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Vol. 95. Núm. 4.
Páginas 529-531 (1 julho 2020)
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Carta ‐ Investigação
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Terapia fotodinâmica com luz do dia no tratamento da doença de Bowen
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Carla Corrêa Martins
Autor para correspondência
carlamartins.dermato@gmail.com

Autor para correspondência.
, Renato Marchiori Bakos, Manuela Martins Costa
Departamento de Dermatologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil
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Estatísticas
Tabelas (2)
Tabela 1. Dados demográficos dos pacientes
Tabela 2. Comparação entre lesões com melhor resposta (resposta clínica completa ou maior que 75%) e lesões com pior resposta quanto a aspectos clínicos e climáticos após seguimento de três meses
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Prezado Editor,

A doença de Bowen (DB) é uma neoplasia indolente com altas taxas de cura após tratamentos não cirúrgicos, que geralmente são a primeira linha de tratamento.1

A eficácia da terapia fotodinâmica com luz do dia (TFDd) em tumores cutâneos foi demonstrada em estudos com carcinomas basocelulares.2 Além disso, dois relatos de caso mostraram resposta completa em três lesões de DB tratadas com TFDd.3,4 Até o momento, não há estudos prospectivos publicados que avaliem a resposta da DB à TFDd. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia da TFDd no tratamento da DB, no seguimento de três meses.

Foi feito um estudo prospectivo com amostra selecionada de maneira consecutiva dentre os pacientes com diagnóstico histológico de DB. As sessões de TFDd foram feitas entre maio de 2016 e maio de 2017, em todas as estações do ano.

A sessão seguiu o protocolo de registro fotográfico prévio ao tratamento com máquina fotográfica (Canon® Powershot SX 500 IS) e dermatoscópio digital (Fotofinder®). Foi feita aplicação de protetor solar orgânico (FPS 30) nas áreas expostas. Quinze minutos depois, a superfície da lesão foi preparada com a curetagem leve das crostas e escamas. Em seguida, uma camada fina de creme de aminolevulinato de metila (MAL) a 16% foi aplicada à lesão. Os pacientes iniciaram a exposição à luz do dia por 30 minutos após a aplicação do precursor do fotossensibilizador e a exposição continuou por duas horas em uma área dentro do terreno do hospital.

Os pacientes receberam um ciclo de TFDd que consistiu de duas sessões de tratamento com intervalo de uma semana. As condições climáticas, temperatura e índice ultravioleta (IUV) máximo do dia da cidade de Porto Alegre (Brasil) foram obtidos do site do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos.5

A eficácia terapêutica foi avaliada após três meses do tratamento. O desfecho primário foi a resposta completa, obtida por avaliação clínica. A resposta lesional foi classificada como completa, parcial (resposta <25%, 25%‐75% ou> 75%) ou ausente. A avaliação clínica, feita por um dermatologista, considerou a presença de eritema persistente, áreas hiperceratóticas, redução do tamanho da lesão e outros dados dermatoscópicos, como vasos em ponto ou glomerulares típicos.

O escore de dor foi registrado a cada 30 minutos durante o período de exposição à luz do dia e semanalmente após o tratamento, por telefone, com a escala visual analógica de 0 a 10 (0=sem dor, 10=pior dor já sentida). Nas avaliações o paciente também foi perguntado sobre os principais sinais e sintomas.

Dezenove pacientes, com 24 lesões de DB, foram incluídos no estudo (tabela 1). Dez lesões estavam localizadas em membros inferiores, cinco em tronco, cinco em região de cabeça/pescoço e quatro em membros superiores. A maioria das lesões foi submetida ao tratamento entre 10 e 14 horas (n=16; 66,7%), em dias ensolarados ou parcialmente nublados (n=15; 62,5%). A temperatura média foi de 19,91°C (±5,2) na primeira sessão e 17,54°C (±4,6) na segunda sessão. A média do IUV foi de 3,25 (±2,8).

Tabela 1.

Dados demográficos dos pacientes

Total (n=19)   
Idade, média (± DP)  69,7 anos (±10,6 anos) 
Gênero, n (%)   
Masculino  12 (63,2%) 
Feminino  7 (36,8%) 
Transplantados, n (%)   
Sim  6 (31,6%) 
Não  13 (68,4%) 
Comorbidades, n (%)   
Sim  15 (79,0%) 
Não  4 (21,0%) 
Fototipo, n (%)   
II  16 (84,2%) 
III  2 (10,5%) 
IV  1 (5,3%) 

DP, desvio‐padrão; n, número de pacientes.

Três meses após o tratamento, seis lesões (25%) mostraram resposta clínica completa, oito (33%) tiveram resposta parcial com melhoria> 75%, quatro (8%) apresentaram resposta parcial de 25%‐75%, duas (8%) tiveram resposta <25% e quatro (8%) não apresentaram resposta.

As lesões que apresentaram melhor resposta foram aquelas localizadas em áreas cronicamente fotoexpostas, como membros superiores e cabeça/pescoço (p=0,01); entretanto, não se observou grupo específico de pacientes que se beneficie da técnica (tabela 2).

