O presente estudo é descritivo e transversal, utilizando as bases de dados do Sistema Integral de Informação de Proteção Social (SISPRO em espanhol) do Ministério da Saúde da Colômbia; o objetivo é avaliar a prevalência do pênfigo, sua distribuição por idade e suas características demográficas na Colômbia.
Os diagnósticos foram selecionados utilizando os códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID‐10), para pênfigo vulgar (PV) L100, pênfigo vegetante (PVE) L101, pênfigo foliáceo (PF) L102, pênfigo foliáceo endêmico (fogo selvagem) (PFE) L103, pênfigo eritematoso (PE) L104, pênfigo induzido por drogas (PID) L105, Outras variantes de pênfigo (OVP) L108 e pênfigo não especificado (PNE) L109 no período de 1° de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2017. As bases de dados do SISPRO, que são alimentadas pelo Registro Individual de Prestação de Serviços de Saúde, incluem informações sobre os diagnósticos feitos pelos médicos em cada atendimento hospitalar ou ambulatorial na Colômbia.1 A prevalência foi calculada a partir do último censo nacional realizado em 2005 pelo Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE), com uma população estimada na Colômbia de 49.291.609 pessoas em 2017.
Entre 2013 e 2017, 2.632 casos confirmados de pênfigo foram registrados na Colômbia, com prevalência de 5,3 por 100.000 habitantes. As variantes clínicas estão assim distribuídas: PV 31,4%, PNE 30,9%, OVP 14,8%, PF 8,6%, PE 7,1%, PVE 3,7%, PFE 2,6% e PID 0,5%. A relação sexo feminino/masculino foi de 1,37:1, o que representa 58% para mulheres com 1.524 casos e 42% para homens com 1.108 casos (tabela 1).
Pacientes diagnosticados com pênfigo na Colômbia entre 2013 e 2017
Diagnóstico ICD‐10 | Total de casos | Casos por 100.0000 habitantes | Relação sexo feminino:masculino |
---|---|---|---|
Pênfigo vulgar | 827 | 1,66 | 1,3:1 |
Pênfigo vegetante | 98 | 0,20 | 1,7:1 |
Pênfigo foliáceo | 228 | 0,46 | 1,2:1 |
Pênfigo foliáceo endêmico | 69 | 0,14 | 2:1 |
Pênfigo eritematoso | 189 | 0,38 | 1,1:1 |
Pênfigo induzido por drogas | 15 | 0,03 | 2:1 |
Outras variantes de pênfigo | 391 | 0,78 | 1,32:1 |
Pênfigo não especificado | 815 | 1,63 | 1,42:1 |
Total de casos de pênfigo: 2.632.
Casos por 100.000 habitantes: 5,3.
Para o PV, adultos com 80 anos ou mais tiveram a maior prevalência, com sete casos por 100.000 habitantes, e para PF adultos de 75 a 79 anos tiveram a maior prevalência, com 2,5 casos por 100.000 habitantes. Em relação ao PFE, as pessoas de 35 a 39 anos tiveram a maior prevalência, com 0,24 casos por 100.000 habitantes (fig. 1).
A região com maior prevalência de PV foi Chocó, com 4,3 casos por 100.000 habitantes, enquanto para PF foi Vaupés, com 13 casos por 100.000 habitantes, e para PFE foi Casanare, com três casos por 100.000 habitantes (tabela 2).
