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Vol. 96. Núm. 6.
Páginas 778-781 (1 novembro 2021)
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Carta ‐ Investigação
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Consenso Brasileiro de Psoríase 2020 e Algoritmo de Tratamento da Sociedade Brasileira de Dermatologia
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Ricardo Romitia,
Autor para correspondência
rromiti@hotmail.com

Autor para correspondência.
, André Vicente E. de Carvalhob, Gleison V. Duartec, Grupo de Trabalho do Consenso Brasileiro de Psoríase da Sociedade Brasileira de Dermatologia 1
a Departamento de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, SP, Brasil
b Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil
c Instituto Bahiano de Imunoterapias, Salvador, BA, Brasil
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Tabela 1. Classificação das opiniões dos respondentes, por pergunta, Brasil – 2020
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Prezado Editor,

A elucidação dos mecanismos fisiopatológicos e o desenvolvimento de novos tratamentos para a psoríase demandam periódicas atualizações na publicação de consensos, algoritmos e guias de tratamento.

No Brasil, a composição étnica e o aumento da longevidade da população, além de características climáticas e de insolação, podem implicar em dados epidemiológicos únicos e diferentes prevalências regionais de psoríase, além de influenciar a gravidade da doença e a resposta terapêutica. Dados recentes da Sociedade Brasileira de Dermatologia estimam a prevalência da psoríase no Brasil em 1,31% – 1,15% (95% IC 0,90% a 1,43%) em mulheres e 1,47% (95% IC 1,11% a 1,82%) em homens (p=0,22). Identificou‐se aumento da prevalência de psoríase (p< 0,01) quanto à faixa etária, que, abaixo dos 30 anos, foi de 0,58% (95% IC 0,31% a 0,84%), entre 30 e 60 anos foi de 1,39% (95% IC 1,10% a 1,74%), e, entre maiores de 60 anos, 2,29% (95% IC 1,71% a 2,84%). As regiões do país diferiram quanto à prevalência da doença (p=0,02), com maiores indicadores nas regiões Sul e Sudeste, em contraste com Centro‐Oeste, Norte e Nordeste.1

Em paralelo, 73,4% dos pacientes brasileiros com psoríase moderada a grave referem comprometimento da qualidade de vida relacionada à saúde (Health related quality of Life).2

Apresentamos o Consenso Brasileiro de Psoríase 2020 e Algoritmo de Tratamento da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) elaborados com a colaboração de especialistas de todas as regiões do Brasil (fig. 1).

Figura 1.

Distribuição de especialistas participantes do Consenso Brasileiro de Psoríase 2020, de acordo com as diferentes regiões do Brasil.

(0.22MB).

Na elaboração deste consenso, utilizamos a estratificação dos níveis de evidência e seu grau de recomendação, conforme as Diretrizes da Associação Médica Brasileira (AMB), descritas a seguir:

Grau de recomendação e força de evidência3

A: Estudos experimentais e observacionais de melhor consistência.

B: Estudos experimentais e observacionais de menor consistência.

C: Relatos de casos (estudos não controlados).

D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais.

Neste documento, utilizamos a ferramenta Delphi para obter respostas em questões não consensuais na literatura, por meio da coleta anônima de dados entre especialistas no tema. O método Delphi é definido como “uma técnica de obtenção de dados usada para obter o consenso de um grupo de especialistas em determinado assunto”.4 Dessa maneira, foi validado novo fluxograma de tratamento da psoríase grave e definidas estratégias para migração de terapias, delineadas para sua adoção no contexto de saúde pública ou privada brasileiro, a partir da escuta de múltiplas vozes entre especialistas imersos nesses sistemas de saúde (fig. 2).

Figura 2.

Algoritmo de tratamento da psoríase grave da Sociedade Brasileira de Dermatologia, 2020.

(0.26MB).

Foram realizados dois rounds com a participação de 66 dermatologistas autores desse consenso, de todas as regiões do país, com experiência no tratamento da psoríase. Foi utilizado um sistema de votação online (Survey Monkey®); considerou‐se consenso a presença de acordo em pelo menos 70% dos especialistas. Dados obtidos foram analisados estatisticamente. A amostra foi obtida por nomeação e submetida a teste de aleatoriedade, que resultou na não rejeição da aleatoriedade, com significância de 5%. Os resultados são mostrados na tabela 1.

Tabela 1.

