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Vol. 98. Issue 5.
Pages 678-681 (1 September 2023)
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Cartas ‐ Investigação
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Série de casos: psoríase em pacientes transplantados de órgãos sólidos e agentes imunobiológicos
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Luana Pizarro Meneghelloa,
Corresponding author
lupmene@yahoo.com.br

Autor para correspondência.
, Diéssica Gisele Schulza, Larissa Prokopp da Costaa, André Vicente Esteves de Carvalhob
a Departamento de Dermatologia, Universidade Franciscana, Santa Maria, RS, Brasil
b Departamento de Dermatologia, Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil
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Tabela 1. Revisão da literatura sobre pacientes com psoríase e transplante prévio de órgãos sólidos que receberam terapia imunobiológica
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Prezado Editor,

O cenário de tratamento para psoríase evoluiu rapidamente nas últimas décadas; no entanto, o uso de imunobiológicos em imunocomprometidos com psoríase raramente é discutido na literatura.1 Em transplantados, os riscos potenciais da combinação de imunossupressores com tratamentos biológicos para psoríase não são totalmente conhecidos, na medida em que esses pacientes são usualmente excluídos dos ensaios clínicos pivotais.2

Pacientes imunocomprometidos, como receptores de órgãos transplantados, requerem avaliação cautelosa do risco‐benefício ao selecionar um imunobiológico para o tratamento da psoríase.1 Em virtude do grau de imunossupressão necessário para prevenção da rejeição do enxerto, a forma aguda da doença apresenta tendência de desaparecer no período imediato após o procedimento. Entretanto, na fase de transição para uma dose de manutenção da imunossupressão, a psoríase pode exacerbar. A resposta do organismo pode ser influenciada pela escolha da terapia imunossupressora, do órgão transplantado e pela tolerabilidade do indivíduo.2

Atualmente, não há diretrizes para o tratamento da psoríase moderada a grave em pacientes transplantados, e apenas alguns relatos de casos sobre o uso de biológicos em conjunto com esquema imunossupressor têm sido descritos na literatura (tabela 1).3 Apresentamos o relato de três casos de pacientes transplantados em uso de agentes imunobiológicos para o tratamento da psoríase.

Tabela 1.

Revisão da literatura sobre pacientes com psoríase e transplante prévio de órgãos sólidos que receberam terapia imunobiológica

Autor  Idade, sexo  Órgão transplantado  Regime imunossupressor  Imunobiológico  Tempo de uso  Resposta clínica  Complicações 
Próprio autor  53, M  Rim  Sirolimus e acitretina  Ustequinumabe  6 anos  Sim  Nenhuma 
Próprio autor  45, M  Fígado  Tacrolimo e micofenolato mofetil  Etanercepte  –  Sim  Nenhuma 
Próprio autor  39, M  Rim  Tacrolimo e prednisona  Risanquizumabe  2021 até o momento  Sim  Nenhuma 
Blasco et al., 202210  29, H  Rim  Prednisolona, e tacrolimo  Adalimumabe  –  Sim  Nenhuma 
Singh et al., 20211  50, H  Fígado  Tacrolimo e micofenolato mofetil  Brodalumabe  –  Sim  Nenhuma 
Richetta et al., 20217  50, H  Fígado  Tacrolimo e micofenolato mofetil  Ustequinumabe  6 meses  Sim  Nenhuma 
Lora et al., 20199  54, H  Fígado  Tacrolimo e micofenolato mofetil  Ixequizumabe  2 anos  Sim  Nenhuma 
Madankumar et al., 20156  52, M  Fígado  Tacrolimo, prednisona e everolimo  Etanercepte  1 ano  Sim  Múltiplas infecções* 
Brokalaki et al., 20125  42, M  Pâncreas‐rim  Prednisona, tacrolimo e micofenolato mofetil  Etanercepte  2 anos  Sim  Não reportadas 
Hoover et al., 2007a  63, M  Fígado  Tacrolimo e sirolimus  Etanercepte  6 meses  Sim  Nenhuma 
Collazo et al., 2008b  49, M  Fígado  Tacrolimo, micofenolato mofetil e corticosteroides  Etanercepte  5 meses  Sim  Nenhuma 
García‐Zamora et al., 2018c  67, H  Rim  Tacrolimo, micofenolato mofetil e corticosteroides  Etanercepte  10 meses  Sim  Nenhuma 
De Simone et al., 2016d  56, H  Fígado  Prednisona, tacrolimo e micofenolato mofetil.  Etanercepte  6 meses – reiniciando após recorrência  Sim  Nenhuma 