Tabela 2.

Comparação entre lesões com melhor resposta (resposta clínica completa ou maior que 75%) e lesões com pior resposta quanto a aspectos clínicos e climáticos após seguimento de três meses

  Respostaap‐valorb 
  <75%  ≥75%   
  (n=10)  (n=14)   
Sexo, n (%)      0,73 
Feminino  5 (45,5)  6 (54,5)   
Masculino  5 (38,5)  8 (61,5)   
Idade, anos, média (± DP)  70,6 (± 2,8)  67,1 (±2,7)  0,39 
Tamanho da lesão, mm, média (± DP)  19,7 (±8,1)  21,0 (±15,8)  0,87 
Transplantados, n (%)      0,89 
Sim  4 (40,0)  6 (60,0)   
Não  6 (42,9)  8 (57,1)   
Comorbidades, n (%)      0,93 
Sim  8 (42,1)  1 (57,9)   
Não  2 (40,0)  3 (60,0)   
Condições climáticas, n (%)      0,83 
Dia ensolarado e/ou parcialmente nublado em ambas as aplicações  6 (40,0)  9 (60,0)   
Outra combinação de condições, envolve dias nublados e chuvosos  4 (44,4)  5 (55,6)   
IUV, média (± DP)  2,8 (±2,8)  3,6 (±2,8)  0,43 
Fototipo, n (%)      0,24 
II  9 (42,9)  12 (57,1)   
III  0,00  2 (100,0)   
IV  1(100,0)  0,00   
Local da lesão, n (%)      0,01 
Cabeça/pescoço  1 (20,0)  4 (80,0)   
Tronco  5 (100,0)   
Membros inferiores  4 (40,0)  6 (60,0)   
Membros superiores  4 (100,0)   
a

Teste de qui‐quadrado foi usado para variáveis de sexo, transplantados, condições climáticas, fototipo e localização; teste t de Student foi usado para variáveis de idade e tamanho da lesão; teste de Mann‐Whitney U, para a variável IUV.

b

p ≤ 0,05.

A percepção de dor durante o tratamento foi relatada como 0 em 79,2% das lesões (n=19), com mediana de 0 (intervalo de 0 a 3) em ambas as sessões. Os efeitos adversos mais frequentemente observados pelos pacientes foram descamação e vermelhidão.

Os resultados deste estudo sugerem que a TFDd pode ser considerada uma opção viável para o tratamento da DB em casos selecionados. Houve resposta completa em seis lesões após três meses de seguimento, demonstrando que alguns casos poderão se beneficiar do tratamento. Além disso, em 14 (58,3%) lesões houve melhora de mais de 75% da área da lesão, favorecendo o uso como opção neoadjuvante. No entanto, esses achados mostraram que houve menor proporção de resposta completa na TFDd, quando comparada à TFD convencional, demonstrando que a última ainda se mantém como o método de escolha.1

O tamanho da amostra e a falta de um grupo controle foram limitantes do estudo, assim como o tempo de seguimento. Estudos futuros que avaliem eficácia em seguimento mais longo poderão corroborar os achados deste estudo. Supõe‐se também que o retratamento das lesões que tiveram melhoria parcial poderá aumentar a proporção de lesões com resposta completa, em um seguimento em longo prazo.

Suporte financeiro

Fundo de Incentivo à Pesquisa e Eventos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Contribuição dos autores

Carla Corrêa Martins: Análise estatística; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Renato Marchiori Bakos: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Manuela Martins Costa: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
C.A. Morton, A.J. Birnie, D.J. Eedy.
British Association of Dermatologists’ guidelines for the management of squamous cell carcinoma in situ (Bowen's disease) 2014.
Br J Dermatol., 170 (2014), pp. 245-260
[2]
S.R. Wiegell, V. Skødt, H.C. Wulf.
Daylight‐mediated photodynamic therapy of basal cell carcinomas ‐ an explorative study.
J Eur Acad Dermatology Venereol., 28 (2014), pp. 169-175
[3]
L. Pérez-Pérez, J. García-Gavín.
Terapia fotodinámica con luz de día en la enfermedad de Bowen.
Piel., 29 (2014), pp. 34-36
[4]
R. Safar, A. Alkhars, M. Tallegas, N. Korsaga-Some, L. Machet.
Successful Treatment for Extensive Bowen's Disease using Daylight‐mediated Photodynamic Therapy.
Acta Derm Venereol., 99 (2019), pp. 701-702
[5]
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais [Internet]. Porto Alegre: Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos [Acessado em 26 mai 2017]. Disponível em: <http://www.cptec.inpe.br/>.

Como citar este artigo: Martins CC, Bakos RM, Martins‐Costa M. Daylight photodynamic therapy for Bowen's disease. An Bras Dermatol. 2020;95:529–31.

Trabalho realizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

Copyright © 2020. Sociedade Brasileira de Dermatologia
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