Classificação das opiniões dos respondentes, por pergunta, Brasil – 2020

Classificação das opiniões dos respondentes, por pergunta, Brasil – 2020
Critério de consenso: 70% ou mais de concordância
Perguntas  Respostas com o maior percentual de concordância  Classificação 
P1: Qual critério de mudança de uma terapia para outra?  Indisponibilidade, intolerância, falha ou contraindicaçäo absoluta ou relativa  Consenso 
P2: Caso o paciente não alcance PASI 50 e DLQI<5 (falha primária) com MTX oral na dose de 15 mg/semana em até 8 semanas, havendo pleno acesso/disponibilidade?  1. Troca de medicação: 54%  Dissenso 
  2 Otimização da dose de MTX até 25 mg/semana, independente da via de administração: 46%   
P3: Caso o paciente não alcance PASI 75 e DLQI<5 (falha secundaria) com MTX oral na dose de 15 mg/semana em até 8 semanas, qual conduta sugerida, havendo pleno acesso/disponibilidade?  Otimização de dose de MTX até 25 mg/semana, independente da via de administração (oral/parenteral)  Consenso 
P4: Caso paciente não alcance PASI 50 e DLQI<5, deve‐se considerar falha a acitretina em:  12–16 semanas  Consenso 
P5: Caso paciente não alcance PASI 50 e DLQI <5, deve‐se considerar falha primária a ciclosporina (até 5 mg/kg) em:  Até 4 semanas  Consenso 
P6: Qual meta terapêutica a ser atingida nos pacientes em uso de biológicos?  PASI 90 ou PASI absoluto <Consenso 
P7: Qual seu grau de concordância com a frase: “Em pacientes que apresentem falha primária a um imunobiológico, deve‐se trocar a medicação por outra com diferente mecanismo de ação?”  70% de concordância  Consenso 
P8: Qual seu grau de concordância com a frase: “Pacientes com falha secundária a um mecanismo de ação biológico podem se beneficiar de mudança para droga da mesma classe?”  51% de concordância  Dissenso 
P9: De 1–10, qual sua concordância com o fluxograma proposto? (1=discordo totalmente; 10=concordo totalmente).  86,4% de concordância  Consenso 

MTX, metotrexato. Fonte: Dados da pesquisa.

Mediado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, esse instrumento representa um avanço na uniformização de condutas, seja na assistência pública ou privada, baseado no que dispomos ou almejamos no tratamamento da psoríase grave. A existência de dissensos estimula posterior debate sobre temas controversos e sem resposta na literatura médica.

O elevado percentual de concordância nos demais temas fornece subsídios aos profissionais atuantes na área para as melhores escolhas terapêuticas, em vez de decisões baseadas unicamente na experiência do prescritor. Tal transparência é fundamental para todos os envolvidos, sejam gestores do sistema de saúde suplementar ou do Sistema Único de Saúde (SUS), médicos, pacientes, seus familiares e associações de pacientes.5

Suporte financeiro

Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Contribuição dos autores

Ricardo Romiti: Concepção e o desenho do estudo; levantamento dos dados, ou análise e interpretação dos dados; análise estatística; redação do artigo ou revisão crítica do conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; aprovação final da versão final do manuscrito.

André Vicente Esteves de Carvalho: Concepção e o desenho do estudo; levantamento dos dados, ou análise e interpretação dos dados; análise estatística; redação do artigo ou revisão crítica do conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; aprovação final da versão final do manuscrito.

Gleison V Duarte: Concepção e o desenho do estudo; levantamento dos dados, ou análise e interpretação dos dados; análise estatística; redação do artigo ou revisão crítica do conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; aprovação final da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Romiti R é/atuou como consultor científico, palestrante ou investigador de estudos clínicos para Abbvie, Boehringer‐Ingelheim, Galderma, Janssen, Lilly, Leo‐Pharma, Novartis, Pierre‐Fabre, Pfizer, UCB e TEVA. Carvalho AVE é/atuou como consultor científico, palestrante ou investigador de estudos clínicos para Abbvie, Boehringer‐Ingelheim, Janssen, Lilly, Leo‐Pharma, Novartis e UCB. Duarte GV é/atuou como consultor científico, palestrante, ou investigador de estudos clínicos para Abbvie, Bayer, Janssen, Leo‐Pharma, Galderma, Novartis, Pfizer e UCB.

