Paciente do sexo feminino, 34 anos, foi encaminhada ao nosso serviço com múltiplas lesões assintomáticas que surgiram havia duas semanas. O exame físico revelou múltiplas placas arredondadas, planas e acastanhadas, bem circunscritas, com bordas levemente elevadas, algumas das quais recobertas por escamas (figs. 1 e 2). Eram nove lesões no total: seis no membro inferior direito e lesão única no membro inferior esquerdo, na coxa esquerda e no membro superior direito. A histopatologia de uma biópsia de pele evidenciou células disceratóticas na epiderme adelgaçada, lamela cornoide e ausência da camada granulosa. Infiltrado linfocítico perivascular superficial também foi observado na derme (fig. 3). O teste da banda lúpica foi negativo, e a imunomarcação para papilomavírus humano também foi negativa. A paciente estava internada no Departamento de Nefrologia e Hipertensão por síndrome nefrótica e estava sendo tratada com prednisolona oral (25mg/dia), ciclosporina (50mg/dia) e mizoribina (150mg/dia). A paciente não apresentava diabetes induzida por esteroides. Os dados laboratoriais mostraram níveis anormais de triglicérides (701mg/dL), colesterol total (607mg/dL) e colesterol de lipoproteína de baixa densidade (405mg/dL). Os níveis séricos do complemento, de imunoglobulina G (IgG), anticorpos antinucleares, anticorpos anti‐DNA, anticorpos anti‐Sm e fator reumatoide estavam todos dentro da normalidade. Embora a função renal fosse normal, observou‐se proteinúria com cilindros hialinos, e o exame de imunofluorescência em biópsia renal revelou deposição granular de IgM e IgG na membrana basal. Como a deposição do componente 1q do complemento foi detectada adicionalmente, ela foi inicialmente considerada com suspeita de nefrite lúpica; entretanto, não apresentava outros sintomas compatíveis com lúpus eritematoso sistêmico. Foi aplicada pomada tópica de corticosteroide, mas a paciente descontinuou a terapia tópica.
A poroceratose eruptiva é caracterizada pelo rápido início da poroceratose, que ocasionalmente se apresenta com mais de 100 lesões afetando várias regiões, em associação com condições paraneoplásicas, imunossupressoras, inflamatórias e outras.1 Sabe‐se que a poroceratose se desenvolve em associação com imunossupressão sistêmica ou sob terapias imunossupressoras; entretanto, ainda não está claro como a imunossupressão induz o desenvolvimento de poroceratose.2 Um possível mecanismo é que a imunossupressão induza uma população alterada de ceratinócitos epidérmicos direta ou indiretamente.2 O clone anormal de ceratinócitos prolifera de maneira desordenada e altera o crescimento normal da epiderme.3 Pacientes com insuficiência renal raramente desenvolvem poroceratose múltipla.4,5 Como a disfunção renal pode induzir várias alterações imunorregulatórias, sugere‐se que esses casos sejam um novo subtipo de poroceratose relacionado à imunossupressão.5 No presente caso, a paciente foi inicialmente diagnosticada com nefrite lúpica. Ela pode desenvolver lúpus eritematoso sistêmico no futuro; entretanto, os critérios de nefrite lúpica não foram preenchidos até o momento. De qualquer forma, a paciente apresentava nefrite ativa com síndrome nefrótica e foi tratada com terapias imunossupressoras. O desenvolvimento de poroceratose foi, portanto, considerado relacionado à terapia imunossupressora ou à atividade da nefrite. Embora não haja certeza sobre qual foi o gatilho direto para o aparecimento rápido da poroceratose múltipla, uma vez que a paciente ainda apresentava função renal normal apesar da presença de proteinúria, terapias imunossupressoras podem ter levado ao desenvolvimento de poroceratose múltipla no presente caso.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuições dos autoresMasato Ishikawa: Projetou o estudo; realizou a pesquisa e contribuiu para a análise e interpretação dos dados; redigiu a versão inicial do manuscrito; leu e aprovou a versão final do manuscrito.
Toshiyuki Yamamoto: Projetou o estudo; auxiliou na preparação do manuscrito; leu e aprovou a versão final do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.