A gamasoidose é uma infestação por ácaros pouco conhecida e subdiagnosticada. Caracteriza‐se pela presença de pápulas eritematosas e achatadas bastante pruriginosas, pode acometer qualquer região do corpo, com preferência por áreas de dobras. Esse artigo relata um caso da doença causada por ácaros da espécie Dermanyssus gallinae. Cada vez mais, os agentes causadores dessa enfermidade são encontrados em ambientes urbanos, o que aumenta a incidência de pessoas acometidas pela doença. Essa dermatose tem quadro clínico autolimitado e o tratamento é feito com uso de corticoides tópicos e anti‐histamínicos orais.
Paciente do sexo masculino, 77 anos, procurou atendimento dermatológico devido a lesões no corpo extremamente pruriginosas que iniciaram havia aproximadamente 15 dias. Negava comorbidades. Ao exame dermatológico apresentava lesões eritemato‐papulosas no corpo, principalmente em membros superiores (fig. 1). Foi prescrito anti‐histamínico por via oral, propionato de clobetasol tópico e emoliente. O paciente referiu ter encontrado “pixilingas” em seu quarto e, depois de alertado, procurou e achou os ácaros em um ninho de pássaros dentro da caixa do ar‐condicionado. Após uso das medicações prescritas, o paciente evoluiu com melhoria do quadro clínico (fig. 2) e na consulta posterior trouxe alguns exemplares dos ácaros encontrados no seu quarto, identificados como sendo da espécie Dermanyssus gallinae (fig. 3).
Gamasoidose ou dermatite por ácaros viários é uma infestação pouco conhecida e subdiagnosticada que tem se tornado cada vez mais comum, principalmente no meio urbano, com a proliferação de pombos nas cidades a partir de ninhos construídos em telhados, janelas e caixas de ar‐condicionado, existem até casos nosocomiais.1,2
É causada principalmente pelos ácaros da espécie Dermanyssus gallinae, porém outras espécies podem estar envolvidas, como Ornithonyssus sylviarum, Ornithonyssus bursa e Dermanyssus avium.1,2 São conhecidos popularmente como “bicho de galinha”, “quiquito” e “pixilinga”.3 Esses artrópodes, que medem cerca de 1mm de diâmetro, são ectoparasitas hematófagos temporários de aves domésticas e selvagens, infestam principalmente galinhas, perus, pombos e pássaros, porém também podem se alimentar de outras espécies, inclusive a humana, são encontrados nos hospedeiros apenas quando se alimentam à noite. O restante de seu ciclo biológico é feito fora do hospedeiro, colonizam ninhos, frestas e ranhuras, que se tornam seu esconderijo. As aves infectadas, além de lesões cutâneas, podem apresentar quadros neurológicos graves. Porém em humanos os sintomas são exclusivamente cutâneos.2
As lesões costumam assemelhar‐se com as de escabiose e pediculose. Comumente são pápulas eritematosas achatadas bastante pruriginosas, podem acometer qualquer região do corpo.2,4 Não foram descritos critérios dermatoscópicos para a doença, porém o dermatoscópio pode auxiliar a excluir o diagnóstico de delírio de parasitose.1
A dermatite causada por artrópodes parasitas de aves muitas vezes é esquecida e até mesmo negligenciada, mas deve ser sempre lembrada em casos de prurigo agudo.3 O quadro é autolimitado e geralmente regride espontaneamente, pode ser feito tratamento sintomático com corticoides tópicos e anti‐histamínicos. A prevenção de novos casos se faz com vigilância rigorosa, com retirada dos ninhos de aves que contenham ácaros e com limpeza e desinfestação da área acometida com acaricida.2,5,6
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresAline Palitot Santana: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Alberto Eduardo Cox Cardoso: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura.
Rafaela Tenório Passos: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Íris Sampaio Costa Ferreira: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Conflitos de interesseNenhum.
Como citar este artigo: Santana AP, Cardoso AEC, Passos RT, Ferreira ISC. Case for diagnosis. Erythematous and pruritic papules on forearms. An Bras Dermatol. 2020;95:250–1.
Trabalho realizado no Serviço de Dermatologia, Hospital Universitário Professor Alberto Antunes, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Alagoas, Brasil.