Relatamos o caso de mulher de 24 anos de idade, de fototipo V na escala de Fitzpatrick, referenciada ao nosso Serviço de Dermatologia por uma massa assintomática na região dorsal esquerda. A paciente relatava o crescimento lento daquela massa ao longo de vários anos. O exame clínico revelou um tumor subcutâneo palpável, mole e indolor à palpação na região dorsal esquerda, sem aparente envolvimento da pele suprajacente. O restante exame físico era normal.
Tomografia computadorizada torácica de alta resolução, realizada um ano antes durante um episódio de agudização de asma, revelara um nódulo subcutâneo hipodenso de grandes dimensões na localização topográfica referida (fig. 1A). Biópsia por agulha grossa e ecoguiada daquela massa subcutânea bem definida e ligeiramente hiperecogênica identificou uma neoplasia de células globosas, algumas com citoplasma multivacuolado e outras com citoplasma granular, eosinofílico, sem atipia nuclear (fig. 1B).
Características imagiológicas do tumor: A, Tomografia computadorizada torácica de alta resolução revelando nódulo subcutâneo hipodenso de grandes dimensões na região dorsal esquerda (seta vermelha); B, Ecografia revelando massa subcutânea bem definida, ligeiramente hiperecogênica, na região dorsal esquerda (seta vermelha).
Considerando esses dados, realizamos ressecção cirúrgica completa do tumor, sob anestesia local, que decorreu sem intercorrências (fig. 2A). O tumor media aproximadamente 60×50×20mm, apresentava superfície externa gelatinosa e, quando secionado, revelou consistência mole e cor acastanhada (fig. 2 A e B). O exame histopatológico revelou um tumor hipodérmico com cápsula fibrosa fina, constituído por adipócitos com citoplasma granular, eosinofílico, sem atipia citológica, numerosos adipócitos multivacuolados e algumas células univacuoladas, estabelecendo o diagnóstico definitivo de hibernoma (fig. 3). A paciente recuperou‐se completamente após a cirurgia, sem recorrência do tumor após um ano de seguimento.
Características macroscópicas do tumor: A, Durante a ressecção cirúrgica do tumor, sob anestesia local; B, Após excisão completa, o tumor media aproximadamente 60 × 50 × 20mm, apresentava superfície externa gelatinosa e, quando secionado, revelou consistência mole e cor acastanhada.
Características microscópicas do tumor: o exame histopatológico da peça cirúrgica revelou tumor hipodérmico com cápsula fibrosa fina, constituído por adipócitos com citoplasma granular, eosinofílico, sem atipia citológica, numerosos adipócitos multivacuolados, estabelecendo o diagnóstico definitivo de hibernoma. (Hematoxilina & eosina: 10×, 40×, 200×).
Os hibernomas são tumores de tecidos moles raros e benignos, derivados da gordura castanha vestigial, que podem localizar‐se no tecido subcutâneo, no músculo esquelético ou na fáscia intermuscular.1,2 Há quatro variantes histológicas de hibernoma: típico (82%), mixoide (9%), lipoma‐like (7%) e de células fusiformes (2%).1 Os hibernomas são variáveis em dimensão (1–24cm, média=9,3cm) e localização, ocorrendo mais frequentemente na coxa, região peri e interescapular, pescoço, braço, cavidade abdominal e retroperitônio, e são tipicamente muito vascularizados.1,3–5 São mais frequentemente diagnosticados em adultos (idade média 38 anos).1
Esses tumores lipomatosos geralmente apresentam‐se como massas palpáveis, de crescimento lento, moles, móveis e indolores, ou como achado incidental em exames de imagem.1,3–5 Podem também desenvolver sintomas secundários à compressão de estruturas adjacentes devido ao seu crescimento.1,3,4 O diagnóstico diferencial nem sempre é evidente, e inclui não só neoplasias benignas dos tecidos moles (como lipomas atípicos, hemangiomas e angiolipomas), mas também tumores malignos agressivos (nomeadamente lipossarcomas bem diferenciados, lipossarcomas mixoides e rabdomiossarcomas).1,2 Com efeito, os hibernomas podem mimetizar esses outros tumores do ponto de vista clínico, imagiológico e até histológico, atendendo a algumas características semelhantes em espécimes de biópsia.1–5
O exame histopatológico do tumor após excisão cirúrgica completa, a qual é curativa, é essencial para confirmar o diagnóstico.1,4,5
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresMargarida Moura Valejo Coelho: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Alexandre João: Aprovação da versão final do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado; revisão crítica do manuscrito.
Cândida Fernandes: Aprovação da versão final do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.