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Vol. 99. Issue 1.
Pages 111-114 (1 January 2024)
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Carta ‐ Investigação
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Dermatoscopia de carcinoma basocelular de pequeno diâmetro: estudo de caso‐controle
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Francisca Kinzel‐Malujea, Daniela González‐Godoya, Pablo Vargas‐Moraa,b,c,
Corresponding author
pablovargas.med@gmail.com

Autor para correspondencia.
, Pablo Muñoza
a Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Universidad de Chile, Santiago, Chile
b Departamento de Dermatologia, Clínica Las Condes, Santiago, Chile
c Melanoma and Skin Cancer Unit, Instituto Nacional del Cáncer, Santiago, Chile
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Tabela 1. Características dermatoscópicas de CBCs pequenos e do grupo controle
Tabela 2. Distribuição das características dermatoscópicas em diferentes tipos histopatológicos nos dois grupos de estudo de carcinomas basocelulares
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Prezado Editor,

O carcinoma basocelular (CBC) é a neoplasia maligna cutânea mais comum1–3. Em geral, não está associado a mortalidade, mas seu comportamento local pode ser agressivo e associado a morbidade significante2–4.

O diagnóstico do CBC é geralmente estabelecido com base nas características clínicas e dermatoscópicas. A dermatoscopia provou ser útil no diagnóstico de CBC com base principalmente em estruturas vasculares e pigmentadas, estruturas brancas brilhantes e ulceração5. Atualmente, o desafio é reconhecer lesões mais iniciais e menores, de modo que a morbidade e o risco de cicatrizes desfigurantes sejam minimizados. Até o momento, existem poucos dados sobre as possíveis diferenças dermatoscópicas entre CBCs menores e maiores; a maioria deles não mostrou diferenças relevantes entre esses dois grupos6–8. No presente estudo, os autores buscaram elucidar as diferenças dermatoscópicas entre CBCs menores (≤ 4mm de diâmetro) e maiores (> 4mm de diâmetro).

Laudos histopatológicos de casos de CBC do Departamento de Patologia do Hospital Clínico Universidad de Chile de janeiro de 2016 a abril de 2021 foram revisados. Dois grupos foram selecionados: primeiro, CBCs com diâmetro clínico ≤ 4mm, e um grupo de controle pareado de casos selecionados aleatoriamente com diâmetro de CBCs >4mm. Posteriormente, as imagens dermatoscópicas das lesões foram analisadas por três dermatoscopistas experientes de maneira independente, e as discrepâncias foram posteriormente discutidas e resolvidas.

As variáveis demográficas e clinicopatológicas foram descritas por frequência e porcentagem, enquanto as variáveis contínuas foram descritas por média e desvio padrão. A relação entre variáveis categóricas e tamanho foi avaliada por meio do teste de qui‐quadrado. Quando a frequência esperada para uma combinação de variáveis foi <5, realizou‐se o teste exato de Fisher. Regressão logística multivariada foi usada para estimar a razão de chances (odds ratio – OR) ajustada juntamente com seu intervalo de confiança (IC) de 95%. Valor de p<0,05 foi considerado significante. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o software R v4.1.3 (RCoreTeam, 2022, Viena, Áustria).

Um total de 112 CBCs primários foram coletados, 56 casos pequenos e 56 casos controle. O tamanho médio dos CBCs pequenos foi de 3,0±0,9mm, em comparação com o grupo controle, que foi de 10,5±4,9mm. Não houve diferenças estatisticamente significantes entre os dois grupos em relação à média de idade (grupo ≤ 4mm de diâmetro: 65,2±14,0 e grupo >4mm de diâmetro: 67,2±12,7, p‐valor =0,224) e sexo. A localização tumoral mais frequente foi o nariz (38,4%), seguida da região malar (18,8%), periocular (9,8%), tronco (9,8%), couro cabeludo (5,4%) além de outros locais menos predominantes, e não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os grupos de estudo e controle. Em relação às variantes histopatológicas, os casos foram classificados com base no componente celular de pior prognóstico e apenas o subtipo esclerosante foi encontrado de maneira significante mais frequentemente no grupo controle (sete casos [12,5%] de CBC pequeno e 16 casos [28,6%] no grupo controle, p‐valor=0,035), tendo a diferença desaparecido após a regressão logística univariada (OR=4,00; IC95% 0,88‐18,2; p‐valor=0,073).

