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Vol. 100. Núm. 4.
(1 julho 2025)
Cartas ‐ Caso clínico
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Mutações heterozigóticas de FGF22 e mosaico de FGFR2 em nevo acneiforme de Munro: estudo de caso
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Jiachen Suna, Yimeng Wanga, Lihua Zhangb, Chunlei Zhanga, Chuan Maa,
a Departamento de Dermatologia, Peking University Third Hospital, Pequim, China
b Departamento de Patologia, Fourth Medical Center of Chinese PLA General Hospital, Pequim, China
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Prezado Editor,

O nevo acneiforme de Munro, também conhecido como nevo comedônico (MIM 617025), é anomalia rara do desenvolvimento da unidade pilossebácea, classificada como um subtipo de nevo epidérmico. Estudos recentes implicaram vários genes em sua patogênese, incluindo FGFR2, FGFR3 e NEK9. Aqui, relata‐se um caso de nevo acneiforme de Munro associado a mutação heterozigótica de linhagem germinativa FGF22 (c.104A>G) e mutação somática de mosaico FGFR2 (c.755G>C).

A paciente do sexo feminino de 22 anos apresentava placa congênita assintomática no dorso que havia aumentado progressivamente (fig. 1A). O exame físico revelou mancha eritematosa de formato irregular com bordas bem demarcadas na região lombossacral direita. A lesão era cravejada de pápulas foliculares vermelho‐escuras a pretas com pontas acuminadas (fig. 1B). Comedões e pelos terminais hipopigmentados eram evidentes na área afetada. A avaliação clínica abrangente não revelou anormalidades sistêmicas.

Figura 1.

Aspecto clínico (A) e em detalhe (B) da lesão cutânea da paciente.

A histopatologia (fig. 2A) demonstrou acantose leve e hiperceratose da epiderme (fig. 2B), hiperpigmentação focal da camada basal e hiperplasia do colágeno dérmico. Folículo piloso degenerativo com hiperplasia sebácea proeminente foi observado (fig. 2C), acompanhado por fibrose perifolicular leve e infiltrado linfocítico. A derme superficial exibia infiltração linfocítica perivascular esparsa.

Figura 2.

(A) Visão geral da histopatologia com coloração de Hematoxilina & eosina (H&E). (B–C) As caixas azul e verde representam as vistas ampliadas da epiderme e das glândulas sebáceas, respectivamente. Barra de escala: (A) 300μm; (B–C) 100μm.

A análise genética identificou mutação heterozigótica de linhagem germinativa em FGF22 (rs574406266, c.104A>G, p.His35Arg) na pele lesional e no sangue periférico, com base no sequenciamento completo do exoma (WES, do inglês whole exome sequencing) do DNA extraído com o kit TIANamp Genomic DNA (DP304, TIANGEN, China). Além disso, mutação de mosaico somático em FGFR2 (rs79184941, c.755G>C, p.Ser252Trp) foi detectada exclusivamente na pele afetada, com frequência de alelo variante de 17%, confirmada pelo sequenciamento de Sanger (fig. 3).

Figura 3.

Validação do sequenciamento de Sanger da mutação FGFR2 identificada por WES no sangue periférico e tecido lesional da paciente.

A análise de imunofluorescência (fig. 4) revelou distribuição desigual de células Ki‐67‐positivas na epiderme e glândulas sebáceas, com maior abundância em comparação com a pele de controle normal. A regulação positiva aberrante de CK6 e a regulação negativa de CK5 foram observadas na epiderme e nas células basais periféricas ao redor das glândulas sebáceas. Notavelmente, os queratinócitos basais e suprabasais demonstraram expressão aumentada e colocalizada de FGF22 e FGFR2, como evidenciado por sinais intensos de fluorescência amarela. Em contraste, as glândulas sebáceas exibiram expressão de FGFR2, com expressão mínima de FGF22.

Figura 4.

Coloração de imunofluorescência da biópsia lesional (A) e controle saudável (B). Na pele lesional (A), a distribuição desigual de células Ki‐67‐positivas foi observada na epiderme, os queratinócitos basais e suprabasais demonstraram expressão aumentada e colocalizada de FGF22 e FGFR2, como evidenciado por sinais intensos de fluorescência amarela.Barra de escala: 200 m para visão geral; 50 m para epiderme e glândulas sebáceas.

Mutações FGFR2 ativadoras de mosaico cutâneo foram identificadas em vários casos de nevo comedônico, incluindo c.755G>C (p.Ser252Trp),1,2 c.758C>G (p.Pro253Arg),3 e c.1144T>C (p.Cys382Arg).4 A síndrome de Apert também envolve mutações nesses locais do FGFR2, mas é tipicamente associada a acne extensa, juntamente com craniossinostose e sindactilia grave das mãos e pés.5 As mutações p.Ser252Trp e p.Pro253Arg do FGFR2 estão localizadas no domínio topológico extracelular, especificamente na região de ligação entre os domínios semelhantes à imunoglobulina II e III. Essas mutações de ganho de função criam contatos FGF‐FGFR adicionais não específicos, permitindo a ligação patológica de FGFs ao FGFR2. O presente caso relata pela primeira vez uma paciente chinesa com nevo acneiforme de Munro portadora da mutação FGFR2 c.755G>C (p.Ser252Trp). Curiosamente, essa mutação específica foi associada a diversos fenótipos: Larsabal et al.1 descreveram acantose nigricans nevoide com espessamento localizado da pele e hiperpigmentação, enquanto Melnik et al.2 relataram pápulas e pústulas inflamatórias com hipopigmentação. Em comparação, o presente caso exibiu lesões cutâneas relativamente mais brandas em comparação a esses dois casos.

