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Vol. 97. Núm. 5.
Páginas 654-656 (1 setembro 2022)
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Páginas 654-656 (1 setembro 2022)
Carta ‐ Investigação
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Alopécia areata: análise descritiva em amostra brasileira
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Andressa Sato de Aquino Lopes
Autor para correspondência
dressa_sato@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Leopoldo Duailibe Nogueira Santos, Mariana de Campos Razé, Rosana Lazzarini
Clínica de Dermatologia, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
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Prezado Editor,

Alopécia areata (AA) é uma doença autoimune na qual os linfócitos TCD8+agridem o folículo piloso na fase anágena do ciclo capilar, causando alopécia.1

Clinicamente, observam‐se áreas alopécias múltiplas ou únicas, ovais ou arredondadas. As formas clínicas descritas são: em placas, ofiásica, sisaipho, difusa, total e universal.1

A incidência dessa patologia nos Estados Unidos é de aproximadamente 2,1% com prevalência na população geral de 0,1 a 0,2%.1 No Brasil, um estudo demonstrou que a AA corresponde a 1,2% dos atendimentos dermatológicos, e é a terceira forma de alopécia mais diagnosticada após alopécia androgenética e eflúvio telógeno.2 Esses indivíduos têm maior chance de apresentar doenças autoimunes como tireoidite, psoríase, lúpus eritematoso (LE), doença inflamatória intestinal, dermatite atópica, entre outras, além do impacto biopsicossocial, especialmente nos casos extensos, quando os pacientes tendem ao isolamento.1,3

A escolha do tratamento depende da extensão da doença e idade do paciente.

Existem poucos estudos epidemiológicos em nosso meio, o que objetivou a avaliação dos casos acompanhados no ambulatório de dermatologia em hospital quaternário entre 2000 e 2017.

Os dados foram coletados retrospectivamente e submetidos ao programa estatístico R versão 3.4.2. (R Core Team, 2016), analisados descritivamente e comparados pelo teste do qui‐quadrado de Pearson. O estudo foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa, n° 29982620.1.0000.5479.

Foram avaliados 466 pacientes: 272 (58,4%) mulheres e 194 homens (41,6%); 189 (40,6%) brancos, 118 (25,3%) não brancos e 159 casos (34,1%) sem informação. As mulheres foram as mais acometidas, enquanto na literatura não há diferença entre os sexos. Essa observação reflete o perfil do ambulatório, onde há mais pacientes do sexo feminino, além de buscarem atendimento mais precoce para questões relacionadas aos cabelos.1

A média das idades foi 33,6 anos (3 a 86 anos), com desvio‐padrão de 16,6 anos. A idade de início da doença variou entre 0 e 82 anos, com média de 25,6 anos (desvio‐padrão de 16,6 anos). Esses dados reforçam a observação de outros estudos com maior frequência entre adultos jovens.4

Em relação à extensão, os dados estão relacionados na tabela 1. Observou‐se que o maior número de casos leves foi semelhante aos observados na literatura; entretanto, os casos graves tiveram frequência menor. Essa diferença pode ser explicada pelo fato de nossa demanda ser espontânea, enquanto em alguns estudos o banco de dados tinha como base a convocação de pacientes de mais de uma instituição.5

Tabela 1.

Distribuição de 466 pacientes portadores de Alopecia areata, segundo idade de início e gênero versus gravidade (área acometida)

Faixa etária de início (em anos)  Área acometida
  <50%> 50%Total
até 9  28  43,8%  36  56,3%  64  100,0% 
10‐19  50  63,3%  29  36,7%  79  100,0% 
20‐29  71  67,0%  35  33,0%  106  100,0% 
30‐39  39  59,1%  27  40,9%  66  100,0% 
40‐49  34  59,6%  23  40,4%  57  100,0% 
50‐59  11  68,8%  31,3%  16  100,0% 
60‐82  31,3%  11  68,8%  16  100,0% 
Total  238  58,9%  166  41,1%  404a  100,0% 
Genero  <50%50%Total
Femino  157  64,0%  88  36,0%  245  100,0% 
Masculino  84  51,5%  79  48,5%  163  100,0% 
Total  241  59,1%  167  40,9%  408b  100,0% 
a

Faltam os dados de 62 pacientes referentes a gravidade.

b

Faltam os dados de 58 paciente referentes a gravidade.

As formas graves acometeram mais homens do que mulheres (p<0,05), semelhante a um estudo de 2017. Esse fato ainda deve ser validado, uma vez que há relatos de maior gravidade entre mulheres.6

Pacientes cuja dermatose teve início antes dos 10 anos de idade ou acima de 60 anos apresentaram formas mais graves do que aqueles com início em outras faixas etárias (p <0,05) o que pode ser observado na tabela 1. O início precoce da AA relacionado a maior gravidade está em concordância com a literatura; entretanto, no grupo aqui estudado os pacientes com doença de início tardio também apresentaram evolução mais grave, fato não descrito na literatura.7,8

As formas clínicas da AA observadas entre os casos estudados estão na tabela 2. Algumas delas, localizadas exclusivamente na face, foram agrupadas na mesma tabela.

