tratamento, o comprometimento cutâneo pela NF1 permaneceu estável.
Nesta paciente, o dupilumabe mostrou‐se eficaz tanto no manejo da DA grave quanto dos neurofibromas, alcançando a estabilização da doença em um ano. A possível eficácia desse medicamento na NF1 pode residir na patologia molecular da neurofibromatose. Fibroblastos e mastócitos são fatores‐chave na promoção do crescimento tumoral no microambiente do neurofibroma, bem como na cicatrização de feridas e na formação de cicatrizes.1,2 Como relatado anteriormente, a ativação das vias de IL‐4 e IL‐13 em fibroblastos, mediada pela sinalização intracelular de JAK/STAT, leva à produção excessiva de colágeno, que é responsável pelo desenvolvimento dos neurofibromas.3 Em relação à NF1, hipotetizamos que o dupilumabe, um anticorpo monoclonal antireceptor de IL‐4, pode inibir o crescimento de neurofibromas, interferindo na ligação de IL‐4 e IL‐13 aos receptores tipo I e tipo II expressos em mastócitos e fibroblastos. Isso é consistente com o mecanismo de ação descrito anteriormente na DA.4 Até o momento, ainda faltam tratamentos farmacológicos para neurofibromas na NF1. Além disso, não há evidências relatadas anteriormente sobre o efeito do dupilumabe no tratamento da NF1. Isso provavelmente também se deve à escassez de estudos que destacam a associação entre as duas doenças. De fato, apenas um estudo relatou a coexistência de DA concomitante em 18% de 227 pacientes com NF1, mas esses dados não são confirmados por evidências adicionais na literatura atual.5
A presente experiência pode ser útil no manejo da NF1, destacando o efeito anti‐inflamatório benéfico deste biológico na doença neurocutânea, mas estamos conscientes de que estudos patogenéticos de interações de citocinas e vias de sinalização imune, bem como estudos clínicos randomizados (ECRs), são necessários para investigar o uso de dupilumabe no tratamento da NF1.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresCamilla Chello: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito.
Alvise Sernicola: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito.
Giovanni Paolino: Revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.
Teresa Grieco: Concepção e planejamento do estudo; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.