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Vol. 97. Núm. 3.
Páginas 358-361 (1 maio 2022)
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Vol. 97. Núm. 3.
Páginas 358-361 (1 maio 2022)
Dermatologia Tropical/Infectoparasitária
Open Access
Remissão clínica de infecção disseminada por molusco contagioso em paciente com dermatite atópica tratada com dupilumabe
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Marta Elosua‐González
Autor para correspondência
, Ángel Rosell‐Díaz, Fernando Alfageme‐Roldán, Mercedes Sigüenza‐Sanz, Gaston Roustan‐Gullón
Departamento de Dermatologia, Hospital Universitario Puerta De Hierro, Majadahonda, Madri, Espanha
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Resumo

A dermatite atópica predispõe a infecções cutâneas e, por outro lado, algumas terapias utilizadas para a dermatite atópica podem agravar infecções virais cujas lesões podem ser mais difusas e resistentes ao tratamento. Este relato de caso descreve uma paciente com dermatite atópica grave e infecção disseminada por molusco contagioso. O tratamento tópico do molusco contagioso não teve efeito e piorou ainda mais a dermatite atópica da paciente, então o tratamento com dupilumabe foi iniciado. Após dois meses, a dermatite entrou em remissão clínica e houve resolução da infecção sem apresentar recorrência em 12 meses de seguimento. Dupilumabe é atualmente um tratamento promissor para a dermatite atópica grave. Que seja de nosso conhecimento, apenas quatro relatos de molusco contagioso durante a terapia com dupilumabe foram relatados na literatura, com efeitos contrastantes. De acordo com a presente experiência, o tratamento com dupilumabe parece ser uma alternativa segura para pacientes com dermatite atópica grave também infectados por molusco contagioso, em oposição a outros tratamentos, como corticosteroides sistêmicos ou ciclosporina.

Palavras‐chave:
Alopecia areata
Dermatite atópica
Molusco contagioso
Terapia
Tratamento
Texto Completo
Introdução

A dermatite atópica (DA) predispõe a infecções cutâneas como Staphylococcus aureus, herpes‐vírus simplex e infecção por molusco contagioso (MC). O MC é frequentemente uma infecção viral autolimitada com patogênese pouco compreendida. Sabe‐se que algumas terapias utilizadas para DA pioram a infecção por MC, que pode apresentar lesões difusas, resistentes ao tratamento e persistentes ao longo do tempo. Este relato de caso descreve uma paciente com DA com lesões generalizadas de MC, que apresentou eliminação da infecção logo após o tratamento da DA com dupilumabe.

Relato do caso

Uma paciente de 47 anos veio ao ambulatório com DA grave desde a infância e história de alopecia areata há 16 anos, para iniciar tratamento com dupilumabe – anticorpo monoclonal que inibe tanto a interleucina (IL)‐4 quanto a IL‐13. Ela vinha sendo tratada há vários anos com corticosteroides tópicos e sistêmicos, fototerapia e ciclosporina, sem apresentar melhora. No exame físico, apresentou DA grave com escore EASI (Eczema Area and Severity Index) de 24,7, SCORAD (Scoring Atopic Dermatitis) de 60,26 e BSA (Body Surface Area) de 30. Inesperadamente, ela também tinha pápulas cupuliformes com umbilicação central consistente com MC disseminado em todo o corpo, mas especialmente na face e couro cabeludo, que haviam aparecido dois meses antes (figs. 1‐3). Os estudos laboratoriais não revelaram qualquer anormalidade, exceto altos níveis de IgE. Infecção por HIV e síndrome de hiper IgE foram descartadas. Foi iniciado tratamento tópico com solução de hidróxido de potássio a 10% e imiquimode creme a 5%, com piora tanto da DA (escores EASI 38,5; SCORAD 76,82; BSA 70) quanto do MC. Assim, foi iniciado o tratamento para DA com dupilumabe e continuação do tratamento tópico para MC associando curetagem nas áreas com mais lesões. Após dois meses, a DA entrou em remissão clínica (escores EASI 1; BSA 1), com resolução também do MC (figs. 1‐3), incluindo as lesões que não receberam nenhum tratamento tópico ou curetagem. A alopecia areata não melhorou durante o tratamento. A paciente continuou com o tratamento com dupilumabe, sem recorrência após 12 meses de seguimento.

Figura 1.

(A), Paciente com DA grave, alopecia areata e infecção por molusco contagioso antes do tratamento com dupilumabe. Escoriações, lesões eczematosas e pápulas cupuliformes com umbilicação central espalhadas por todo o corpo, mas principalmente na face e no couro cabeludo. (B), Dois meses após o início do tratamento com dupilumabe. Remissão clínica da dermatite atópica e resolução da infecção por molusco contagioso.

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Figura 2.

(A), Paciente com DA grave, alopecia areata e infecção por molusco contagioso antes do tratamento com dupilumabe. Escoriações, lesões eczematosas e pápulas cupuliformes com umbilicação central espalhadas por todo o corpo, mas principalmente na face e couro cabeludo. (B), Dois meses após o início do tratamento com dupilumabe. Remissão clínica da dermatite atópica e resolução da infecção por molusco contagioso.

