Paciente feminina, de 26 anos, saudável, procurou o Serviço de Dermatologia em virtude de alterações na cor da unha há um ano e descolamento da lâmina ungueal do quarto dedo da mão esquerda. A paciente relatou ter sido continuamente exposta a lâmpadas UV para unhas, duas vezes por mês, durante dois anos. Ela não utilizou protetor solar ou qualquer outro tipo de proteção durante o uso do aparelho. A paciente também não utilizava câmaras de bronzeamento. O teste micológico realizado foi negativo e a paciente recebeu tratamentos micológicos tópicos sem resposta.
Ao exame físico, foram observadas leuconiquia proximal, cromoníquia marrom‐amarelada distal e onicomadese (fig. 1).
Foi realizada biópsia da matriz ungueal e a histopatologia mostrou hiperparaceratose, acantose e proliferação intraepitelial de queratinócitos atípicos, com ausência de maturação e mitoses abundantes (fig. 2). Com o diagnóstico de carcinoma espinocelular in situ, foi submetida a uma ressecção parcial (fig. 3). Em virtude da localização tumoral de alto risco, foi indicada cirurgia micrográfica de Mohs.
O carcinoma espinocelular é neoplasia maligna de células queratinizadas da epiderme e seus anexos. Existem fatores de risco bem definidos para seu desenvolvimento – o principal deles é a exposição à radiação ultravioleta (UV).1 Dentro do espectro da radiação UV, a associação do tipo A com o carcinoma espinocelular, após exposição prolongada, é bem conhecida.2
Atualmente, a manicure em gel ou acrílico é prática muito comum na população, e requer o uso de UVA com lâmpadas fluorescentes ou LED que têm espectro de emissão de 375 a 425 nanômetros.3 Alguns relatos de casos sugerem a ligação entre o uso de lâmpadas UVA para unhas e o desenvolvimento de carcinomas espinocelulares e ceratose actínica, tanto nos dedos quanto no dorso das mãos.4–7 A literatura e os relatos de casos publicados até agora concluem que há risco em potencial e limitam‐se a dar recomendações sobre seu uso. Em estudo publicado recentemente na NatureCommunications, o efeito molecular da radiação emitida pelas lâmpadas UV para unhas foi avaliado experimentalmente em células de mamíferos e humanas, demonstrando que ela é citotóxica, genotóxica e mutagênica, predispondo a risco aumentado de carcinomas.2
Algumas autoridades, como a Food and Drug Administration e a Organização Mundial da Saúde, mencionam o risco de carcinomas causado pela exposição à radiação UV, seja do sol ou de fontes artificiais, como câmaras de bronzeamento. Mesmo assim, não mencionam lâmpadas utilizadas para manicure.8,9
Com a apresentação deste caso, embora não seja possível afirmar relação definitiva entre o uso de lâmpadas UV e o desenvolvimento de carcinoma espinocelular na presente paciente, isso é muito provável por tratar‐se de mulher jovem, sem outros fatores de risco, com a presença de neoplaisa de apresentação única em área diretamente exposta a lâmpadas para cuidado das unhas.
Tendo em vista que as manicures permanentes e as unhas acrílicas estão se tornando cada vez mais populares, considera‐se importante analisar o assunto em virtude do potencial impacto que essa prática pode ter, especialmente em jovens que desconhecem o possível risco desse hábito.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresTatiana Ordoñez: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito.
Marina Ruf: Concepção e planejamento do estudo; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.
Valeria Angles: Obtenção de dados, ou análise e interpretação dos dados.
Gabriel Brau: Elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante.
Damián Ferrario: Obtenção de dados.
Luis Mazzuoccolo: Aprovação da versão final do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.
Como citar este artigo: Ordoñez T, Ruf M, Angles V, Brau G, Ferrario D, Mazzuoccolo L. Squamous cell carcinoma of the nail unit after repeated UV nail lamp exposure. A call for action? An Bras Dermatol. 2024;99:972–4.
Trabalho realizado no Hospital Italiano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina.