Lemos com interesse o artigo de Veasey et al.1, no qual os autores relatam um caso de tinha negra palmar em que a microscopia confocal de reflectância (MCR) foi usada para confirmar o diagnóstico clínico. Tinha negra é uma micose superficial cutânea pigmentada causada principalmente por Hortaea werneckii. A manifestação clínica típica desse fungo é uma mácula isolada, com coloração marrom a preta, assintomática, com bordas irregulares, localizada principalmente nas palmas das mãos ou nas plantas dos pés, pois se acredita que a infecção ocorra como resultado da inoculação de uma fonte de contaminação (como solo, esgoto, madeira ou adubo composto) após trauma nas áreas afetadas. Embora geralmente sejam maiores e mais claras, essas lesões tendem a se assemelhar a nevos acrais ou melanoma, o que leva a muitas biópsias desnecessárias.
A MCR é uma técnica de imagem emergente e não invasiva que pode mostrar as hifas como estruturas lineares e hiperrefletivas finas no estrato córneo em micoses cutâneas superficiais,2,3 inclusive tinha negra,1,4 o que permite confirmar o diagnóstico clínico e evitar exames micológicos convencionais e biópsias de pele1 (fig. 1). No entanto, as hifas devem ser diferenciadas dos contornos dos queratinócitos normais, que podem formar linhas finas, e de artefatos. Curiosamente, corpúsculos hiperreflexivos estrelados são frequentemente visíveis na pele acral à MCR, possivelmente correspondendo às membranas de queratinócitos em um plano não paralelo ao cabeçote do microscópio.5 A figura 2 mostra a pele acral normal de uma pessoa saudável, na qual esses artefatos são bem visíveis e são idênticos às imagens apresentadas por Veasey et al.1 como hifas de tinha negra. Os autores afirmaram que as hifas identificadas pela MCR na tinha negra eram tortuosas, irregulares e curtas, diferentes da morfologia das hifas delgadas e alongadas dos dermatófitos. No entanto, em nossa experiência e no outro caso de tinha negra relatado na literatura, as hifas de H. werneckii se apresentam alongadas e delgadas à MCR. Além disso, também é possível observar que elas são septadas. O caso de Veasey et al.1 destaca a dificuldade de identificar e descrever pela primeira vez o que não se conhece com as novas técnicas de imagem e sugere cautela ao se fazerem as primeiras descrições no campo da medicina.
Em conclusão, a MCR pode ajudar a identificar as hifas da tinha negra, assim como de outras micoses cutâneas superficiais, mas a presença de possíveis artefatos que imitam estruturas fúngicas na pele acral deve ser considerada nessa micose que afeta principalmente as palmas das mãos e as plantas dos pés.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresElisa Cinotti: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Jean Luc Perrot: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Pietro Rubegni: Aprovação da versão final do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.
Conflitos de interesseNenhum.
Como citar este artigo: Cinotti E, Perrot JL, Rubegni P. Beware of reflectance confocal microscopy artifacts when searching hyphae in acral skin. An Bras Dermatol. 2020;95:129–30.
Trabalho realizado no Departamento de Ciências Médicas, Cirúrgicas e Neurológicas, Seção de Dermatologia, Universidade de Siena, Hospital S. Maria alle Scotte, Siena, Itália.