O nevo sebáceo é hamartoma benigno congênito da pele. Sua complicação mais comum é a transformação em outros tumores, mais frequentemente benignos.1,2 No entanto, em virtude de seu potencial de malignização, o diagnóstico e tratamento precoce são fundamentais.3,4
Enquanto a dermatoscopia possibilita a análise da epiderme até a derme média, a microscopia confocal de reflectância (RCM) utiliza laser de diodo de 830nm como fonte de luz monocromática e coerente. A profundidade de penetração, entre 200 e 300μm, fornece imagens no nível celular que se assemelham a biopsias virtuais, oferecendo detalhes de características morfológicas das diferentes camadas da pele até a derme papilar.5
Na literatura, há poucos relatos quanto aos achados típicos do nevo sebáceo na RCM.6–8 Artigos descrevendo‐os, associados aos do carcinoma basocelular, mostram‐se ainda menos frequentes.9,10 Apresentamos um cenário das características dermatoscópicas frequentes no nevo sebáceo associado ao carcinoma basocelular, evidenciando as alterações na RCM do nevo sebáceo, pouco descritos em literatura até o momento.
Paciente do sexo masculino, 41 anos, sem antecedente pessoal ou familiar de câncer de pele, atendido por lesão desde a infância na fronte direita com mudança da textura e crescimento lento ao longo dos anos.
Na macroscopia, visualiza‐se placa amarelo‐perlácea, de limites pouco precisos, sobre base eritematosa e telangectasias na periferia, com pápulas amareladas em sua porção superior. Palpação com discreta verrucosidade (fig. 1A).
(A) Macroscopia com placa amarelo‐perlácea de limites pouco precisos sobre base eritematosa (*) com telangectasias na periferia (1) e pápulas amareladas (2) na porção superior. (B) Dermatoscopia (aumento de 10×) com estruturas redondas amarelo‐esbranquiçadas em pedras de calçamento (3), telangiectasias (4), vasos arboriformes (5) e pápulas amarelo‐esbranquiçadas arredondadas com umbilicação central e vasos em coroa (6).
A dermatoscopia evidencia, inferiormente, estruturas redondas e ovais, esbranquiçadas e amarelo‐esbranquiçadas, em “pedras de calçamento”, agregadas uniformemente, com telangectasias na periferia. Na região central há vasos arboriformes, tipicamente associados ao carcinoma basocelular. Superiormente, agrupamento de pápulas amarelo‐esbranquiçadas arredondadas com umbilicação central e vasos em coroa (fig. 1B).
A RCM com VivaScope® 1500 (Lucid Inc. Rochester, NY, USA) mostra, na derme, achados típicos de carcinoma basocelular: ilhas tumorais com fenda peritumoral, silhuetas escuras e, na periferia, células em paliçada e vasos dilatados e tortuosos (fig. 2). Na junção dermoepidérmica e derme papilar, destacam‐se estruturas em forma de tubo central, com lóbulos de glândulas sebáceas na área circundante, preenchidos por agregados de formações semelhantes a ovas de peixe, típicos do nevo sebáceo (fig. 3).
Microscopia confocal de reflectância na derme papilar do nevo sebáceo com imagens individuais de 0,5×0,5 mm2 e mosaicos de 8×8 mm2. Estruturas em forma de tubo central (*), com lóbulos de glândulas sebáceas na área circundante (1), preenchidos por agregados de formações semelhantes a ovas de peixe (2).
Foram realizadas duas biopsias incisionais com punch de 4mm. A histopatologia revelou, na região inferior, carcinoma basocelular superficial e, na região central, carcinoma basocelular superficial e nodular, ambos associados a nevo sebáceo (fig. 4).
Fotomicrografia com coloração Hematoxilina & eosina. (A) Aumento de 100× evidenciando carcinoma basocelular nodular com padrão adenoide, originando‐se da epiderme do nevo sebáceo. (B) Aumento de 200× evidenciando carcinoma basocelular superficial e nodular originando‐se da epiderme do nevo sebáceo.
O paciente foi submetido a cirurgia com controle de margem e fechamento primário e encontra‐se há seis meses em seguimento na Oncologia Cutânea, sem sinais de recidiva.
O nevo sebáceo é hamartoma benigno congênito da pele composto por inúmeras glândulas sebáceas malformadas, folículos pilosos degenerados e glândulas apócrinas ectópicas, que se localiza mais frequentemente na face e no couro cabeludo.1 Dois terços das lesões estão presentes desde o nascimento e um terço se desenvolve na primeira infância.2 Sua complicação mais comum é a transformação em outros tumores, mais frequentemente benignos, primeiramente o tricoblastoma, seguido pelo siringocistoadenoma papilífero.3 Dentre os malignos, o mais comum é o carcinoma basocelular, que se desenvolve em menos de 1% dos casos.4 Em virtude do potencial para transformação maligna, o diagnóstico e tratamento precoce são fundamentais.
Enquanto a dermatoscopia possibilita a análise da epiderme até a derme reticular superficial, a RCM utiliza laser de diodo de 830nm como fonte de luz monocromática e coerente. A profundidade de penetração, entre 200 e 300μm, fornece imagens no nível celular que se assemelham a biopsias virtuais, oferecendo detalhes de características morfológicas das diferentes camadas da pele até a derme papilar.5
Na literatura, há poucos relatos até o momento quanto aos achados típicos do nevo sebáceo na RCM. Descrições aproximadas se referem àqueles da hiperplasia sebácea nesse exame.6–8 Um único trabalho identificou as alterações do nevo sebáceo na confocal em diferentes grupos etários.9 Tal artigo evidenciou que, abaixo dos 10 anos, visualizam‐se nessas lesões glândulas sebáceas hipoplásicas e folículos pilosos juvenis. Dos 10 aos 59 anos, as glândulas sebáceas na junção dermoepidérmica se assemelham a cachos de uva e, na derme superficial, visualizam‐se estruturas semelhantes a tubos ou alças no centro, que correspondem à dilatação do ducto sebáceo,7 com lóbulos de glândulas sebáceas semelhantes a ovas de peixe na área circundante e hiperplasia verrucosa ou papilomatosa na derme. Acima dos 60 anos, a hiperplasia papilomatosa predomina no exame.1–3Artigos usando a RCM descrevendo as características do nevo sebáceo, associados aos do carcinoma basocelular, mostram‐se ainda menos frequentes no presente, destacando‐se um único relato de caso de siringocistoadenoma papilífero e carcinoma basocelular surgindo de nevo sebáceo prévio.10
Novos estudos se mostram, portanto, necessários para que mais estruturas típicas do nevo sebáceo associado ao carcinoma basocelular sejam padronizadas na RCM.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresIngrid Priscila Ribeiro Paes Ferraz: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Gustavo Carvalho: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Juliana Casagrande Tavoloni Braga: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão da literatura; revisão crítica do manuscrito.
rafaela brito de paula: aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão da literatura; revisão crítica do manuscrito.
André Molina: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.