A doença de Bowen (DB), ou carcinoma espinocelular (CEC) in situ, é câncer de pele comum em idosos, e seus fatores causais incluem exposição ao sol, radiação, exposição ao arsênico, queimadura, cicatriz, lesões variadas, infecção pelo papilomavírus humano (HPV) e estado de imunossupressão. Entretanto, casos de DB foram relatados raramente em locais cronicamente estimulados.1 O presente relato descreve um caso de DB no punho, possivelmente causado por estimulação crônica pelo contato com o relógio de pulso de metal do paciente.
Um homem de 82 anos apresentava eritema e erosão no punho esquerdo, onde usava relógio de pulso havia mais de 50 anos. Ele apresentava a lesão havia 10 anos, com aumento gradual de tamanho. O exame físico revelou lesão única medindo 35×23mm, que se apresentava como placa eritematosa bem delimitada na face dorsal do punho esquerdo, com erosão e crosta (fig. 1). A lesão tinha aproximadamente o mesmo tamanho da área coberta por seu relógio de pulso. Uma biópsia havia sido realizada no hospital onde ele fora atendido anteriormente. O exame histopatológico revelou acantose irregular, displasia epidérmica de espessura total, pleomorfismo com núcleos hipercromáticos e numerosas mitoses. Não houve invasão de células atípicas na derme. Essas características histopatológicas eram consistentes com as do CEC in situ ou DB (fig. 2). Como o paciente não queria cirurgia, foi iniciado o uso de imiquimode creme tópico a 5% diariamente por três meses, e o eritema e a erosão da lesão foram reduzidos. A partir de então, foi administrado 5‐fluorouracil creme por 13 meses, e o paciente parou de usar por vontade própria em razão da melhora completa da lesão.
(A) Histopatologia mostrando acantose irregular e displasia epidérmica de espessura total, sem infiltração de células atípicas na derme (coloração de Hematoxilina & eosina, ampliação original 100×). (B) Células epidérmicas com núcleos hipercromáticos, atipias e numerosas mitoses (Hematoxilina & eosina, 200×).
A DB apresentada pelo paciente pode ter sido causada por estimulação crônica como resultado de contato repetitivo ou fricção com o fundo da caixa de seu relógio de pulso de metal. A localização e o tamanho da lesão correspondiam ao sítio de contato diário com o metal. Embora o teste de contato com metal não tenha sido realizado, os autores acreditam que a ocorrência da DB esteja relacionada não à alergia ao metal, mas à estimulação crônica em longo prazo.
A estimulação crônica leva a feridas e cicatrizes crônicas, que podem evoluir para CEC.2 Foi relatado que quando uma cicatriz é formada, ela interfere na resposta imune, o que leva à formação de um tumor.3 Esse mecanismo pode estar associado ao desenvolvimento da DB. Anteriormente, foi relatado um caso de DB surgindo em local de cicatriz antiga causada por lata de metal havia 50 anos.1
Foi relatado que cicatrizes cutâneas subsequentes a queimaduras, radiação, trauma e vacinação são locais vulneráveis para o desenvolvimento de neoplasias.4 Estimulação crônica ou alergia a metal dentário têm sido relatadas como causas de CEC oral. Em relato de Weber et al., entre os 65 pacientes com CEC oral, 34% apresentaram reação alérgica a pelo menos uma peça de metal imediatamente adjacente ao local do câncer.5 A taxa foi 1,57 vez maior que a dos controles.
No presente caso, especula‐se que o dano superficial pode ter sido induzido por estimulação/fricção crônica com relógio de pulso de metal, levando ao desenvolvimento da DB durante o processo de reparo repetitivo. O presente caso sugere que mesmo a estimulação crônica menor ou fricção sem trauma penetrante ou lesão dérmica pode causar a DB, se repetida por muito tempo. Mais estudos são necessários para esclarecer os mecanismos causadores da DB.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresMaki Takada escreveu o rascunho inicial do manuscrito. Toshiyuki Yamamoto auxiliou na preparação do manuscrito. Masato Ishikawa e Yuka Hanami realizaram a obtenção, análise e interpretação dos dados. Todos os autores leram e aprovaram a versão final do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.