M, masculino; F, feminino; , sem dados.

a

Hoover WD. Etanercept therapy for severe plaque psoriasis in a patient who underwent a liver transplant. Cutis. 2007;80:211‐4.

b

Collazo MH, González JR, Torres EA. Etanercept therapy for psoriasis in a patient with concomitant hepatitis C and liver transplant. P R Health Sci J. 2008;27:346‐7.

c

García‐Zamora E, Gómez de la Fuente E, Miñano‐Medrano R, López‐Estebaranz JL. Uso de etanercept en un paciente trasplantado renal con psoriasis. Actas Dermosifiliogr. 2020;111:169‐71.

d

De Simone C, Perino F, Caldarola G, D’Agostino M, Peris K. Treatment of psoriasis with etanercept in immunocompromised patients: Two case reports. J Int Med Res. 2016;44:67‐71.

*

Infecções assintomáticasdo trato urinário ecolangite recorrente.

Caso I

Paciente do sexo masculino, 53 anos, transplantado renal em decorrência de glomerulopatia diabética. Apresentava psoríase desde a infância e diabetes tipo 2. Em uso de metotrexato no período anterior ao transplante renal. O regime imunossupressor pós‐transplante incluiu inicialmente azatioprina, prednisona, ciclosporina por cinco anos, alcançando controle da psoríase. Durante esse período, o paciente desenvolveu inúmeras verrugas virais, disseminadas. Houve transformação neoplásica para carcinoma epidermoide invasor moderadamente diferenciado nas lesões da face e períneo. O paciente foi submetido a tratamento cirúrgico controlado por congelação. Em virtude da possibilidade de desenvolvimento de outras lesões, o esquema imunossupressor foi alterado para sirolimus. No entanto, a psoríase retornou, em forma de rebote, com Índice de Área e Gravidade da Psoríase (PASI, do inglês Area and Severity Index of Psoriasis) 39,4; Área de Superfície Corporal (BSA, do inglês Body Surface Area) 48 e Índice de Qualidade de Vida Dermatológica (DLQI, do inglês Dermatological Quality of Life Index) 18. Nessa ocasião, acitretina 35mg/dia foi adicionada com o intuito de diminuir ainda mais as lesões verrucosas e controlar a psoríase, que apresentava algumas lesões pustulosas. Após três meses de acompanhamento, não houve resultado e, em concordância com a equipe da nefrologia, foi iniciado ustequinumabe na dose de 90mg nas semanas 0, 4 e depois a cada 12 semanas, mantendo uso de sirolimus e acitretina na dose de 10mg/dia. Após oito semanas de tratamento, o paciente apresentou PASI 5,0; BSA 12 e DLQI 1. A doença psoriásica apresentou estabilidade por quatro anos, quando o paciente em questão foi diagnosticado com tumor metastático no pulmão e evoluiu para óbito.

Caso II

Paciente do sexo masculino, 45 anos, transplantado hepático por hepatite autoimune. Diagnóstico de psoríase em placas, com PASI 12 pré‐transplante, BSA 16 e DLQI 11. O paciente foi tratado com tópicos e fototerapia. Após o transplante e o início da terapia imunossupressora com corticoide e inibidor da calcineurina, apresentou melhora completa das lesões até a retirada desse regime e a substituição por tacrolimo e micofenolato mofetil, seis meses depois. Houve piora das lesões, com PASI 21,4, BSA 29 e DLQI 18. O tratamento com fototerapia sem psoraleno foi iniciado, mas suspenso após três sessões em virtude de intenso eritema e queimaduras. Após discussão com as equipes de gastroenterologia e de transplantes, foi iniciado etanercepte na dose de 50mg/semana, com melhora significante do paciente (PASI 2,2, BSA 8, DLQI 0) na décima segunda semana de uso da medicação (fig. 1). O paciente permaneceu estável.

Figura 1.

