O vitiligo segmentar (VS) corresponde 3% a 20% de todos os casos de vitiligo e geralmente não está associado a doenças autoimunes quando comparado ao vitiligo não segmentar (VNS).1 Entre as teorias propostas para a fisiopatologia do VS, é importante enfatizar a presença de um ataque autoimune contra uma área de mosaicismo.1
Na literatura são escassos os relatos sobre o surgimento de vitiligo como efeito colateral de medicamentos, especialmente da isotretinoína oral. O objetivo do presente relato é demonstrar um possível novo efeito colateral dessa medicação, uma vez que não há descrições da associação com VS na literatura.
Paciente masculino, 17 anos, previamente hígido e sem história familiar de vitiligo, apresentava diagnóstico de acne resistente a tratamentos tópicos e antibioticoterapia sistêmica. Durante o quinto mês de tratamento com isotretinoína oral (0,4 mg/kg/dia, dose acumulada de 5.400 mg) apresentou manchas acrômicas circundadas por halo eritemato‐descamativo em regiões malar e perioral direita, não ultrapassavam a linha média da face (fig. 1). O exame com lâmpada de Wood evidenciou aspecto branco nacarado das lesões, além de poliose em pelos da barba, favoreceu o diagnóstico VS (fig. 2). Após a suspensão da medicação, foi iniciado o tratamento com tacrolimus 0,1% pomada duas vezes ao dia com melhoria do eritema perilesional após dois meses, embora sem melhoria da acromia. Posteriormente, foi submetido a 20 sessões de fototerapia UVB‐NB com pouca repigmentação de padrão perifolicular.
Em revisão da literatura, são descritos apenas três casos de surgimento de vitiligo no contexto do uso da isotetinoína oral. Um dos relatos descreve o caso de um paciente que desenvolveu vitiligo durante o uso da medicação na dose de 0,3 a 0,4 mg/Kg/dia para o tratamento da acne moderada a grave.2 Em outro relato houve o desenvolvimento de vitiligo acrofacial somente após 2 meses do término do tratamento com isotretinoína, o que diminui a probabilidade de relação causa‐efeito.3 Há também relato de pioria de lesões de VNS em lábio inferior e região perioral inferior após queilite crônica devido ao uso da isotretinoína oral, quadro atribuído nesse caso ao fenômeno de Koebner.4
O mecanismo de ação da isotretinoína nessa suposta associação ainda não está completamente elucidado, mas a droga parece ter um papel no desencadeamento da autoimunidade em indivíduos geneticamente susceptíveis.5 Têm sido descritos vários relatos de surgimento de doenças autoimunes como diabetes, hepatite autoimune, síndrome de Guillain‐Barré e tireoidite após o término do regime de isotretinoína ou durante a última semana de tratamento.5 Além disso, estudos in vitro também demonstraram que os retinoides podem ter um efeito pró‐apoptótico nos melanócitos.3
Apesar de a relação causa‐efeito dessa associação ainda não estar comprovada, o surgimento crescente de novos casos na literatura é um sinal de alerta para os dermatologistas manterem a vigilância sobre esse possível novo efeito colateral.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresMaria Fernanda de Santana Avelar‐Caggiano: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.
Caio César Silva de Castro: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.
Gerson Dellatorre: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.
Conflitos de interesseNenhum.