O siringofibroadenoma écrino (SFAE) é um tumor raro que consiste da proliferação de estruturas ductais que se assemelham à porção acral das glândulas sudoríparas écrinas. Foi descrito por Mascaró em 1963, e há na literatura pouco mais de 70 casos publicados.1,2 Embora histologicamente distinto, a apresentação clínica do SFAE é variável, desde uma pápula, placa ou nódulo solitário até múltiplas lesões, com predileção pelas extremidades de pacientes mais idosos.2,3 Não há consenso quanto a sua patogênese: tumor, hamartoma ou hiperplasia reacional.4 Este relato agrega aspectos inéditos, visto que demonstra a associação do SFAE ao dano térmico e o tratamento exitoso por meio de corticoide tópico.
Paciente do sexo masculino, 71 anos de idade, aposentado e sem comorbidades. Referia uso de emplastro tipo térmico que gera calor, constituído por pó de ferro, carbono ativado, vermiculite, cloreto de potássio e água (Fenaflan Patch®) para tratar dor na região lateral da coxa direita. Entretanto, teve reação local com ardência e queimação, retirando o emplastro antes do tempo indicado. Nos dias seguintes, desenvolveu pápulas e placa vegetante, eritematosas, por vezes friáveis e com sangramento, com leve prurido. Progrediu durante três meses, atingindo o tamanho de 4cm (fig. 1). Foi realizada biópsia com punch de 5mm. O exame anatomopatológico evidenciou cordões epiteliais anastomosantes de células cuboides formando trabéculas embebidas em estroma fibroso e mixoide bastante vascularizado partindo da epiderme à derme profunda. O diagnóstico de SFAE do tipo reativo foi firmado (figs. 2 e 3).
Foi administrado clobetasol em creme 0,05% com aplicação oclusiva uma vez ao dia por 20 dias, com resposta plenamente efetiva, permanecendo eritema residual do tipo pós‐inflamatório que se resolveu totalmente em poucos meses.
A classificação mais atual do SFAE admite cinco subtipos: solitário; múltiplos sem alterações cutâneas; nevoide associado à displasia ectodérmica; múltiplo associado à síndrome de Schopf; e reativo associado a dermatoses neoplásicas ou inflamatórias.3 Há, na literatura, descrição ocasional com outras entidades, tanto inflamatórias quanto neoplásicas, incluindo penfigoide bolhoso, líquen plano erosivo palmoplantar, psoríase, sífilis congênita, nevo sebáceo, úlcera cutânea crônica, carcinoma basocelular e espinocelular.2
O tipo reativo provavelmente é desencadeado a partir de dano tecidual, e no processo de reparo e remodelamento ocorre hiperplasia responsiva ao agravo.3 Todavia, não há relatos associando o SFAE após injúrias térmicas como fator desencadeante – de nosso conhecimento, este é o primeiro relato.
A confirmação diagnóstica é através da histopatologia, e os ductos écrinos podem ou não ser visualizados. A imuno‐histoquímica pode auxiliar em casos difíceis onde as células são frequentemente positivas para queratina 6 e 19, assim como filagrina.2
Não há consenso quanto ao tratamento. Há relatos de terapia com etretinato, cirurgia, radioterapia e laser; entretanto, não há relatos de tratamento com clobetasol ou outros corticoides de uso tópico.5 A resolução do presente caso ocorreu muito rapidamente, com regressão total em apenas 20 dias. Provavelmente, a conjunção dos efeitos anti‐inflamatório, antiproliferativo, vasoconstritor e de redução de atividade mitótica que o corticoide promove foram determinantes para a resposta efetiva da terapia.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresRoberto Rheingantz da Cunha Filho: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Lucas José Quioca: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Graziela Junges Crescente Rastelli: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
José Fillus Neto: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.