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Vol. 95. Núm. 4.
Páginas 521-523 (1 julho 2020)
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Vol. 95. Núm. 4.
Páginas 521-523 (1 julho 2020)
Qual o seu diagnóstico?
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Caso para diagnóstico. Lesão eritematoescamosa pruriginosa no pavilhão auricular
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Elaine Dias Meloa,
Autor para correspondência
e.dmelo@yahoo.com

Autor para correspondência.
, Patrícia Motta de Moraisb, Débora Cristina de Lima Fernandesc, Paula Frassinetti Bessa Rebellod
a Departamento de Ensino e Pesquisa, Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta, Manaus, AM, Brasil
b Departamento de Histopatologia, Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta, Manaus, AM, Brasil
c Laboratório de Micologia, Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta, Manaus, AM, Brasil
d Departamento de Dermatologia Tropical, Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta, Manaus, AM, Brasil
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Resumo

A cromoblastomicose é micose subcutânea de evolução crônica que acomete principalmente os membros inferiores e, com menor frequência, o pavilhão auricular. Clinicamente, apresenta‐se com lesões papulosas verrucosas, nodulares e/ou tumorais, isoladas, ou infiltradas, forma placas e, às vezes, atrofia em algumas áreas. A histopatologia caracteriza‐se por infiltrado inflamatório granulomatoso dérmico e o diagnóstico pode ser confirmado por meio da detecção de corpos fumagoides nos exames anatomopatológico ou micológico direto. O tratamento a ser indicado dependerá da extensão e localização das lesões, são usados antifúngicos sistêmicos, remoção cirúrgica, crioterapia, termoterapia e imunoadjuvantes. No presente trabalho relata‐se apresentação atípica de cromoblastomicose no pavilhão auricular.

Palavras‐chave:
Cromoblastomicose
Micoses
Orelha
Pavilhão auricular
Texto Completo
Relato do caso

Paciente do sexo masculino, 57 anos, trabalhador rural, apresentava lesão pruriginosa no pavilhão auricular esquerdo. Evolução de 20 anos. Não recordava trauma local no início da enfermidade. Ao exame, lesão infiltrada, eritematoescamosa, na orelha esquerda. Exame histopatológico − infiltrado inflamatório granulomatoso com focos supurativos (fig. 1 A e B).

Figura 1.

(A e B) lesão eritematoescamosa, infiltrativa, na orelha esquerda. Histopatológico: infiltrado inflamatório granulomatoso com focos supurativos (Hematoxilina & eosina, 400×).

(0.14MB).

Qual é o seu diagnóstico?

  • 1.

    Doença de Jorge Lobo

  • 2.

    Sarcoidose

  • 3.

    Paracoccidioidomicose

  • 4.

    Cromoblastomicose

Na revisão dos cortes para exame histopatológico, presença de corpos fumagoides, compatível com cromoblastomicose.

No exame direto de fragmentos da biópsia, em KOH a 20%, hifas demáceas septadas e células leveduriformes isoladas, aos pares, e algumas estruturas gemulantes. Na cultura, em ágar Mycosel (DIFCO®) e ágar Sabouraud dextrose (DIFCO®) com cloranfenicol (0,05g/L), crescimento de colônia enegrecida e no microcultivo, achados fenotípicos compatíveis com Rhinocladiella sp. (fig. 2 A e B).

Figura 2.

(A e B) exame direto: corpos fumagoides. Microcultivo: hifas demáceas septadas e conídios elípticos na porção superior de conidióforos simples ou pouco ramificados − características fenotípicas compatíveis com Rhinocladiella spp. (KOH‐20%, 400×; cor azul, por lactofenol, 400×).

(0.1MB).

A espécie R. aquaspersa foi confirmada por amplificação e sequenciamento da região espaçadora intergênica (ITS) do DNA ribossomal (rDNA) por meio da técnica de PCR.

Após confirmação do diagnóstico de cromoblastomicose, iniciou‐se itraconazol 300mg/dia, houve melhoria significativa depois de 25 dias e remissão quase completa em 10 semanas (fig. 3 A e B). O paciente continua sob acompanhamento ambulatorial.

Figura 3.

(A e B) após 25 dias de tratamento e ao final de 10 semanas.

