Compartilhar
Informação da revista
Vol. 97. Núm. 2.
Páginas 271-273 (1 março 2022)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
13721
Vol. 97. Núm. 2.
Páginas 271-273 (1 março 2022)
Carta ‐ Caso clínico
Open Access
Há ligação entre a psoríase gutata e o SARS‐CoV‐2? Série de três casos
Visitas
13721
Cláudia Brazãoa,
Autor para correspondência
claudiabrazaomd@gmail.com

Autor para correspondência.
, Miguel Alpalhãoa,b,c, Marta Aguado‐Loboa, Joana Antunesa,b, Luís Soares‐de‐Almeidaa,b,c, Paulo Filipea,b,c
a Departamento de Dermatologia e Venereologia, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Lisboa, Portugal
b Dermatology and Venereology University Clinic, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
c Unidade de Pesquisa Dermatológica, iMM João Lobo Antunes, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (3)
Mostrar maisMostrar menos
Texto Completo
Prezado Editor,

A psoríase gutata (PG) é forma aguda de psoríase associada a infecções bacterianas, principalmente estreptocócicas, que causam ativação imunológica induzida por superantígenos.1,2 Infecções virais do trato respiratório superior também podem estar envolvidas, e ocorrem tipicamente duas a três semanas antes do início das lesões da PG.1,3 Este relato descreve três casos de PG após infecção por síndrome respiratória aguda grave pelo Coronavírus 2 (SARS‐CoV‐2) e vacina de mRNA BNT162b2.

Um homem caucasiano de 42 anos com história de psoríase crônica em placas desenvolveu múltiplas pápulas e placas eritematosas escamosas na face, no tronco e nos membros superiores e inferiores, e placas eritematosas escamosas nos cotovelos e joelhos (fig. 1), uma semana após o diagnóstico de doença do Coronavírus 2019 (COVID‐19). Estabeleceu‐se diagnóstico clínico e histopatológico de PG (fig. 2) e exacerbação de psoríase em placas.

Figura 1.

Psoríase gutata e exacerbação de psoríase crônica em placas (caso 1). (A), Placas eritematosas semelhantes a gotas de psoríase gutata e placas eritematosas escamosas no tronco. (B), Placas eritematosas semelhantes a gotas de psoríase gutata nos membros superiores. (C), Placas eritematosas escamosas nos cotovelos.

(0.11MB).
Figura 2.

Aspectos histopatológicos da psoríase gutata (caso 1) (Hematoxilina & eosina, 100×). Hiperplasia psoriasiforme da epiderme, com neutrófilos no interior de paraceratose contínua e microabscessos intracórneos; ausência de estrato granuloso; papilomatose com hiperplasia vascular e infiltrado linfocítico perivascular na derme superficial.

(0.39MB).

Uma mulher caucasiana de 32 anos com história de psoríase crônica em placas, desenvolveu múltiplas pápulas e placas eritematosas escamosas no tronco e nos membros superiores e inferiores, bem como placas eritematosas escamosas nos cotovelos e joelhos (fig. 3), duas semanas após o diagnóstico de COVID‐19. Estabeleceu‐se diagnóstico clínico de PG e exacerbação de psoríase em placas.

Figura 3.

Psoríase gutata e exacerbação de psoríase em placas (caso 2). (A), Pápulas eritematosas semelhantes a gotas de psoríase gutata e placas nos membros superiores. (B), Placas eritematosas de psoríase gutata nos membros superiores e placas escamosas eritematosas nos cotovelos.

(0.13MB).

