A psoríase é doença inflamatória crônica associada a muitas condições inflamatórias, como aterosclerose, hipertensão, entre outras. SCUBE‐1 é uma proteína que desempenha papéis no processo de angiogênese.
ObjetivosO presente estudo teve como objetivo investigar se SCUBE‐1 poderia indicar aterosclerose subclínica em pacientes com psoríase e comparar os níveis de SCUBE‐1, a medida da espessura íntima‐média carotídea (EIMC) e parâmetros metabólicos em pacientes com psoríase e controles saudáveis.
MétodosQuarenta e seis pacientes com psoríase e 43 controles saudáveis foram incluídos no estudo. A gravidade da doença foi avaliada com o escore Índice de Área e Gravidade da Psoríase (PASI, do inglês Psoriase Area Severity Index) no grupo de pacientes. Os níveis de SCUBE‐1, proteína C‐reativa (PCR), lipídios e glicemia de jejum foram medidos com o método Enzyme‐Linked Immunosorbent Assay (ELISA), e as medidas de EIMC foram realizadas pelo mesmo cardiologista.
ResultadosOs níveis de SCUBE‐1 e os valores de EIMC foram significantemente maiores no grupo de pacientes (para ambos, p <0,05). Além disso, a pressão arterial sistólica, os níveis de PCR e a circunferência da cintura foram maiores no grupo de pacientes, embora ambos os grupos tivessem IMC semelhantes (para todos, p <0,05). Correlação positiva foi encontrada entre os valores de SCUBE‐1 e EIMC nos pacientes, e análises de regressão múltipla revelaram que SCUBE‐1 e EIMC também estão significantemente associados à psoríase.
Limitações do estudoO baixo número de participantes e a não inclusão de qualquer outro marcador inflamatório relacionado à angiogênese ou aterosclerose como VEGF, adiponectina, são as principais limitações do presente estudo.
ConclusãoSem considerar a gravidade da doença, mesmo em pacientes psoriásicos com doença leve, o nível de SCUBE‐1 pode ser um indicador de aterosclerose subclínica e indicar risco de doença cardiovascular no futuro.
Psoríase é doença inflamatória sistêmica frequentemente associada a condições metabólicas, incluindo doenças cardiovasculares, esteatose hepática, obesidade, resistência à insulina, diabetes mellitus (DM), hipertensão e hiperlipidemia.1
A patogênese exata da psoríase não está totalmente elucidada, mas a parte esclarecida inclui principalmente inflamação mediada por células T, caracterizada pela ativação de células T‐helper (Th)1, Th17 e Th‐22.2 Essas células ativadas produzem muitas citocinas, incluindo fator de necrose tumoral (TNF)‐α, interleucina (IL)‐1, IL‐17, fator de crescimento endotelial vascular (VEGF, vascular endothelial growth factor), IL‐6, IL‐22, IL‐23 e interferon‐γ (IFN‐γ).2–4 Além disso, esses mediadores podem levar a inflamação sistêmica que desencadeia disfunção do endotélio endovascular, aumento do estresse oxidativo, hipercoagulação e aumento da angiogênese, que também são os principais componentes das lesões cardiovasculares e aterosclerose.1,5
SCUBE‐1 (Signal peptide‐CUB‐EGF domain‐containing protein 1) é membro de uma família de proteínas localizada na superfície celular – as proteínas SCUBE – que podem ser detectadas em processos inflamatórios e angiogênese.6–8 Em estudos recentes, a proteína SCUBE‐1 foi detectada em células endoteliais vasculares e plaquetas conhecidas por desempenharem papéis cruciais no processo de trombose arterial.9,10 Além disso, há um estudo avaliando os níveis séricos de VEGF, SCUBE‐1 e SCUBE‐3 em pacientes com psoríase, no qual os autores afirmam que SCUBE‐1 pode estar relacionada à patogênese da psoríase.11
A espessura íntima‐média carotídea (EIMC) é a medida da espessura da parede da artéria carótida avaliada na ultrassonografia, e mesmo alterações iniciais da aterosclerose podem ser diagnosticadas diretamente por esse método.12 Alguns estudos relataram que pacientes com psoríase têm valores de EIMC mais altos do que controles saudáveis não psoriásicos.13–15Além disso, eles alegaram que a psoríase é fator de risco independente para aumento da EIMC, que indica aterosclerose subclínica.13
O presente estudo teve como objetivo avaliar aterosclerose subclínica em pacientes com psoríase pela medida da EIMC, níveis de SCUBE‐1 e parâmetros metabólicos, além de compará‐los entre pacientes psoriásicos e controles saudáveis não psoriásicos e, assim, investigar se SCUBE‐1 poderia desempenhar papel tanto na patogênese da psoríase quanto da aterosclerose. Que seja de conhecimento dos autores, este é o primeiro estudo na literatura avaliando os níveis de SCUBE‐1 e a medida da EIMC simultaneamente em pacientes psoriásicos e controles saudáveis.
