A urticária é uma doença comum, determinada pela ativação de mastócitos que se apresenta por urticas, angioedema ou ambos.1 É uma enfermidade heterogênea, facilmente reconhecida pelos pacientes e médicos. Entretanto, é altamente complexa ao considerarmos a etiologia e as terapias. Convencionou‐se definir a urticária, quanto a sua duração, em duas formas: aguda (UA) e crônica (UC). A urticária é definida como crônica quando persiste por seis semanas ou mais.1 A urticária crônica compreende urticária crônica espontânea (UCE) e urticárias crônicas induzidas (UCInd), que incluem as urticárias físicas (UF) e não físicas.2
A prevalência de UF em adultos varia de 20 a 30% entre os casos de urticária, e 6,2 a 25,5% em crianças. Estima‐se que as UF estejam presentes em até 5% da população geral. Em 10 a 50% dos pacientes com UC, identifica‐se, pelo menos, um tipo de UF (mais frequentemente o dermografismo sintomático e urticária por pressão tardia).3
É importante reconhecer que associações de UCInd e UCE são muitas vezes observadas, enquanto um paciente pode mostrar simultaneamente duas ou mais formas de UCInd. Pacientes com UCE com um componente de UCInd têm pior prognóstico, com maior duração da doença.4,5 Em um estudo realizado por Kozel et al., a taxa de remissão após 1 ano em pacientes com associação UCE e UCInd foi de 21%, em comparação com 47% em pacientes com apenas UCE.6
As UCInd podem ser diagnosticadas por meio da história clínica, exame físico e da reprodução das lesões por testes de provocação.2
Realizamos um estudo retrospectivo, por meio da análise dos prontuários de 179 pacientes que apresentavam história de UC, acompanhados em um Centro de Referência e Excelência em Urticária (GA2LEN UCARE),7 no período de 2015 a 2019. Os principais objetivos dos GA2LEN UCAREs são fornecer excelência no manejo da urticária, aumentar o conhecimento da urticária por meio de pesquisa e educação, e promover a conscientização sobre a urticária. Para se tornar um GA2LEN UCARE certificado, os centros de urticária devem cumprir 32 requisitos que são avaliados durante uma visita de auditoria.7
O perfil epidemiológico desses pacientes foi analisado, e os seguintes parâmetros foram avaliados: sexo, idade, tempo de doença, presença de UCE e/ou UCInd e subtipo de UCInd. Os subtipos de UCInd foram confirmados por testes de provocação validados.2
Dos prontuários analisados, 153 (86%) eram de pacientes do sexo feminino e 26 (14%) masculino. A idade média foi 46,3 anos (6‐81 anos) e tempo de doença com média de 10,2 anos. Noventa e sete (54%) pacientes apresentavam associação de UCE e UCInd, 63 (35%) apresentavam apenas UCE e 19 (11%) somente UCInd (fig. 1). Dentre os pacientes que apresentavam somente UCInd, seja apenas uma forma ou diversas formas de UCInd por paciente, os subtipos foram: 12 (50%) com dermografismo, quatro (18%) com urticária por pressão tardia (UPT), um (4%) com urticária ao frio, dois (8%) com urticária ao calor, dois (8%) com urticária colinérgica, um (4%) com urticária vibratória, um (4%) com urticária solar e um (4%) com urticária aquagênica. Dentre os pacientes com UCInd associada a UCE, seja apenas uma forma ou diversas formas de UCInd por paciente por paciente, os subtipos foram: 81 (86%) com dermografismo, 27 (29%) com UPT, quatro (4,3%) com urticária ao frio, oito (8,6%) com urticária ao calor, um (1,1%) com urticária solar e nove (9,6%) com urticária colinérgica (fig. 2).
Nossos dados corroboram os achados de outros estudos epidemiológicos, com uma maior prevalência de UC no sexo feminino, faixa etária (20‐30 anos), associação UCE e UCInd, além do tipo mais frequente de UCInd (dermografismo). Por outro lado, diferente dos achados de estudos europeus, encontramos maior duração da doença no grupo estudado (10,2 anos×3‐5 anos).8,9 Essa diferença parece estar relacionada à alta prevalência de UCInd na amostra estudada.
A identificação e o manejo das UCInd em pacientes com UC são extremamente relevantes, visto que estão associadas a um pior prognóstico e maior duração da doença, o que compromete negativamente a qualidade de vida do paciente.
Suporte financeiroFinanciamento próprio.
Contribuição dos autoresAna Carolina Miranda Carvalho Ferreira Fernandes de Souza: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.
Sérgio D. Dortas Junior: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura e do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.
Guilherme Gomes Azizi: Aprovação da versão final do manuscrito; interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; análise estatística.
Alfeu Tavares França: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa.
Omar Lupi: Aprovação da versão final do manuscrito, revisão crítica da literatura, do manuscrito, participação efetiva na orientação da pesquisa.
Solange O R Valle: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa.
Conflito de interessesNenhum.
Esta pesquisa foi realizada como parte da assistência fornecida pelo Serviço de Imunologia, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF‐UFRJ).