São apresentados cinco casos eflúvio telógeno em resolução, com a presença de repilação frontal, bitemporal e occipital. Diagnosticar eflúvio telógeno agudo após o término da fase ativa pode ser desafiador, especialmente quando o teste de tração é negativo. O diagnóstico diferencial inclui a alopecia areata e a tracional. Sinais clínicos da repilação após o eflúvio telógeno podem ajudar no diagnóstico. As áreas frontal e temporal apresentam mais fios em telógeno e são mais afetadas. Na borda occipital, os fios parecem ter o mesmo comportamento. Propomos a tríade de eflúvio telógeno agudo em resolução: franja frontal, recesso temporal e franja occipital.
Caso 1: Paciente do sexo feminino, 35 anos de idade, hígida. Apresentou queda de cabelos três meses após a gestação, por três meses, seguido de repilação espontânea. Foto de 15 meses após o parto.
Caso 2: Paciente do sexo feminino, 51 anos de idade, que três meses antes da consulta apresentou queda importante de cabelos após emagrecimento. Foto mostra o quadro capilar três meses após cessada a queda.
Caso 3: Paciente do sexo feminino, 45 anos de idade. Após emagrecimento por dieta restritiva, apresentou queda importante dos cabelos e foi vista em consulta três meses depois de cessada a queda.
Caso 4: Paciente do sexo feminino, 34 anos de idade. Após grave acidente automobilístico, foi internada por hematoma extradural e amputação de braço. Três meses depois, apresentou queda importante dos cabelos. Foto de quatro meses após estabilização do quadro.
Caso 5: Paciente de 17 anos de idade, sexo feminino, com diagnóstico de neurofibromatose, internada por quadro de infecção intestinal importante. Três meses depois da alta, apresentou queda importante dos cabelos, com resolução espontânea. Foto na consulta de três meses após interrupção da queda.
As figuras 1‐4 mostram esses cinco casos de eflúvio telógeno (ET), com quantidade expressiva de fios de repilação na região frontal, bitemporal e occipital. A figura 5 mostra análise das pontas dos cabelos: as pontas afiladas correspondem a fios em repilação (short regrowing hairs). Na tricoscopia da área occipital, vários fios curtos com pontas com essas características.
Diagnosticar ET agudo após passada sua fase ativa pode ser um desafio em muitos casos, especialmente quando o teste de tração (pull test) já está negativo. Questiona‐se se realmente há queda de cabelos, se houve um eflúvio recente ou se o paciente (geralmente do sexo feminino) está com a percepção aumentada dessa situação.
O diagnóstico de ET é essencialmente clínico. Exames laboratoriais, alterações tricoscópicas ou histopatológicas geralmente não confirmam o diagnóstico.1 O tricograma pode auxiliar, quando nele estão presentes mais de 20% de fios telógenos.2,3 O principal diagnóstico diferencial inclui alopecia areata, uma vez que pode ocorrer perda substancial de fios em áreas localizadas ou de maneira difusa.4,5 Na alopecia areata difusa em atividade, o teste de tração leve geralmente é positivo para anágenos; o tricograma pode mostrar anágenos distróficos; a tricoscopia mostra pontos pretos e amarelos, pelos em exclamação, e pode haver pelos de repilação rápida. A histopatologia pode mostrar uma peribulbite linfocitária na fase aguda.5
A alopecia de tração também pode ser incluída no diagnóstico diferencial clínico, com o sinal da franja presente na orla submetida à tração.6 O tricograma é normal; a tricoscopia mostra pelos velos, cilindros peripilares, pontos pretos e pelos quebrados; e a histologia mostra glândulas sebáceas preservadas, aumento do número de telógenos e catágenos, aumento de velos e diminuição dos pelos terminais, além de tricomalácia e grumos de pigmento.7
O diagnóstico diferencial pode, ainda, ser feito com alopecia frontal fibrosante, descartado pela presença de muitos fios velos na região de implantação dos cabelos, e com alopecia androgenética feminina, não confirmado pela ausência de miniaturização dos fios nos casos apresentados.8,9
O conhecimento dos sinais clínicos de repilação após o eflúvio telógeno pode ajudar nesse diagnóstico diferencial. Como as regiões frontal e temporal do couro cabeludo apresentam maior número de fios na fase telógena, essas regiões parecem ser mais afetadas por esse processo.10 Além disso, os fios na borda occipital, apesar de não haver descrição do fato na literatura até o momento, também parecem apresentar predominância de fios telógenos. Chamamos esse conjunto de sinais (rarefação temporal, franja frontal e occipital) de tríade do ET agudo em resolução (figs. 1‐4). Ele pode ajudar clinicamente a diferenciar quais pacientes realmente estão em ET ou o tiveram recentemente. À tricoscopia, podem ser observados vários pelos em repilação (fig. 5).
O conhecimento dessa tríade pode facilitar o diagnóstico do ET e a orientação cuidadosa dos pacientes, com a proposta de um tratamento conservador, sem a necessidade de exames complementares mais invasivos, como a biópsia de couro cabeludo.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresLeticia Arsie Contin: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.
Vanessa Barreto Rocha: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.