Anexo 1

Anexo 1 Autores do Grupo de Trabalho do Consenso Brasileiro de Psoríase da Sociedade Brasileira de Dermatologia

Autores do Consenso Brasileiro de Psoríase 2020 
Silvio Alencar Marques (SP), Luciane D. B. Miot (SP), Maria Cecilia de C. Bortoletto (SP), Arnóbio da Penha Pachêco (RN), Adriane Reichert Faria (PR), Caio Cesar S. de Castro (PR), Luciena C. Martins Ortigosa (SP), Xinaida Lima (CE), Sueli Carneiro (RJ), Marcelo Pinheiro (SP), Mayra Ianhez (GO), Monica Nunes de Souza Santos (AM), Roberta Buense Bedrikow (SP), Rosana Lazzarini (SP), João Carlos R. Avelleira (RJ), Aline Bressan (RJ), André Luís da Silva Hirayama (SP), Sineida B. Ferreira (PR), Adriana M. Porro (SP), Alexandre Gripp (RJ), Ivonise Follador (BA), Juliana Nakano (SP), Andréa Machado C. Ramos (MG), Aripuanã Terena (MG), Francisca Regina O. Carneiro (PA), Vivianne Lira da C. Costa (RN), Anber A. Tanaka (PR), Lincoln Fabricio (PR), Leticia Oba Galvão (DF), Gladys A. Martins (DF), Ricardo Romiti (SP), Clarice Kobata (SP), Michelle dos Santos Diniz (MG), Cacilda da Silva Souza (SP), Renata F. Magalhães (SP), Dimitri Luz (SP), André Vicente E. de Carvalho (RS), Jaquelini Silva (RS), Claudia Maia (RJ), Paulo A. Oldani Felix (RJ), Wagner Galvão (SP), Maria Victoria Suárez Restrepo (SP), Cynthia C. F. Mota (SP), Eduardo L. Martins (SP), Daniel H. Nunes (SC), Andreia Costa (SP), Mauricio Conti (SC), Esther B. Palitot (PB), Ana Carolina B Arruda (SP), Claudio Lerer (DF), Livia Souto (RJ), Roberto Souto (RJ), Jane Bonfá (RJ), Verônica Bogado (RJ), Sidney Augusto da C. Costa (RN), Domingos Jordão Neto (SP), Luiza O. Keiko (SP), Bruna Falcone (SP), Luna Azulay Abulafia (RJ), Aldejane Gurgel de A. Rodrigues (PE), Tania F. Cestari (RS), Juliana Bozza (RS), Marcelo Arnone (SP), Maria Denise F. Takahashi (SP), Heitor de Sá Gonçalves (CE), Paulo Eduardo de Sá Gonçalves (CE), Gleison V. Duarte (BA), Maria de Fátima S. Paim de Oliveira (BA). 

Referências
[1]
R. Romiti, M. Amone, A. Menter, H.A. Miot.
Prevalence of psoriasis in Brazil – a geographical survey.
Int J Dermatol., 56 (2017), pp. 167-168
[2]
N. Lopes, L.L.S. Dias, L. Azulay-Abulafia, L.K.M. Oyafuso, M.V. Suarez, L. Fabricio, et al.
Humanistic and economic impact of moderate to severe plaque psoriasis in Brazil.
Adv Ther., 36 (2019), pp. 2849-2865
[3]
portalmedico.org [Internet]. Brasília: Conselho Federal de Medicina. [cited 2020 Sept 01]. Available from: http://www.portalmedico.org.br/diretrizes/100_diretrizes/Texto_Introdutorio.pdf.
[4]
J. Marques, D. Freitas.
Método DELPHI: caracterização e potencialidades na pesquisa em Educação.
Pró‐Posições [Internet]., 29 (2018), pp. 389-415
[5]
B. Kea, Chih-An. Sun.
Consensus development for healthcare professionals.
Intern Emerg Med., 10 (2015), pp. 373-383

A lista de participantes está disponível no Anexo 1.

Como citar este artigo: Romiti R, Carvalho AVE, Duarte GV et al; Grupo de Trabalho do Consenso Brasileiro de Psoríase da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Brazilian Consensus on Psoriasis 2020 and Treatment Algorithm of the Brazilian Society of Dermatology. An Bras Dermatol. 2021;96:778–81.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Hospital das Clínicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP; Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre, Porto Alegre, RS; Instituto Bahiano de Imunoterapias, Salvador, BA, Brasil.

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