Examinamos um paciente do sexo masculino, 32 anos, com história prévia de epilepsia e déficit cognitivo, em uso de carbamazepina e diagnóstico clínico e histopatológico de doença de Darier há oito anos. Ao exame físico, apresentava múltiplas pápulas eritêmato‐acastanhadas, ceratósicas, algumas crostosas, localizadas no dorso, ombros e tórax anterior (fig. 1). Fez uso prévio de ceratolíticos, corticosteroides e retinoides tópicos, além de antibióticos sistêmicos, sem controle das lesões. Retinoides sistêmicos foram evitados em virtude de possíveis interações medicamentosas (carbamazepina).
Após revisão da literatura, encontramos alguns relatos do uso de diclofenaco de sódio tópico na doença de Darier. Optou‐se por iniciar diclofenaco de sódio 3% com ácido hialurônico 2,5% em gel de natrosol, para aplicação duas vezes ao dia apenas nas áreas afetadas do lado esquerdo do corpo, por oito semanas. Após melhora significante das lesões, o paciente foi orientado a aplicar sobre todas as áreas acometidas, duas vezes ao dia. Negou reações adversas locais ou sistêmicas durante o uso e não foram observadas alterações laboratoriais nesse período. Após quatro meses de tratamento, o paciente apresentava regressão importante das lesões, com máculas hipo e hipercrômicas pós‐inflamatórias e presença de poucas pápulas ceratósicas residuais (fig. 2). A medicação foi reduzida para uma vez ao dia por mais quatro semanas, e o tratamento então foi suspenso, mantendo bom controle clínico desde então.
A doença de Darier ocorre pela mutação do gene ATP2A2, que codifica uma proteína envolvida na diferenciação epidérmica e comunicação intercelular, denominada SERCA2B, levando a função insuficiente da SERCA21.1,2 Manifesta‐se como pápulas eritêmato‐acastanhadas, ceratósicas, crostosas, em áreas seborreicas do tronco, couro cabeludo, face e pescoço associado a odor fétido e prurido.1 Alterações ungueais também podem ser observadas, como faixas longitudinais eritematosas e brancas, fissuras longitudinais, ceratose subungueal e fragilidade, formando entalhes em forma de “V”.1
O tratamento da doença de Darier inclui medidas gerais, como uso de roupas leves e proteção solar; uso de medicamentos tópicos, como ceratolíticos, corticoides, retinoides, tacrolimus e 5‐fluorouracil; e medicamentos sistêmicos, como acitretina, isotretinoína ou ciclosporina. Tratamentos cirúrgicos e fotodinâmico também podem ser realizados.1
O diclofenaco de sódio 3% foi descrito recentemente como opção terapêutica na doença de Darier.2–4 Seu mecanismo de ação se dá pela inibição da ciclooxigenase‐2, resultando em supressão da atividade da prostaglandina E2, que por sua vez sub‐regula o gene ATP2A2. Isso gera normalização dos níveis de SERCA2 nos queratinócitos.1 Seu uso é combinado ao ácido hialurônico 2,5%, que tem a função de manter o fármaco na epiderme e derme superficial, com melhor ação local e menor absorção sistêmica.5
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresMarcella Oliveira Menezes Quitete de Campos: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.
Giovanna Abrantes Pimenta de Figueiredo: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.
Allyson Capobiango Evangelista: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.
Alexander Richard Bauk: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do caso; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.
Como citar este artigo: Campos MOMQ, Figueiredo GAP, Evangelista AC, Bauk AR. Darier's disease: treatment with topical sodium diclofenac 3% gel. An Bras Dermatol. 2023;98:882–4.
Trabalho realizado no Ambulatório Geral, Serviço de Dermatologia, Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.