Journal Information
Vol. 99. Issue 2.
Pages 289-290 (1 March 2024)
Visits
2978
Vol. 99. Issue 2.
Pages 289-290 (1 March 2024)
Carta – Caso Clínico
Full text access
Caso atípico de sífilis primária extragenital
Visits
2978
Miguel Santos Coelho
Corresponding author
mscoelho.derma@gmail.com

Autor para correspondência.
, Joana Alves Barbosa, Margarida Moura Valejo Coelho, Alexandre João
Serviço de Dermatovenereologia, Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal
This item has received
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (2)
Full Text
Prezado Editor,

Um paciente do sexo masculino, natural do Brasil, com 28 anos e sem antecedentes pessoais de relevância, recorreu à consulta de Dermatologia em virtude do surgimento de lesão assintomática na mão direita. Da história clínica apurou‐se o aparecimento de pápula rosada, dois meses antes, com crescimento progressivo e posterior ulceração, não existindo história de traumatismo local ou de lesões semelhantes no passado.

O exame físico permitiu identificar úlcera indolor, com 5 ×5mm, na face dorsal do terceiro dedo da mão direita, com fundo vermelho‐vivo e bordos elevados e infiltrados rosados (fig. 1). Não se identificavam adenopatias locais e o restante exame clínico não apresentava alterações.

Figura 1.

Úlcera do terceiro dedo da mão direita.

(0.3MB).

Foi realizada biopsia puncional do bordo da lesão, que revelou infiltrado linfoplasmocítico denso perivascular e intersticial. A avaliação imuno‐histoquímica com marcação antitreponema demonstrou infiltração massiva epidérmica, anexial e vascular com espiroquetas (fig. 2). Da avaliação laboratorial, destacou‐se FTA‐ABS positivo e VDRL com título de 1/64. As serologias das demais infecções sexualmente transmissíveis (HIV, hepatite B e hepatite C) foram negativas.

Figura 2.

Avaliação por imuno‐histoquímica com marcação antitreponema (200×).

(0.35MB).

Foi estabelecido diagnóstico de sífilis primária extragenital, e o paciente foi medicado com penicilina G benzatínica intramuscular (2,4 milhões UI), em dose única, com resolução completa da lesão nas semanas seguintes.

Discussão

A sífilis é infeção causada pela espiroqueta Treponema pallidum sp. pallidum. O principal método de transmissão envolve o contato da pele ou mucosas com uma lesão infeciosa, geralmente por via sexual. Os demais casos correspondem majoritariamente à transmissão vertical da doença.1

A sífilis primária manifesta‐se por meio de uma ou mais úlceras assintomáticas no local de inoculação, com características semelhantes às descritas no caso clínico, geralmente acompanhadas por adenopatias locais. A lesão surge após um período médio de incubação de três semanas (10–90 dias) e o local mais comum para seu desenvolvimento é a região anogenital.2 Na ausência de tratamento, ocorre cicatrização após algumas semanas e, posteriormente, cerca de 1/3 dos pacientes desenvolve manifestações de sífilis secundária.2

A sífilis primária extragenital é evento raro, correspondente a 2%–7% dos casos reportados.3 A cavidade oral é a área mais frequentemente afetada.2,4 A história natural, o tratamento e prognóstico das lesões primárias são independentes de sua localização.

O diagnóstico diferencial clínico das lesões extragenitais é extenso e deve ser guiado pela história clínica. As micobacterioses cutâneas, infecções herpéticas, leishmaniose cutânea e o carcinoma espinocelular são entidades a serem consideradas.

O diagnóstico é realizado frequentemente por meio da conjugação da história clínica, do exame físico e testes serológicos treponêmicos e não treponêmicos. Neste caso, a biopsia cutânea foi realizada em virtude da localização atípica da lesão e com o objetivo de excluir outras etiologias. As avaliações por exame direto em campo escuro e pesquisas por reação em cadeia da polimerase (PCR) são outros métodos de diagnóstico por vezes utilizados.2

Este caso clínico ilustra uma apresentação rara de sífilis primária e demonstra a importância desse diagnóstico diferencial em lesões com as características referidas, independentemente de sua localização.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Miguel Santos Coelho: Levantamento dos dados, análise e interpretação dos dados; redação do artigo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação final da versão final do manuscrito.

Joana Alves Barbosa: Levantamento dos dados, análise e interpretação dos dados; redação do artigo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação final da versão final do manuscrito.

Margarida Moura Valejo Coelho: Revisão crítica da literatura; aprovação final da versão final do manuscrito.

Alexandre João: Levantamento dos dados, análise e interpretação dos dados; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; aprovação final da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
A.K. Forrestel, C.L. Kovarik, K.A. Katz.
Sexually acquired syphilis: historical aspects, microbiology, epidemiology, and clinical manifestations.
J Am Acad Dermatol., 82 (2020), pp. 1-14
[2]
M. Janier, M. Unemo, N. Dupin, G.S. Tiplica, M. Potočnik, R. Patel.
2020 European guideline on the management of syphilis.
J Eur Acad of Dermatol Venereol., 35 (2020), pp. 574-588
[3]
K. Eccleston, L. Collins, S.P. Higgins.
Primary syphilis.
Int J STD AIDS., 19 (2008), pp. 145-151
[4]
F. Drago, G. Ciccarese, L. Cogorno, C.F. Tomasini, E.C. Cozzani, S.F. Riva, et al.
Primary syphilis of the oropharynx: an unusual location of a chancre.
Int J STD AIDS., 26 (2014), pp. 679-681

Como citar este artigo: Santos‐Coelho M, Barbosa JA, Coelho MMV, João A. An unusual case of extragenital primary syphilis. An Bras Dermatol. 2024;99:289–90.

Trabalho realizado no Serviço de Dermatovenereologia do Hospital de Santo António dos Capuchos – Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal.

Copyright © 2023. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Download PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia
Article options
Tools
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.