As características dermatoscópicas de ambos os grupos são mostradas na tabela 1. Na regressão logística multivariada, o único preditor contra pequenos CBCs que permaneceu estatisticamente significante foi a telangiectasia arboriforme (OR=4,02; IC95% 1,43‐11,3; p‐valor=0,008 – figs. 1 e 2). A distribuição das características dermatoscópicas em cada tipo histopatológico, comparando os dois grupos, é analisada na tabela 2, e diferenças estatisticamente significantes foram encontradas no CBC micronodular para estruturas concêntricas (6 [27,3%] ≤ 4mm e 0 (0%) >4mm; valor p=0,023) e no CBC nodular para telangiectasias finas e curtas (13 [68,4%] ≤ 4mm e 5 [29,4%] >4mm; valor p=0,019).

Tabela 1.

Características dermatoscópicas de CBCs pequenos e do grupo controle

  ≤ 4 mm(n=56)  >4 mm(n=56)  p‐valor 
Telangiectasias arboriformes      0,009 
Não  48 (85,7%)  36 (64,3%)   
Sim  8 (14,3%)  20 (35,7%)   
Telangiectasias superficiais finas e curtas      0,449 
Não  28 (50%)  32 (57,1%)   
Sim  28 (50%)  24 (42,9%)   
Pontos azul‐acinzentados      0,242 
Não  42 (75%)  47 (83,9%)   
Sim  14 (25%)  9 (16,1%)   
Glóbulos azul‐acinzentados      0,541 
Não  40 (71,4%)  37 (66,1%)   
Sim  16 (28,6%)  19 (33,9%)   
Ninhos ovoides azul‐acinzentados      0,654 
Não  44 (78,6%)  42 (75%)   
Sim  12 (21,4%)  14 (25%)   
Estruturas em roda raiada      0,751 
Não  50 (89,3%)  51 (91,1%)   
Sim  6 (10,7%)  5 (8,9%)   
Estruturas concêntricas      0,039 
Não  46 (82,1%)  53 (94,6%)   
Sim  10 (17,9%)  3 (5,4%)   
Estruturas em folha      0,257 
Não  41 (73,2%)  46 (82,1%)   
Sim  15 (26,8%)  10 (17,9%)   
Estruturas brancas brilhantes      0,315 
Não  40 (71,4%)  35 (62,5%)   
Sim  16 (28,6%)  21 (37,5%)   
Múltiplos glóbulos branco‐amarelados agregados      0,405 
Não  50 (89,3%)  47 (83,9%)   
Sim  6 (10,7%)  9 (16,1%)   
Erosão ou ulceração      0,025 
Não  44 (78,6%)  33 (58,9%)   
Sim  12 (21,4%)  23 (41,1%)   
Figura 1.

Carcinoma basocelular pequeno, com 1,5mm de diâmetro, caracterizado por estruturas em folha e pontos marrons

(0.17MB).
Figura 2.

Carcinoma basocelular com aproximadamente 20mm de diâmetro, caracterizado por telangiectasias arboriformes proeminentes, ulceração e estruturas marrons

(0.25MB).
Tabela 2.

Distribuição das características dermatoscópicas em diferentes tipos histopatológicos nos dois grupos de estudo de carcinomas basocelulares

