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Vol. 99. Núm. 5.
Páginas 788-790 (1 setembro 2024)
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Vol. 99. Núm. 5.
Páginas 788-790 (1 setembro 2024)
Cartas ‐ Caso clínico
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Esporotricose de lesão única desencadeando síndrome de Sweet
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Hiram Larangeira de Almeida Jra,b,
Autor para correspondência
hiramalmeidajr@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Augusto Scott da Rochaa, Lilian Müllerc, Ana Letícia Boffd
a Pós‐Graduação em Saúde e Comportamento, Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil
b Departamento de Dermatologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil
c Clínica privada de veterinária, Pelotas, RS, Brasil
d Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil
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Prezado Editor,

A esporotricose é micose profunda causada por fungos dimórficos do gênero Sporothrix, usualmente subcutânea e de caráter subagudo ou crônico, mas pode ser sistêmica em casos raros. Ela pode ser classificada em quatro categorias: cutâneo‐linfática (cerca de 75% dos casos), cutâneo localizada (20%), disseminada e extracutânea.1,2

As lesões cutâneas tipicamente surgem no sítio de inoculação e são consideradas micose de implantação, adquiridas principalmente ao manejar plantas e/ou solo infectado ou por traumas por animais infectados.1,2

A lesão tem início com pápula inflamatória, evoluindo para nódulo ou goma que ulcera; posteriormente, nas manifestações cutâneo‐linfáticas, surgem pápulas e nódulos ao longo de um ou mais cordões linfáticos próximos à lesão inicial.

Nas últimas duas a três décadas, no Brasil, a esporotricose se difundiu zoonoticamente por meio da espécie Sporothrix brasilienses, que é a espécie mais encontrada em gatos domésticos, atualmente os principais vetores da doença no país.1,2Sporothrix brasilienses está associado a reações de hipersensibilidade e manifestações atípicas da esporotricose, como artrite, eritema nodoso, eritema multiforme e síndrome de Sweet (SS).1–3A SS é dermatose reacional rara que se apresenta tipicamente com lesões cutâneas dolorosas assimétricas do tipo pápulas, nódulos ou placas eritematosas/eritemato‐violáceas, frequentemente chamadas de pseudo‐vesículas em virtude do aspecto visual à inspeção – porém, ao palpá‐las, percebe‐se a consistência papular. Também é chamada de dermatose neutrofílica febril aguda, pois é usual a presença de febre e neutrofilia na apresentação clínica. Histopatologicamente, a SS sempre se apresenta com infiltrado inflamatório neutrofílico denso na derme papilar.4

Examinamos uma paciente de 51 anos que teve contato com gato doméstico, sacrificado por esporotricose. A paciente refere que cuidou do gato, porém nunca foi arranhada ou mordida pelo animal.

Duas semanas após a morte do mesmo, a paciente apresentou pústula na coxa (fig. 1A), tratada com neomicina tópica, que evoluiu para lesão ectimoide (fig. 1B). Alguns dias depois, iniciou com lesões disseminadas, com aspecto pseudovesicular (fig. 2) acompanhadas de artralgia, que dificultavam bastante a deambulação. Com a suspeita de SS associada a esporotricose, dada a história de exposição ao gato e sem uso de medicamentos que a pudessem causar, foi iniciado itraconazol oral, 100mg/dia e prednisona 40mg/dia. Foi coletada cultura da lesão ectimoide, que resultou positiva para Sporothrix sp. (fig. 1C). O exame histopatológico da biopsia da lesão inflamatória do dorso mostrou edema marcado da derme superficial associado a infiltrado linfocitário e neutrofílico com extravasamento de hemácias. Ausência de espongiose ou de dano vacuolar (figs. 3 e 4).

Figura 1.

(A) Aspecto clínico inicial com pústula. (B) Evolução para lesão ectimoide. (C) Cultura positiva para Sporothrix spp.

(0.32MB).
Figura 2.

(A) Lesões disseminadas eritematosas. Note a lesão ectimoide na parte inferior (seta). (B) Detalhe das lesões com aspecto pseudovesicular (setas).

(0.36MB).
Figura 3.

Microscopia óptica com edema marcado da derme superficial associado a infiltrado linfocitário e neutrofílico com extravasamento de hemácias. Ausência de espongiose, vasculite ou de dano vacuolar (Hematoxilina & eosina, 100×).

(0.2MB).
Figura 4.

Detalhe do edema da derme papilar, correspondente à pseudovesícula (Hematoxilina & eosina, 400×).

(0.12MB).

Houve regressão rápida da dor e das lesões inflamatórias. O corticoide foi suspenso em 7 dias, e o tratamento foi completado com antifúngico por 90 dias, com resolução completa da lesão.

Este relato documenta bem a intensa reação de hipersensibilidade em caso bem localizado de lesão única de esporotricose. Em série de dez casos associados à SS,3 nove eram de formas localizadas, como no presente caso. A associação dessa reação de hipersensibilidade com outras micoses profundas também já é bem estabelecida, como histoplasmose,5 coccidioidomicose e até micobacterioses.6

Este caso é peculiar pela intensa reação associada à forma oligossintomática de esporotricose; outro aspecto interessante neste caso é a lesão pustulosa inicial, provavelmente sem trauma de inoculação.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Hiram Larangeira de Almeida Jr: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Augusto Scott da Rocha: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Lilian Müller: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Ana Letícia Boff: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
R. Orofino-Costa, D.F.S. Freitas, A.R. Bernardes-Engemann, A.M. Rodrigues, C. Talhari, C.E. Ferraz, et al.
Human sporotrichosis: recommendations from the Brazilian Society of Dermatology for the clinical, diagnostic and therapeutic management.
An Bras Dermatol., 97 (2022), pp. 757-777
[2]
R.C. Schechtman, E.M.M. Falcão, M. Carard, M.S.C. García, D.S. Mercado, R.J. Hay.
Sporotrichosis: hyperendemic by zoonotic transmission, with atypical presentations, hypersensitivity reactions and greater severity.
An Bras Dermatol., 97 (2022), pp. 1-13
[3]
de Lima ÍMF, C.E. Ferraz, R. Gonçalves de Lima-Neto, D.M. Takano.
Case Report: Sweet Syndrome in Patients with Sporotrichosis: A 10‐Case Series.
Am J Trop Med Hyg., 103 (2020), pp. 2533-2538
[4]
C.D. Villarreal-Villarreal, J. Ocampo-Candiani, A. Villarreal-Martínez.
Sweet Syndrome: A Review and Update.
Actas Dermosifiliogr., 107 (2016), pp. 369-378
[5]
G. Yan, K.B. Tan, N.S. Chandran, L. Chai, K.L. Chew, J. Somani, et al.
Histoplasmosis presenting with Sweet's syndrome.
Clin Microbiol Infect., 26 (2020), pp. 795-796
[6]
T.P. Joshi, S.K. Friske, D.A. Hsiou, M. Duvic.
New practical aspects of sweet Syndrome.
Am J Clin Dermatol., 23 (2022), pp. 301-318

Como citar este artigo: Almeida Jr HL, Scott da Rocha A, Müller L, Boff AL. Single‐lesion sporotrichosis triggering Sweet's syndrome. An Bras Dermatol. 2024;99:788–90.

Trabalho realizado na Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil.

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