Um homem caucasiano de 45 anos com história de psoríase crônica em placas apresentou múltiplas pápulas eritematosas escamosas e pequenas placas no tronco e nos membros superiores, uma semana após a primeira dose da vacina contra a COVID‐19 BNT162b2 mRNA, com piora após a segunda dose. Um diagnóstico clínico de PG foi realizado. A correlação entre psoríase e infecção está bem estabelecida, e os vírus são reconhecidos como gatilhos. Em um estudo de infecções respiratórias virais que causam exacerbações de psoríase, o coronavírus foi um dos patógenos detectados com maior frequência.3

A proteína SARS‐CoV‐2 Spike (S) exibe motif de alta afinidade para receptores de células T (TCR; do inglês, T‐cell receptors) e pode formar um complexo ternário com o complexo principal de histocompatibilidade tipo 2 (MHC‐II; do inglês, major histocompatibility complex type 2). Seu epítopo de ligação contém um motif de sequência que é muito semelhante em sequência e estrutura aos superantígenos bacterianos.4 Portanto, o SARS‐CoV‐2 pode favorecer a psoríase por meio da modulação do superantígeno da resposta imune adaptativa. De fato, a análise de pacientes com COVID‐19 demonstra que eles exibem arranjos de TCR consistentes com a ativação de superantígenos.4 A proteína S pode causar a ativação e expansão policlonal das células T no trato respiratório superior (especificamente as amígdalas), fazendo com que se diferenciem e migrem para o tecido cutâneo, após adquirirem capacidade de homing cutâneo por meio do aumento da expressão do antígeno linfocitário cutâneo (CLA; do inglês, cutaneous lymphocyte antigen).2,4 Esses mecanismos podem contribuir para o desequilíbrio inflamatório subjacente à fisiopatologia da psoríase, particularmente nas formas agudas como a PG.

A vacina BNT162b2 COVID‐19 consiste em mRNA modificado com nucleosídeo que codifica a proteína spike de comprimento total, que será maciçamente produzida e expressa na superfície das células hospedeiras, mimetizando a estrutura e a expressão da proteína S de tipo selvagem durante a infecção natural.5 Assim, espera‐se que as respostas imunes do hospedeiro à vacina sejam semelhantes às da infecção natural, explicando, pelo mecanismo mencionado, como essa vacina poderia levar a formas agudas de psoríase na ausência de infecção verdadeira.

Esses casos clínicos demonstram a importância das anormalidades cutâneas em pacientes com COVID‐19, bem como possíveis eventos dermatológicos em pacientes submetidos à vacinação, e lançam luz sobre os potenciais mecanismos imunológicos subjacentes.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Cláudia Brazão: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.

Miguel Alpalhão: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.

Marta Aguado‐Lobo: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.

Joana Antunes: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.

Luís Soares‐de‐Almeida: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.

Paulo Filipe: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
A. Brandon, A. Mufti, R.G. Sibbald.
Diagnosis and Management of Cutaneous Psoriasis: A Review.
Adv Skin Wound Care., 32 (2019), pp. 58-69
[2]
S.L. Sigurdardottir, R.H. Thorleifsdottir, H. Valdimarsson, A. Johnston.
The association of sore throat and psoriasis might be explained by histologically distinctive tonsils and increased expression of skin‐homing molecules by tonsil T cells.
Clin Exp Immunol., 174 (2013), pp. 139-151
[3]
E. Sbidian, M. Madrange, M. Viguier, M. Saloma, S. Duchatelet, A. Hovnanian, et al.
Respiratory virus infection triggers acute psoriasis flares across different clinical subtypes and genetic backgrounds.
Br J Dermatol., 181 (2019), pp. 1304-1306
[4]
M.H. Cheng, S. Zhang, R.A. Porritt, M.N. Rivas, L. Paschold, E. Willscher, et al.
Superantigenic character of an insert unique to SARS‐CoV‐2 spike supported by skewed TCR repertoire in patients with hyperinflammation.
Proc Natl Acad Sci USA., 117 (2020), pp. 25254-25262
[5]
Y.N. Lamb.
BNT162b2 mRNA COVID-19 Vaccine: First Approval.
Drugs., 81 (2021), pp. 495-501

Como citar este artigo: Brazão C, Alpalhão M, Aguado‐Lobo M, Antunes J, Soares‐de‐Almeida L, Filipe P. Is there a link between guttate psoriasis and SARS‐CoV‐2? A series of three cases. An Bras Dermatol. 2022;97:271–3.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia e Venereologia, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Lisboa, Portugal.

Copyright © 2021. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.