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Vol. 97. Núm. 5.
Páginas 682-683 (1 setembro 2022)
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Carta ‐ Caso clínico
Open Access
Úlceras genitais agudas em jovem menina: desafio clínico
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Fabiola Schafera,
Autor para correspondência
fdschafe@gmail.com

Autor para correspondência.
, Rodrigo Mirandab
a Departamento de Especialidades Médicas, Escola de Medicina, Universidad de La Frontera, Temuco, Chile
b Departamento de Clínica Médica, Escola de Medicina, Universidad de La Frontera, Temuco, Chile
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Prezado Editor,

Uma menina saudável de 9 anos apresentou úlceras vulvares dolorosas e disúria de início agudo. O exame físico da mucosa genital mostrou úlceras profundas bem delimitadas, com centro fibrinoso e bordas eritematosas elevadas nos grandes lábios (fig. 1). As úlceras apresentavam mais de 1cm de diâmetro, em padrão de espelho. Relatava febre alta de até 38,5°C, odinofagia, congestão e mal‐estar havia uma semana. Os testes sorológicos foram negativos para herpes‐vírus simplex, vírus Epstein‐Barr, citomegalovírus, vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a avaliação laboratorial de doenças venéreas (VDRL, do inglês venereal disease research laboratory) também foi negativa. A pesquisa de anticorpos antinucleares e anti‐DNA foi negativa. O hemograma completo e o exame de urina tiveram resultados normais. Testes hormonais como estradiol, prolactina, hormônio folículo‐estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH) foram normais para sua idade. Foi feito o diagnóstico de úlcera de Lipschütz. A paciente iniciou uso de creme anestésico tópico, e as úlceras mostraram resolução total após duas semanas, sem cicatrizes. Não houve novos episódios ao longo de um ano de acompanhamento.

Figura 1.

Úlceras profundas, bem definidas, com centro fibrinoso e bordas eritematosas elevadas nos grandes lábios. As úlceras são grandes, com mais de 1cm de diâmetro, em padrão de espelho.

(0.3MB).

A úlcera de Lipschütz, também conhecida como ulceração genital aguda reativa não transmitida sexualmente, é uma entidade clínica muito incomum que costuma ocorrer em mulheres jovens sexualmente inativas.1 Caracteriza‐se por início abrupto, dor local intensa e disúria. Sua morfologia é variável, muitas vezes apresentando padrão bilateral de “beijo”, com aparência simétrica em lados opostos da vulva.2,3 Além disso, foram descritas úlceras necróticas com edema e eritema significativos dos lábios vaginais e linfadenopatia inguinal.2,4 As úlceras podem ser únicas ou múltiplas, com bordas elevadas e bem demarcadas. A maioria delas é frequentemente recoberta por exsudato cinza ou escara cinza‐escura.3 Normalmente, as úlceras estão localizadas nos pequenos lábios, mas também podem ser encontradas nos grandes lábios, períneo e na parte inferior da vagina. Afeta principalmente adolescentes e mulheres jovens, e é incomum em crianças.2

Em geral, a úlcera de Lipschütz é precedida por sintomas semelhantes aos da gripe. Sua etiologia e patogênese ainda são desconhecidas,2,3 embora alguns vírus ou bactérias tenham sido associados a essa entidade (vírus Epstein‐Barr, Mycoplasma e infecção por influenza A). O mecanismo patogênico não é claro, mas suspeita‐se de um processo reativo desencadeado por uma infecção distante, com deposição de imunocomplexos nos vasos dérmicos causando microtrombose e, eventualmente, levando a úlceras profundas, necrosantes e dolorosas.4 O diagnóstico é feito por exclusão, após a eliminação de outras causas de ulcerações genitais. O diagnóstico diferencial inclui úlceras de origem venérea e não venérea, doenças autoimunes, trauma e tumores malignos.5

O tratamento é principalmente sintomático, com resolução espontânea em duas a seis semanas e sem recorrências na maioria dos casos. Em virtude de sua evolução autolimitada, os cuidados locais são suficientes. Anestésicos tópicos, corticoides tópicos e analgésicos orais são geralmente indicados. Por outro lado, se o paciente apresentar dor intensa ou mal‐estar, a internação é indicada, pois o uso de corticoide sistêmico e antibióticos de amplo espectro são recomendados.

A úlcera de Lipschütz é um desafio na prática clínica, e costuma ser subdiagnosticada ou diagnosticada erroneamente. Além disso, há grande ansiedade e confusão para os pacientes e suas famílias, pois o diagnóstico do herpes‐vírus simplex é muitas vezes feito de maneira presuntiva. Destacamos, portanto, a importância de ter em mente esse diagnóstico incomum, especialmente em uma jovem menina ou adolescente com úlceras genitais agudas.

Suporte financeiro

Este artigo foi financiado pela Universidad de La Frontera [DI13‐0051].

Contribuição dos autores

Fabiola Schafer: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação no desenho do estudo; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Rodrigo Miranda: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação no desenho do estudo; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
A. Moise, P. Nervo, J. Doyen, F. Kridelka, J. Maquet, G. Vandenbossche.
Ulcer of Lipschutz, a rare and unknown cause of genital ulceration.
Facts Views Vis Obgyn., 10 (2018), pp. 55-57
[2]
D. Visentin, L. Driul, C. Buligan, A. Angarkhayeva, C. Pinzani, M.D. Martina, et al.
Ulcus vulvae acutum ‐ A case of genital ulcers in adolescent girl.
Case Rep Womens Health., 9 (2016), pp. 4-6
[3]
T. Limperg, M. Bledsoe, J. Strickland, M.A. Jackson.
Respiratory Pathogen Evaluation for Lipschütz Ulcer.
J Pediatr Adolesc Gynecol., 31 (2018), pp. 212
[4]
M. Koliou, T. Kakourou, J. Richter, C. Christodoulou, E. Soteriades.
Mycoplasma pneumoniae as a cause of vulvar ulcers in a non‐sexually active girl: a case report.
Journal of Medical Case Reports., 11 (2017), pp. 187
[5]
A. Schindler, C. Azevedo, A. Avritscher, M. Tamura, S. Podgaec.
Acute genital ulcers: keep Lipschütz ulcer in mind.
Arch Gynecol Obstet., 298 (2018), pp. 927-931

Como citar este artigo: Schafer F, Miranda R. Acute genital ulcers in a young girl: a clinical challenge: Lipschütz ulcer. An Bras Dermatol. 2022;97:682–3.

Trabalho realizado no Departamento de Especialidades Médicas e Clínica Médica, Universidad de La Frontera, Temuco, Chile.

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