Prevalência de pênfigo foliáceo (PF), pênfigo vulgar (PV) e pênfigo foliáceo endêmico (PFE) por região na Colômbia entre 2013 e 2017
Região | Prevalência de PF | Prevalência de PV | Prevalência de PFE |
---|---|---|---|
Antioquia | 0,83 | 1,75 | 0,10 |
Atlántico | 0,15 | 1,46 | 0,03 |
Bogotá, D.C. | 0,27 | 1,63 | 0,04 |
Bolívar | 0,04 | 1,39 | 0,13 |
Boyacá | 0,39 | 1,32 | 0 |
Caldas | 0,50 | 3,02 | 0,20 |
Caquetá | 0,61 | 1,22 | 0,20 |
Cauca | 0,92 | 1,42 | 0,07 |
Cesar | 0,09 | 3,22 | 0 |
Córdoba | 0,51 | 1,19 | 0,56 |
Cundinamarca | 0,21 | 0,90 | 0,18 |
Chocó | 0,98 | 4,31 | 0,19 |
Huila | 0,84 | 1,01 | 0,08 |
La Guajira | 0 | 0,29 | 0,09 |
Magdalena | 0,38 | 2,72 | 0 |
Meta | 0,30 | 1,30 | 0,10 |
Nariño | 0,50 | 2,74 | 0,16 |
Norte de Santander | 0,21 | 1,08 | 0,07 |
Quindío | 0,17 | 2,27 | 0,17 |
Risaralda | 0,51 | 2,59 | 0,20 |
Santander | 0,19 | 1,77 | 0,04 |
Sucre | 0,34 | 1,49 | 0,11 |
Tolima | 0,14 | 1,76 | 0 |
Valle del Cauca | 0,89 | 1,80 | 0,10 |
Arauca | 0 | 1,49 | 0,37 |
Casanare | 0,81 | 2,43 | 3,79 |
Putumayo | 0,28 | 1,69 | 0 |
San Andrés & Providencia | 0 | 0 | 0 |
Amazonas | 1,28 | 0 | 0 |
Guainía | 7,01 | 2,33 | 0 |
Guaviare | 0,87 | 0 | 0,87 |
Vaupés | 13,4 | 0 | 2,24 |
Vichada | 0 | 0 | 0 |
A prevalência de pênfigo na Colômbia é de 5,3 por 100.000 habitantes; essa prevalência é quase igual à relatada nos Estados Unidos, com 5,2 casos por 100.000 habitantes2 e superior à relatada na América Latina, onde apenas um estudo de prevalência foi encontrado no Brasil, relatando 3,4 casos por 100.000 habitantes.3 Estudos em outros continentes têm uma prevalência menor; em Sofia, Bulgária, foi relatada uma prevalência de 0,38 casos por 100.000 habitantes;4 também em um hospital no sul da Arábia Saudita, foram coletados dados sobre pênfigo, mostrando uma prevalência de 1,56 por 100.000 habitantes.5
O único estudo que mostrou uma prevalência mais alta foi realizado no Irã em 2005, o qual relatou 30 casos por 100.000 habitantes (fig. 2).4 O presente estudo mostrou que o pênfigo acomete mais mulheres do que homens, com uma relação de 1,37:1, como descrito em alguns relatos da literatura, onde as mulheres apresentam maior frequência da doença.
Prevalência de pênfigo no mundo por 100.000 habitantes.2–5.
A maior prevalência de pênfigo foi encontrada na população com mais de 80 anos; porém no PV foram observadas variações na idade de apresentação de acordo com o grupo étnico. A idade mais precoce de apresentação foi observada em árabes, em comparação com judeus, com uma média de idade de 48,6 ± 14 anos versus 57,3 ± 18 anos, respectivamente.6
Dentre as variantes clínicas do pênfigo, a mais frequente foi o PV com 31,4% e a menos frequente foi o PID com 0,5% da população. Esses dados são consistentes com aqueles relatados na literatura, que mostram que o PV é o mais prevalente, com 70%.5 Outros diagnósticos incluídos na CID‐10 são PNE com 30,9% e OVP com 14,8%, que não refletem uma variante específica de pênfigo e não geram alterações quando comparamos os resultados do presente estudo com outras variantes de pênfigo encontradas na literatura.
A maior prevalência de PF foi encontrada em Vaupés e Guainía, e é interessante que essas duas regiões estejam no sudeste do país, na fronteira com o Brasil; elas têm extensas áreas rurais e de selva, e a maioria de sua população tem baixo nível socioeconômico. Dados semelhantes foram encontrados na Tunísia, onde uma maior frequência de PF foi relatada no Sul do país, uma região onde pessoas com condições socioeconômicas desfavoráveis vivem em extensas áreas rurais.7 Da mesma forma, no Peru foi encontrada maior frequência de PF em locais de baixo nível socioeconômico e em regiões amazônicas.8
Os autores apresentam a prevalência, frequência de variantes clínicas e características demográficas do pênfigo na Colômbia, o país que até este momento tem a segunda maior prevalência desta doença no mundo. As limitações do estudo são a possível subnotificação ou notificação errônea por parte dos profissionais de saúde no momento da inserção do diagnóstico e a impossibilidade de calcular a incidência, devido à natureza dos dados coletados.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresDaniel Fernández‐Avila: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; análise estatística.
Laura Charry Anzola: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; análise estatística.
Lina González Cardona: Revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.
Conflito de interessesNenhum.