Tabela 2.

Distribuição de 466 pacientes portadores de AA, segundo formas clínicas

Tipo de Alopecia areata  Número 
Placas  291  62,3 
Universal  102  21,9 
Ofiásica  28  6,0 
Total  16  3,4 
Difusa  1,1 
Sisaipho  0,2 
Face
Barba  11  2,4 
Sobrancelhas  1,7 
Cilios  0,2 
Sobrancelhas+cílios  0,2 
Informação ausente  0,6 
Total  466  100,0 

A classificação clínica da AA deveria ser discutida, uma vez que como observado neste estudo, formas intermediárias e com acometimento de outras áreas do corpo não se encaixam nos critérios já estabelecidos. Esse fato revela a necessidade de estudos clínico‐epidemiológicos para melhor entendimento.

Em 184 casos (39,5%) havia alguma doença associada, alguns com mais de uma comorbidade, descritos na tabela 3. Os dados da literatura mostram 45% dos pacientes com alguma forma de atopia e 19% com doenças da tireoide.6 Essas associações podem estar relacionadas ao compartilhamento dos mesmos loci genéticos, populações de células do sistema imune e perfil de citocinas presentes nessas doenças.1 Em nossa amostra não foi possível demonstrar maior frequência de doenças autoimunes entre os pacientes portadores de formas graves. A síndrome de Down é considerada risco para a doença em alguns estudos. Entretanto, estudo recente ressaltou essa associação como coincidência, justificada pelo fato de os casos estudados estarem relacionados à presença de casos familiares e outros fatores de risco.8,9

Tabela 3.

Distribuição das doenças associadas a AA em 466 pacientes

Doença  Número 
Tireoidopatia  65  14,0 
Atopia (asma, rinite, dermatite)  56  12,0 
Síndrome de Down  15  3,2 
Hipertensão arterial  12  2,6 
Anemia  1,7 
Vitiligo  1,7 
Psoríase  1,1 
Doença inflamatória intestinal  1,1 
Lúpus eritematoso  0,9 
Diabetes mellitus  0,9 
Artrite reumatoide  0,4 
Sem doenças associadas  282  60,4 
Total  466  100,0 

Pacientes com formas graves foram comparados entre si em relação a gênero, presença de doenças autoimunes, atopia, síndrome de Down, lesões ungueais e presença de casos familiares. O teste do Qui‐Quadrado de Pearson mostrou diferença estatisticamente significante para maior frequência das formas graves entre os homens (p <0,05) e para presença de lesões ungueais (p=0,001). Os outros parâmetros avaliados não mostraram diferenças significantes.

Alterações ungueais estavam presentes em 44 pacientes (9,4%), semelhante à literatura (9% e 46%), e parecem ser mais comuns naqueles com formas graves, como no presente estudo e relacionadas a pior prognóstico.10

Em 63 (13,5%) pacientes havia pelo menos um parente acometido e 22 não sabiam informar (4,7%). Mãe ou irmão em 12 casos cada (2,6%), tia em cinco (1,1%), filho em três (0,6%), tio ou primo em dois cada (0,4%) e pai em um caso (0,2%). Mais de um parente acometido ocorreu em quatro casos (0,9%). Na literatura, os casos familiares variam entre 4% e 42%, mais comuns entre os de primeiro grau.5

AA é uma doença complexa que afeta a qualidade de vida dos pacientes, com múltiplos fatores envolvidos em sua patogênese, pouco entendidos. Os resultados do presente estudo estão de acordo com a maioria dos trabalhos publicados, demonstrando as características e o perfil dos portadores dessa doença em uma amostra de brasileiros. Não avaliamos o impacto da doença no aspecto biopsicosocial. O tipo de estudo e a ausência de grupo controle limitam o poder estatístico dos resultados. Entretanto, será de grande valia para realização de trabalhos prospectivos e caso controle, que permitirão esclarecer as dúvidas relacionadas a essa dermatose.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Andressa Sato de Aquino Lopes: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Leopoldo Duailibe Nogueira Santos: Participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Mariana de Campos Razé: Participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Rosana Lazzarini: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Como citar este artigo: Lopes ASA, Santos LDN, Razé MC, Lazzarini R. Alopecia areata: descriptive analysis in a Brazilian sample. An Bras Dermatol. 2022;97:654–6.

Trabalho realizado na Clínica de Dermatologia, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, BR.

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