O melanoma é o câncer de pele mais agressivo, com alta mortalidade. O diagnóstico tardio contribui para o mau prognóstico. A detecção precoce é a melhor abordagem para melhorar o resultado em pacientes com melanoma.1–3
Aproximadamente 50% dos melanomas não são detectados na autoinspeção.4 Para evitar as consequências do diagnóstico tardio, todos os profissionais médicos e não médicos que têm contato direto com a pele dos pacientes podem desempenhar papel fundamental no encaminhamento a um dermatologista em caso de lesões suspeitas. Os esteticistas observam uma grande extensão da pele de seus clientes e, portanto, estão em uma posição privilegiada para detectar lesões melanocíticas. Além disso, esses profissionais costumam ter contato com seus clientes, principalmente mulheres, com mais frequência do que dermatologistas ou médicos de família.
Este estudo teve como objetivo investigar o conhecimento, as práticas de vigilância e as atitudes em relação ao melanoma entre esteticistas na área metropolitana de Roma e aumentar a conscientização sobre o potencial papel desses profissionais na detecção precoce do melanoma cutâneo e encaminhamento para um dermatologista.
Os dados foram obtidos por meio de questionários autoaplicáveis preenchidos por 30 esteticistas certificados que trabalham em salões de beleza em Roma, Itália, durante um simpósio de um dia conduzido por uma dermatologista (LV) e projetado para apresentar os parâmetros clínicos básicos para detecção de melanoma e aumentar a conscientização sobre a importância da triagem. O questionário foi inspirado no estudo de Roosta et al., os primeiros a investigar as práticas e atitudes de vigilância do melanoma de cabeça e pescoço em cabeleireiros.2 O questionário consistia em duas partes: a primeira parte foi administrada antes do simpósio, com o objetivo de avaliar o conhecimento atual e o comportamento dos participantes; a segunda parte foi administrada após o simpósio, para avaliar a extensão do conhecimento adquirido durante a palestra, o comportamento futuro esperado e a disposição para aprender mais sobre o rastreamento de melanoma e encaminhar para dermatologistas.
A taxa de resposta foi de 100%. Todas as esteticistas eram do sexo feminino, com média de 37 anos. A maioria delas não tinha certeza sobre os sinais corretos do melanoma. No entanto, uma esmagadora maioria (96,7%) desejava aprender mais sobre a detecção de melanoma (fig. 1). As modalidades educacionais preferidas foram simpósios ao vivo (50%) e vídeos (40%). Muitas esteticistas já examinavam a pele de seus clientes, independentemente de serem solicitadas a fazê‐lo. Quando detectavam uma lesão suspeita, a maioria das esteticistas (90%) encaminhava o cliente para procurar atendimento médico. Uma proporção significativa desses encaminhamentos resultou em alguma forma de diagnóstico médico (90%). É importante ressaltar que quase todas as esteticistas (96,7%) relataram que estariam dispostas a informar seus clientes sobre uma lesão observada após serem devidamente treinadas na detecção de melanoma.
(A), Porcentagem de esteticistas que receberam treinamento sobre câncer de pele na escola de beleza; (B), porcentagem de esteticistas que desejam aprender mais sobre a detecção de melanoma; e (C), porcentagem de esteticistas que desejam informar e encaminhar clientes a dermatologistas em caso de lesões suspeitas após receber treinamento adequado.
Tanto quanto é do conhecimento dos autores, este é o primeiro estudo a investigar o papel potencial dos esteticistas na detecção de melanomas cutâneos na população em geral. Ele segue uma linha de pesquisa atual que visa identificar novas figuras profissionais que possam atuar como ponte entre o dermatologista e a população em geral e melhorar a prevenção secundária do melanoma.5 Da mesma maneira que os cabeleireiros, os esteticistas estão em uma posição única para detectar câncer de pele, dado seu contato rotineiro com uma parte significativa do público e sua observação de locais do corpo que os pacientes normalmente não são capazes de observar, como a área genital ou o dorso. No entanto, este levantamento não levou em consideração a distribuição anatômica das lesões. Outra limitação do presente estudo é a pequena amostra de esteticistas incluída.
O direito europeu, além de definir normas para esteticistas, estabelece os parâmetros necessários à qualificação profissional, com cursos de formação profissional específicos. Com esta carta, os autores esperam aumentar a conscientização sobre a potencial utilidade de esteticistas devidamente treinados no rastreamento do melanoma na comunidade em geral e propor que módulos dermatológicos sejam obrigatórios na sua formação.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresLaura Vollono: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Giovanni Paolino: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Anna Buonocore: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.
Michele Donati: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Conflitos de interesseNenhum.
Como citar este artigo: Vollono L, Paolino G, Buonocore A, Donati M. Assessing beauticians’ knowledge of cutaneous melanoma and willingness to contribute to melanoma surveillance practices on the general population. An Bras Dermatol. 2020;95:764–5.
Trabalho realizado no simpósio Viso Perfetto, novembro de 2019, Roma, Itália.