A dermatite atópica (DA) é doença inflamatória crônica da pele caracterizada por prurido, eritema e descamação. Afeta aproximadamente 15% a 30% das crianças e 2% a 10% dos adultos em todo o mundo, tornando‐se condição prevalente que pode impactar significantemente a qualidade de vida dos pacientes.1 Por outro lado, a alopecia areata (AA) é doença autoimune que afeta os folículos pilosos, levando à queda dos cabelos no couro cabeludo, face ou corpo. O risco estimado de desenvolver AA ao longo da vida é de 2,1%.2 Embora DA e AA sejam doenças distintas, foi relatado que elas coexistem em alguns pacientes, com a prevalência de AA em pacientes com DA variando de 0,3% a 6,8%.3
O presente relato descreve o caso de um paciente do sexo masculino, de 27 anos, com história prévia de DA de grau acentuado havia 20 anos e história de oito meses de placa única de AA. O paciente não tinha história de outras doenças mediadas do tipo 2, como asma ou conjuntivite alérgica. Apesar dos tratamentos anteriores para DA, incluindo fototerapia e metotrexato, a doença cutânea permaneceu não controlada. Antes de iniciar a terapia com upadacitinibe, inibidor seletivo da Janus quinase (JAK) 1, o paciente apresentava escore SCORing Atopic Dermatitis (SCORAD) de 52,15, escore 4 na Avaliação Global do Investigador (IGA, do inglês Investigator Global Assessment), escore 9 na Escala de Avaliação Numérica (NRS, do inglês Numeric Rating Scale) de prurido, escore 13 do Severity of Alopecia Tool (SALT) e escore 25 do Dermatology Life Quality Index (DLQI) de 25 (figs. 1 e 2).
O upadacitinibe demonstrou ser eficaz no tratamento da DA moderada a acentuada em pacientes adultos em estudos de fase 3 randomizados, duplo‐cegos, controlados por placebo.4 Além disso, estudos recentes sugeriram que a inibição da JAK também pode ser eficaz no tratamento da AA, suprimindo a atividade dos linfócitos T citotóxicos, que desempenham papel crucial na patogênese da doença5 e também reduzindo a sinalização de IFN‐gama por meio da inibição seletiva de JAK 1.6,7
Dada a DA refratária do paciente e a AA coexistente, iniciou‐se tratamento com upadacitinibe 15mg/dia como opção terapêutica. Após quatro semanas de tratamento, o escore NRS de prurido do paciente diminuiu para 0 e, após oito semanas, o escore SCORAD diminuiu para 7,1, seu escore IGA diminuiu para 0 e seu escore DLQI diminuiu para 2. Notavelmente, o paciente também relatou melhora significante na AA, com novo crescimento de pelos em áreas previamente afetadas, e seu escore SALT diminuiu para 0 após 16 semanas (figs. 3 e 4).
A coexistência de DA e AA é comum, com efeito significante na prevalência associada de AA em pacientes com DA e controles (risco relativo de 5,78, intervalo de confiança de 95%, 3,82‐8,73).8 Este caso destaca o potencial do upadacitinibe 15mg/dia como opção terapêutica para pacientes com DA acentuada associada a AA em virtude dos efeitos da inibição seletiva da JAK 1 na imunopatogênese de ambas as doenças. A eficácia do upadacitinibe no tratamento de ambas as doenças continua mantida após seguimento de oito meses. Mais pesquisas são necessárias para investigar a segurança e a eficácia em longo prazo de upadacitinibe nessa população de pacientes.
Suporte financeiroO trabalho apresentado não recebeu nenhum apoio financeiro da indústria farmacêutica ou de qualquer outra fonte comercial, exceto conforme descrito abaixo, e o autor recebeu honorários como palestrante das seguintes empresas: AbbVie, Eli Lilly, Janssen, Sanofi e Pfizer.
Contribuição do autorGuilherme Muzy: Aprovação da versão final do manuscrito, revisão crítica da literatura, coleta, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa, participação intelectual no manejo propedêutico e/ou terapêutico de casos estudados, revisão crítica do manuscrito, preparação e redação do manuscrito, análise estatística e concepção e planejamento do estudo.
Conflito de interessesNenhum.