(A) Placas eritematosas descamativas no dorso e cotovelos. (B) Involução total após tratamento com etanercepte

(0.18MB).
Caso III

Paciente do sexo feminino, 39 anos, transplantada renal em virtude de púrpura trombocitopênica. Diagnóstico de psoríase aos 10 anos; foi submetida a diversos tratamentos, desde tópicos a metotrexato. Em uso de acitretina por 22 anos, atingindo a dose de 50mg/dia. Em decorrência dos efeitos da medicação, reduziu‐se a dose para 25mg/dia nos últimos cinco anos, sem atingir resposta PASI 90. Ao exame clínico, observou‐se psoríase em placas, PASI 10,10 BSA 11% DLQI 17. Em virtude do quadro clínico e do comprometimento da qualidade de vida, em paciente transplantada renal sem resposta às terapias anteriormente instituídas, optou‐se pelo tratamento com risanquizumabe subcutâneo na dose de 150mg nas semanas 0, 4 e a cada 12 semanas. Após 16 semanas da primeira aplicação, a paciente apresentava PASI 90 e DLQI 0. A paciente está completando 30 semanas de seguimento, com excelente resposta clínica e sem quaisquer intercorrências (fig. 2).

Figura 2.

(A) Placas eritematosas no abdome. (B) Involução total após tratamento com risanquizumabe

(0.34MB).

Como visto nos casos descritos, a terapia imunobiológica em pacientes imunocomprometidos é utilizada em casos de difícil tratamento da psoríase. Poucos estudos sobre o uso de terapia anti‐TNFα em pacientes transplantados renais foram realizados. Alguns relatos de casos referem que foi alcançada melhora da doença sem efeitos adversos com o uso de etanercepte.4–7

Até o momento, este é o segundo relato de caso encontrado de psoríase em transplantados tratados com ustequinumabe, com resolução rápida e completa da doença, sem quaisquer efeitos colaterais.7 Não se observou risco aumentado de malignidades, eventos adversos cardiovasculares graves, infecções graves ou aumento na mortalidade em pacientes portadores de psoríase utilizando esse medicamento.8

Até o momento, o Caso III deste artigo é o primeiro a relatar o uso de risanquizumabe em pacientes com psoríase e receptores de transplante de órgãos. O uso de risanquizumabe apresenta um bom perfil de segurança com uma reduzida taxa de efeitos adversos.8 Alguns autores reportaram o uso de ixequizumabe, brodalumabe e adalimumabe como opção segura no tratamento de pacientes transplantados com psoríase grave.1,9,10

Com esses novos casos, fornecemos informações adicionais sobre o uso de imunobiológicos em pacientes transplantados. É fundamental que o paciente, a equipe de dermatologia e a equipe de transplante trabalhe em conjunto para enfrentar os desafios e o cenário relativamente desconhecido do tratamento da psoríase em pacientes transplantados. Como o número de transplantes de órgãos está em ascensão, essa questão se tornará cada vez mais clinicamente relevante.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Luana Pizarro Meneghello: Participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Diéssica Gisele Schulz: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Larissa Prokopp Da Costa: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

André Vicente Esteves de Carvalho: Participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Cutis., 107 (2021), pp. 104-106
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Use of etanercept for psoriasis in a liver transplant recipient.
JAAD Case Rep., 24 (2015), pp. S36-S37
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A. Richetta, F. Marraffa, S. Grassi, E. Aquila, A. Dybala, F. Aprile, et al.
Ustekinumab for the treatment of moderate‐to‐severe plaque psoriasis in a solid organ transplanted recipient: a case report.
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Brazilian consensus on psoriasis 2020 and treatment algorithm of the Brazilian Society of Dermatology.
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Treatment of severe psoriasis with ixekizumab in a liver transplant recipient with concomitant hepatitis B virus infection.
Dermatol Ther., 32 (2019), pp. e12909
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BI23: use of biologics for psoriasis in solid organ transplant recipients: a case report and review of the literature.
Br J Dermatol., 187 (2022), pp. 114

Como citar este artigo: Meneghello LP, Schulz DG, Costa LP, Carvalho AVE. Case series: psoriasis in solid organ transplant patients and immunobiological agents. An Bras Dermatol. 2023;98:678–81.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Universidade Franciscana, Santa Maria, RS, Brasil.

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