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Figura 3.

(A), Paciente com DA grave, alopecia areata e infecção por molusco contagioso antes do tratamento com dupilumabe. Escoriações, lesões eczematosas e pápulas cupuliformes com umbilicação central espalhadas por todo o corpo, mas principalmente na face e couro cabeludo. (B), Dois meses após o início do tratamento com dupilumabe. Remissão clínica da dermatite atópica e resolução da infecção por molusco contagioso.

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Discussão

Pacientes com DA têm risco aumentado de MC disseminado, provavelmente causado pela imunidade mediada por células localmente comprometidas em virtude de resposta imune mediada por células T helper 2 (Th2) dominantes na pele, função de barreira epidérmica comprometida, alterações no microbioma da pele, autoinoculação associada ao ato de coçar‐se e ao uso de terapias imunossupressoras.1,2

Que seja de nosso conhecimento, apenas quatro relatos de MC disseminados durante a terapia com dupilumabe foram relatados com efeitos contrastantes. Três deles1‐3 descrevem um total de seis pacientes com DA e infecção concomitante por MC que iniciaram o tratamento com dupilumabe. Em todos, a resolução completa do MC foi alcançada durante o tratamento com dupilumabe, embora alguns casos tenham apresentado inflamação inicial ou até mesmo disseminação do MC. Entretanto, Sevray et al.4 relataram o caso de um paciente de 47 anos com DA e alopecia areata que melhorou após oito semanas de tratamento com dupilumabe, mas demonstrou piora de sua infecção anterior por MC. Na sequência, o tratamento com dupilumabe foi interrompido e o MC regrediu parcialmente após seis meses. Em relação a esse caso, Di Lernia et al.3 propõem que a interrupção do tratamento com dupilumabe possa ter impedido a observação da eliminação subsequente do MC. Consideram também que a regressão parcial do MC seis meses após a interrupção do dupilumabe não pode ser considerada prova de causalidade do medicamento, como sugerido pelos autores, em virtude da natureza da própria infecção, com resolução espontânea em meses.

O dupilumabe inibe a IL‐4 e a IL‐13, inibindo assim a resposta imune de Th2 que desempenha um papel fundamental nas doenças atópicas.4 Pode afetar as respostas do hospedeiro a infecções por helmintos, mas infecções adicionais não foram identificadas.3 Por outro lado, as citocinas Th2 são capazes de inibir a imunidade anti‐infecciosa, e o aumento de sua expressão pode ser uma vantagem seletiva para o vírus.3 Portanto, a inibição seletiva da via Th2 induz um equilíbrio Th1/Th2, uma “normalização” da barreira cutânea e torna possível mecanismos eficazes inatos e mediados por células para resolver o MC.1

Na paciente aqui descrita, já havia disseminação inicial de MC sem resposta ao tratamento tópico. Em razão do agravamento da DA, foi iniciado o tratamento com dupilumabe, obtendo‐se pronta remissão tanto da DA quanto da infecção, sem qualquer inflamação aguda das lesões de MC. Em resumo, de acordo com a literatura e com nossa experiência, o tratamento com dupilumabe parece ser uma alternativa segura na DA com infecção extensa por MC.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Marta Elosua‐González: Teve acesso total a todos os dados do estudo e assumiu a responsabilidade pela integridade dos dados e pela precisão da análise dos dados; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Ángel Rosell‐Díaz: Obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; concepção e planejamento do estudo.

Fernando Alfageme‐Roldán: Obtenção, análise e interpretação dos dados.

Mercedes Sigüenza‐Sanz: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Gaston Roustan‐Gullón: Obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
E.R. Storan, R.T. Woolf, C.H. Smith, A.E. Pink.
Clearance of molluscum contagiosum virus infection in patients with atopic eczema treated with dupilumab.
Br J Dermatol., 181 (2019), pp. 385-386
[2]
S. Ferrucci, S. Tavecchio, S. Veraldi, E. Berti, V. Benzecry.
Transitory Dissemination of Molluscum Contagiosum in a Patient Treated with Dupilumab for Atopic Dermatitis.
Acta Derm Venereol., 100 (2020),
[3]
V. Di Lernia, D.M. Casanova, V. Simonetti.
Dupilumab may facilitate the clearance of molluscum contagiosum in atopic dermatitis patients.
J Dtsch Dermatol Ges., 18 (2020), pp. 1016-1018
[4]
M. Sevray, D. Dupré, L. Misery, C. Abasq-Thomas.
Hair regrowth and dissemination of molluscum contagiosum: two unexpected effects with dupilumab.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 33 (2019), pp. e296-e298

Como citar este artigo: Elosua‐González M, Rosell‐Díaz A, Alfageme‐Roldán F, Sigüenza‐Sanz M, Roustan‐Gullón G. Clinical remission of disseminated molluscum contagiosum infection in a patient with atopic dermatitis treated with dupilumab. An Bras Dermatol. 2022;97:358–61.

Trabalho realizado no Hospital Universitario Puerta De Hierro, Majadahonda, Madri, Espanha.

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