Características  SuperficialMicronodularEsclerosanteNodular
  ≤ 4 mm, (n=7)a  >4 mm, (n=4)a  p‐valorb  ≤ 4 mm, (n=22)a  >4 mm, (n=19)a  p‐valorc  ≤ 4 mm, (n=7)a  >4 mm, (n=16)a  p‐valorb  ≤ 4 mm, (n=19)a  >4 mm, (n=17)a  p‐valorc 
Telangiectasias arboriformes  0 (0,0%)  0 (0,0%)    6 (27,3%)  7 (36,8%)  0,5  0 (0,0%)  7 (43,8%)  0,057  2 (10,5%)  6 (35,3%)  0,11 
Telangiectasias superficiais finas e curtas  1 (14,3%)  2 (50,0%)  0,5  7 (31,8%)  9 (47,4%)  0,3  6 (85,7%)  8 (50,0%)  0,2  13 (68,4%)  5 (29,4%)  0,019 
Pontos azul‐acinzentados  2 (28,6%)  0 (0,0%)  0,5  5 (22,7%)  6 (31,6%)  0,5  1 (14,3%)  0 (0,0%)  0,3  6 (31,6%)  3 (17,6%)  0,5 
Glóbulos azul‐acinzentados  1 (14,3%)  0 (0,0%)  >0,9  9 (40,9%)  10 (52,6%)  0,5  0 (0,0%)  4 (25,0%)  0,3  6 (31,6%)  5 (29,4%)  0,9 
Ninhos ovoides azul‐acinzentados  2 (28,6%)  0 (0,0%)  0,5  4 (18,2%)  7 (36,8%)  0,2  0 (0,0%)  2 (12,5%)  >0,9  6 (31,6%)  5 (29,4%)  0,9 
Estruturas em roda raiada  4 (57,1%)  3 (75,0%)  >0,9  2 (9,1%)  2 (10,5%)  >0,9  0 (0,0%)  0 (0,0%)    0 (0,0%)  0 (0,0%)   
Estruturas concêntricas  2 (28,6%)  1 (25,0%)  >0,9  6 (27,3%)  0 (0,0%)  0,023  1 (14,3%)  1 (6,2%)  0,5  1 (5,3%)  1 (5,9%)  >0,9 
Estruturas em folha  4 (57,1%)  3 (75,0%)  >0,9  7 (31,8%)  3 (15,8%)  0,3  1 (14,3%)  3 (18,8%)  >0,9  3 (15,8%)  1 (5,9%)  0,6 
Estruturas brancas brilhantes  0 (0,0%)  0 (0,0%)    9 (40,9%)  8 (42,1%)  >0,9  2 (28,6%)  6 (37,5%)  >0,9  4 (21,1%)  7 (41,2%)  0,2 
Múltiplos glóbulos branco‐amarelados agregados  0 (0,0%)  0 (0,0%)    2 (9,1%)  1 (5,3%)  >0,9  0 (0,0%)  3 (18,8%)  0,5  3 (15,8%)  5 (29,4%)  0,4 
Erosão ou ulceração  1 (14,3%)  2 (50,0%)  0,5  4 (18,2%)  8 (42,1%)  0,093  3 (42,9%)  7 (43,8%)  >0,9  4 (21,1%)  6 (35,3%)  0,5 
a

n (%).

b

Teste exato de Fisher.

c

Teste qui‐quadrado de Pearson; teste exato de Fisher.

Alguns outros dados sobre as possíveis diferenças dermatoscópicas entre CBCs menores e maiores já foram publicados. Longo et al6. descreveram 87 casos de CBCs com menos de 5mm de diâmetro e controles pareados acima de 5mm, e não encontraram diferenças significantes nos critérios dermatoscópicos, exceto ulceração e pequenas erosões múltiplas, mais frequentemente encontradas em CBCs grandes. Sanchez‐Martin et al7. publicaram uma série de 100 CBCs com diâmetro <6mm. Desses tumores, 77% foram facilmente diagnosticados pelo método de Menzies clássico, que não considera achados dermatoscópicos de CBC descritos mais recentemente. Um subgrupo de tumores de 3mm ou menos de diâmetro apresentou achados semelhantes. Em relação apenas aos tumores pigmentados, Takahashi et al8. descreveram uma pequena série de 11 CBCs pigmentados com menos de 7mm, mostrando os mesmos achados dermatoscópicos clássicos observados em CBCs com diâmetro entre 4 e 6mm e 3mm ou menos. Os achados do presente estudo sugerem quadro semelhante, mas outro fator preditivo não previamente descrito como significante foi a presença de telangiectasia arboriforme, favorecendo tumores maiores. Não foi encontrada literatura que explicasse essa diferença, mas ela pode estar relacionada à maior necessidade de sangue em tumores maiores, como alguns autores sugeriram que acontece no CBC nodular em comparação com o CBC superficial9. Ao analisar cada tipo histopatológico, foram encontradas diferenças dermatoscópicas entre CBCs menores e maiores em tumores micronodulares para estruturas concêntricas e em tumores nodulares para telangiectasias curtas e finas; que seja de conhecimento dos autores, isso não foi descrito anteriormente.

Pequenos CBCs compartilham a maioria das características dermatoscópicas conhecidas do CBC. Por enquanto, apenas algumas diferenças foram encontradas, mas suas características principais permanecem as mesmas. Portanto, parece que a dermatoscopia é ferramenta valiosa para identificar pequenos CBCs e oferecer tratamento aos pacientes em estágios iniciais, reduzindo a morbidade associada a essa doença.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Francisca Kinzel‐Maluje: Concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Daniela González‐Godoy: Obtenção de dados, ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; aprovação da versão final do manuscrito.

Pablo Vargas‐Mora: Concepção e desenho do estudo; obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Pablo Muñoz: Obtenção de dados, ou análise e interpretação dos dados; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Como citar este artigo: Kinzel‐Maluje F, González‐Godoy D, Vargas‐Mora P, Muñoz P. Dermoscopy of small diameter basal cell carcinoma: a case‐control study. An Bras Dermatol. 2024;99:111–4.

Trabalho realizado no Hospital Clínico Universidad de Chile, Santiago, Chile.

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