(0.11MB).
Discussão

A cromoblastomicose é micose subcutânea, ocasionada por fungos demáceos da ordem Chaetothyriales, família Herpotrichiellaceae, encontrados no solo, vegetais, plantas e madeira em decomposição.1,2 Os principais agentes etiológicos pertencem aos gêneros Fonsecaea, Cladophialophora, Phialophora, Rhinocladiella e Exophiala. A inoculação ocorre após trauma com material contaminado.1,3,4

A doença acomete com maior frequência homens entre 40 e 50 anos, é considerada cosmopolita, com maior prevalência nas regiões tropicais e subtropicais.2 No Brasil ocorre na maioria dos estados, com predomínio na região amazônica, particularmente no estado do Pará.2,5

A doença acomete, principalmente, os membros inferiores. Nos casos com longa evolução, é comum a associação com linfedema.1,4,6 No Japão, as localizações mais comuns são os membros superiores, face e região cervical.2 São raros os relatos de manifestações exclusivas do pavilhão auricular.1,3,6–10 Dentre os casos relatados nessa topografia, Fonsecaea pedrosoi1,3,10 e Phialophora verrucosa7 foram os agentes mais identificados, seguidos por Fonsecaea nubica6 e Rhinocladiella aquaspersa.8

De acordo com a literatura consultada, este é o segundo caso com acometimento isolado do pavilhão auricular ocasionado por R. aquaspersa.

No diagnóstico diferencial, na região amazônica, deve‐se considerar a doença de Jorge Lobo, hanseníase, leishmaniose anérgica, tuberculose cutânea e paracoccidioidomicose. Os exames histopatológico e micológico são essenciais para o diagnóstico.

Há vários tratamentos indicados para a cromoblastomicose. Para lesões localizadas são recomendados exérese cirúrgica, crioterapia ou termoterapia; para casos mais extensos recomendam‐se antifúngicos sistêmicos e imunoadjuvantes.2,4 Dentre os antifúngicos sistêmicos, são empregados itraconazol, posaconazol, voriconazol e isavuconazol.4 Há relato de dois casos de cromoblastomicose em localização auricular que apresentaram regressão completa após tratamento com flucitosina3 e itraconazol1 durante 12 e 10 semanas, respectivamente.

Há relatos de boa resposta terapêutica com associação de antifúngicos sistêmicos e imunoadjuvantes tópicos, tais como imiquimod.4

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Elaine Dias Melo: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.

Patrícia Motta de Morais: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Débora Cristina de Lima Fernandes: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.

Paula Frassinetti Bessa Rebello: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Agradecimentos

Ao professor Antônio Pedro Mendes Schettini, médico dermatopatologista, chefe do Laboratório de Histopatologia da Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta, Dr. Sinésio Talhari, médico dermatologia da Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta, e Dra. Maria Zeli Moreira Frota, farmacêutica bioquímica da Universidade Federal do Amazonas.

Referências
[1]
V.F.M. Estrada, G.A.V. Paz, M.R. Tolosa.
Chromomycosis: Report of a case with unusual topography.
Rev Iberoam Micol., 28 (2011), pp. 50-52
[2]
A.C. Brito, M.J.S. Bittencourt.
Chromoblastomycosis: an etiological, epidemiological, clinical, diagnostic, and treatment update.
An Bras Dermatol., 93 (2018), pp. 495-506
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T. Iwatsu, M. Takano, S. Okamoto.
Auricular chromomycosis.
Arch Dermatol., 119 (1983), pp. 88-89
[4]
F. Queiroz-Telles, S. de Hoog, D.W. Santos, C.G. Salgado, V.A. Vicente, A. Bonifaz, et al.
Chromoblastomycosis.
Clin Microbiol Rer, 30 (2017), pp. 233-276
[5]
S. Talhari, M.G. Cunha, A.P. Schettini, A.C. Talhari.
Deep mycoses in Amazon region.
Int J Dermatol., 27 (1988), pp. 481-484
[6]
Y. Chen, S. Yin, M. Li, R. Chen, L. Wei, H. Ma, et al.
A case of chromoblastomycosis by Fonsecaea nubica indicating a possible insect route of transmission.
Mycoses., 59 (2016), pp. 662-667
[7]
A.L. Bittencourt, A.T. Londero, J.A. Andrade.
Auricular chromoblastomycosis. A case report.
Rev Inst Med Trop São Paulo., 36 (1994), pp. 381-383
[8]
M. Arango, C. Jaramillo, A. Cortés, A. Restrepo.
Auricular chromoblastomycosis caused by Rhinocladiella aquaspersa.
Med Mycol., 36 (1998), pp. 43-45
[9]
R. Minotto, C.D. Bernardi, L.F. Mallmann, M.I. Edelweiss, M.L. Scroferneker.
Chromoblastomycosis: a review of 100 cases in the state of Rio Grande do Sul Brazil.
J Am Acad Dermatol., 44 (2001), pp. 585-592
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K. França, R.T. Villa, V.R. Bastos, A.C. Almeida, K. Massucatti, D. Fukumaru, et al.
Auricular Chromoblastomycosis: A Case Report and Review of Published Literature.
Mycopathologia., 172 (2011), pp. 69-72

Como citar este artigo: Melo ED, Morais PM, Fernandes DCL, Rebello PFB. Case for diagnosis. Pruritic erythematosquamous lesion in the auricle. An Bras Dermatol. 2020;95:521–3.

Trabalho realizado na Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta, Manaus, AM, Brasil.

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