O FGF22 é potente ativador do FGFR2 na pele, ligando‐se ao FGFR2 IgIIIc. A mutação p.His35Arg (c.104A>G) do FGF22 é nova no nevo epidérmico e permanece amplamente não caracterizada (escore SIFT=0,001; escore HVAR do Polyphen2=0,998). O His35 é proximal à região do peptídeo sinal N‐terminal, sugerindo que a mutação p.His35Arg possa afetar a secreção do FGF22 e a localização extracelular. No presente caso, FGFR2 e FGF22 estavam claramente colocalizados na epiderme, sugerindo potencial interação ligante‐receptor in situ. Juntamente com o aumento da expressão de CK6 e Ki‐67 nessa área, isso indica que a estratificação epidérmica interrompida e a proliferação anormal de queratinócitos podem estar associadas à sinalização FGF22/FGFR2. Propõe‐se um modelo em que o FGF22 mutante atue como ligante hiperativo para ativação constitutiva do FGFR2, resultando em ativação sustentada dessas vias e glândulas sebáceas, com maior abundância em comparação à pele de controle normal. O CK6 estava regulado positivamente e o CK5 regulado negativamente na epiderme e nas células basais periféricas das glândulas sebáceas. Os queratinócitos basais e suprabasais mostraram expressão aumentada e colocalizada de FGF22 e FGFR2. Em contraste, as glândulas sebáceas exibiram expressão de FGFR2, mas FGF22 mínimo. Na pele controle saudável, havia presença mínima de células Ki‐67‐positivas ou CK6 na epiderme e glândulas sebáceas. CK5 foi expresso na epiderme e células basais periféricas das glândulas sebáceas. Queratinócitos basais e suprabasais não exibiram expressão de FGF22 ou FGFR2. Nas células basais periféricas das glândulas sebáceas, a expressão de FGFR2 foi observada, com FGF22 ausente.

Suporte financeiro

Nenhum

Contribuição dos autores

Jiachen Sun: Realizou os experimentos e análise de dados, elaboração e redação do manuscrito e revisou criticamente o manuscrito.

Yimeng Wang: Realizou os experimentos e análise de dados, elaboração e redação do manuscrito e revisou criticamente o manuscrito.

Lihua Zhang: Realizou os experimentos e análise de dados, elaboração e redação do manuscrito, forneceu a análise patológica e revisou criticamente o manuscrito.

Chunlei Zhang: Concepção do estudo e projetou os experimentos; revisou criticamente o manuscrito.

Chuan Ma: Concepção do estudo e projetou os experimentos; revisou criticamente o manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Agradecimentos

Os autores expressam sua sincera gratidão à paciente por sua participação e consentimento neste estudo.

Referências
[1]
M. Larsabal, O. Cogrel, C. Caumont, M.H. Jegou, A. Taieb, F. Morice-Picard.
Mosaic mutations in FGFR3 and FGFR2 are associated with naevoid acanthosis nigricans or RAVEN (round and velvety epidermal naevus).
Br J Dermatol., 180 (2019), pp. 201-202
[2]
B.C. Melnik, F. Vakilzadeh, C. Aslanidis, G. Schmitz.
Unilateral segmental acneiform naevus: a model disorder towards understanding fibroblast growth factor receptor 2 function in acne?.
Br J Dermatol., 158 (2008), pp. 1397-1399
[3]
Y. Xie, B. Liu, Z. Wu.
Segmental hypopigmented acneiform nevus with FGFR2 gene mutation.
An Bras Dermatol., 98 (2023), pp. 710-712
[4]
P. Kuentz, S. Fraitag, M. Gonzales, F. Dhombres, J. St-Onge, Y. Duffourd, et al.
Mosaic‐activating FGFR2 mutation in two fetuses with papillomatous pedunculated sebaceous naevus.
Br J Dermatol., 176 (2017), pp. 204-208
[5]
J.E.A. Common, J.N. Barker, M.A.M. van Steensel.
What does acne genetics teach us about disease pathogenesis?.
Br J Dermatol., 181 (2019), pp. 665-676

Como citar este artigo: Sun J, Wang Y, Zhang L, Zhang C, Ma C. FGF22 heterozygous and FGFR2 mosaic mutations in Munro Acne Nevus: a case study. An Bras Dermatol. 2025;100:501141.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Peking University Third Hospital, Pequim, China.

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Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
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