Paciente do sexo feminino, 45 anos, com história de câncer de mama direita havia dois anos, veio à consulta por lesão em crescimento e assintomática na região palmar direita que havia aparecido quatro meses antes da consulta. Ao exame físico, apresentava pápula amarelada de 5mm, em forma de cúpula, com borda periférica descamativa (fig. 1A). A dermatoscopia revelou áreas homogêneas, simétricas, amarelas, sem estrutura, com crosta central e borda circundante rosada (padrão em “sol poente”; fig. 1B). A ultrassonografia cutânea revelou lesão redonda, hipoecoica, ocupando derme e hipoderme, com múltiplos pequenos vasos periféricos (fig. 2). Suspeitou‐se de tumor anexial benigno, mas era necessário descartar metástase cutânea. A excisão completa da lesão revelou proliferação dérmica de histiócitos mononucleados com citoplasma espumoso e células gigantes de Touton, positivas para CD68 e negativas para S100 e CD1a (fig. 3). Foi feito o diagnóstico de xantogranuloma solitário do adulto. Foi feita excisão completa e a lesão não apresentou recidiva. A paciente permanece em completa remissão do carcinoma de mama.
Xantogranuloma do adulto na região palmar. (A) Pápula amarelada em forma de cúpula medindo 5mm, com crosta eritematosa central e borda periférica eritematosa descamativa. (B) Dermatoscopia mostrando áreas homogêneas, simétricas, amarelas, sem estrutura, com crosta central e borda circundante rosada (padrão em “sol poente”).
Características ultrassonográficas do xantogranuloma volar do adulto. (A) Ultrassonografia em escala de cinza (corte transversal, região palmar direita) mostrando nódulo hipoecoico, dérmico e hipodérmico bem definido (asterisco) deslocando a camada epidérmica para cima. (B) Ultrassonografia com Doppler colorido da mesma lesão mostrando vascularização interna.
Características histopatológicas do xantogranuloma volar do adulto. (A e B) Proliferação dérmica de histiócitos mononucleados com citoplasma de aspecto espumoso e células gigantes de Touton (Hematoxilina & eosina, 40× e 400×, respectivamente). (C e D) Técnica imuno‐histoquímica revelando histiócitos espumosos CD68 positivos e CD1a negativos, respectivamente (aumento de 200×).
O xantogranuloma do adulto é um subtipo de histiocitose de células não Langerhans (HCNL) pertencente ao grupo dos xantogranulomas, classificada no grupo C (“cutânea”) da classificação revisada das histiocitoses.1 O xantogranuloma do adulto é histopatologicamente idêntico ao xantogranuloma juvenil (XGJ), a HCNL mais comum. Em geral, ocorre no sexo masculino nas duas primeiras décadas de vida, e a apresentação mais comum é pápula ou nódulo solitário, assintomático, variando de 5mm a 1–2cm de tamanho, com superfície translúcida, lisa, amarelada a acastanhada com telangiectasias em alguns casos. Nos adultos, a lesão tende a persistir ao longo do tempo, em vez de involuir, como nas crianças. O xantogranuloma do adulto e o juvenil geralmente localizam‐se na região da cabeça e pescoço, seguido do tronco e extremidades; no entanto, todas as localizações cutâneas foram descritas, incluindo regiões palmares e plantares.2 Relatos de casos, incluindo casos de XGJ nas superfícies volares (palmas e plantas) descreveram cores incomuns que aparecem nesses locais, como vermelho opaco ou cor da pele, e borda periférica hiperqueratótica bem definida na dermatoscopia.3 Os achados dermatoscópicos típicos do xantogranuloma do adulto e do juvenil incluem fundo homogêneo amarelo/alaranjado ou vermelho/rosado, frequentemente chamado de padrão em “sol poente”.4 O diagnóstico clínico diferencial inclui vários tumores benignos e malignos, como nevo de Spitz, dermatofibroma, neoplasias anexiais, molusco contagioso, hemangioma, carcinoma basocelular, melanoma amelanótico e linfomas. Em localizações volares, o diagnóstico diferencial deve incluir neoplasias frequentes nessas localizações, como poroma écrino, granuloma piogênico, fibroqueratoma digital, nevos, verrugas virais, melanoma amelanótico e reticulo‐histiocitoma solitário.3 Há poucos relatos descrevendo as características ultrassonográficas dos xantogranulomas; apresentam‐se como nódulo dérmico hipoecoico bem definido, com vascularização arterial fina e de baixa velocidade (pico de velocidade sistólica máxima, 6,5cm/s) detectada internamente na ultrassonografia por Doppler colorido. Nenhum realce posterior ou artefato de sombra acústica foi relatado.5
No presente caso, houve a necessidade de descartar metástase cutânea em virtude da história médica pregressa da paciente. Depois do melanoma, o carcinoma de mama é a fonte mais frequente de metástase cutânea em mulheres.6 Em virtude de sua alta incidência, as metástases cutâneas do carcinoma de mama são as mais frequentemente avaliadas pelos dermatologistas. A apresentação mais comum da metástase cutânea do câncer de mama é o nódulo assintomático, cor da pele ou marrom‐rosado, localizado na parede torácica ou no abdome, mas também pode ocorrer nas extremidades. Um amplo espectro de apresentações clínicas tem sido descrito em metástases cutâneas de câncer de mama, que podem mimetizar uma grande variedade de lesões cutâneas benignas, como fibroqueratoma acral, granuloma piogênico, cisto folicular, dermatofibroma ou hemangioma, que devem ser incluídas no diagnóstico diferencial do xantogranuloma do adulto. O exame ultrassonográfico provou ser ferramenta útil para apoiar o diagnóstico de metástase cutânea de melanoma.7 Há menos evidências apoiando o uso da ultrassonografia para a detecção de metástases cutâneas de tumores sólidos; entretanto, essa técnica tem demonstrado auxiliar no diagnóstico de lesões nodulares e subcutâneas malignas em pequenas séries.8,9 As características ultrassonográficas sugestivas de metástases cutâneas. incluem formato policíclico e hipervascularização com múltiplos polos periféricos e vasos internos.10 As metástases cutâneas tem mau prognóstico, daí a importância do dermatologista na determinação de um diagnóstico precoce.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresLaura Serra‐García: Participação efetiva na revisão crítica da literatura, elaboração e redação do manuscrito e aprovação da versão final do manuscrito.
Cristina Carrera: Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Priscila Giavedoni: Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Constanza Riquelme‐McLoughlin: Participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.