Material e métodoEste estudo prospectivo de caso‐controle foi revisado pelo Comitê de Ética do Suleyman Demirel University Hospital e aprovado pela decisão número 370 em 23/12/2019. Este protocolo de estudo foi consistente com a Declaração de Helsinque, e consentimento informado foi obtido de cada um dos participantes.
População do estudoPacientes diagnosticados com psoríase na histopatologia e/ou clinicamente, com idade entre 18 e 65 anos, atendidos no Ambulatório de Dermatologia do Suleyman Demirel University Hospital entre janeiro de 2020 a janeiro de 2021, foram considerados para este estudo. Pacientes com histórico de qualquer evento cardiovascular ou cerebrovascular, infecção ativa e doenças inflamatórias sistêmicas ou cutâneas, exceto psoríase, e ingestão regular de medicamentos por qualquer motivo foram excluídos. Obteve‐se histórico detalhado dos pacientes, foi realizado exame dermatológico e a presença de artrite e/ou envolvimento das unhas também foi avaliada e anotada. Os índices de Área e Gravidade da Psoríase (PASI, do inglês Psoriasis Area and Severity Index)16 foram calculados e, de acordo com os mesmos, os pacientes foram subdivididos em dois grupos: doença leve, com escore PASI ≤ 10, e doença moderada a grave, com escore PASI> 10.
Voluntários saudáveis pareados por idade e sexo, sem quaisquer doenças inflamatórias sistêmicas, incluindo doenças cardiovasculares e/ou neurovasculares, doenças inflamatórias da pele e ingestão regular de medicamentos por qualquer motivo, foram incluídos como grupo controle.
Altura, peso, circunferência da cintura, pressão arterial (PA) diastólica e sistólica, e pulsação de todos os indivíduos foram medidos.
SCUBE e outros testes laboratoriaisApós 10 horas de jejum, amostras de sangue venoso foram coletadas e colocadas em um tubo separador de soro com ativador de coagulação e centrifugadas a 3.000rpm por 10 minutos. Em seguida, essas amostras de soro foram armazenadas a−80°C até a análise. Testes bioquímicos, incluindo glicemia de jejum, triglicerídeos (TG), colesterol total, lipoproteína de alta densidade (HDL), lipoproteína de baixa densidade (LDL) e proteína C‐reativa (PCR) foram medidos pelo analisador bioquímico Beckman Coulter AU 5800 (Beckman Coulter, Brea, CA, EUA). Os níveis séricos de SCUBE‐1 foram medidos utilizando o kit ELISA (E‐EL‐H5405 Elabscience, Wuhan, Província de Hubei, China). A sensibilidade do kit ELISA era de 0,38 ng/mL. Os resultados foram expressos em unidades de concentração.
Medidas ultrassonográficas de EIMCEssas medidas foram realizadas pelo mesmo cardiologista certificado e treinado. Os pacientes ficaram em repouso por 10 minutos e foram solicitados a deitar em decúbito dorsal durante o exame. A ultrassonografia em modo B das artérias carótidas direita e esquerda foi realizada pelo médico com um transdutor linear de alta resolução (sensível a uma espessura de 0,01mm) de 8MHz do aparelho de ultrassom Vivid S6.
Análise estatísticaOs dados foram analisados usando o IBM SPSS Statistics 21.0. Os valores dos dados descritivos foram apresentados como média±DP (também foram fornecidos mediana, valores mínimos e máximos). As variáveis categóricas foram apresentadas como frequência e porcentagem. Para a análise de variáveis contínuas entre os grupos, as características de distribuição foram avaliadas com o teste de Shapiro‐Wilk. A análise do qui‐quadrado foi usada para variáveis categóricas e qualitativas, e o teste t de Student também foi empregado para comparações de variáveis com distribuição normal e o teste U de Mann‐Whitney para variáveis não normalmente distribuídas, se existissem dois grupos. A relação entre os parâmetros foi avaliada por meio da correlação e análise de Pearson e Spearman. As análises de regressão logística univariada e multivariada consistiram em SCUBE‐1, EIMC e outras variáveis (PA sistólica, circunferência da cintura, glicemia, hs‐PCR, TG). Significância estatística foi considerada com valor de p <0,05.
ResultadosQuarenta e seis pacientes (19 mulheres e 27 homens) com média de idade de 40,3±13,8 anos e 43 controles (18 mulheres e 25 homens) com média de idade de 39,9±11,6 anos foram incluídos no estudo. Não houve diferença significante entre os dois grupos em relação à média de idade e sexo (p=0,890, p=0,958 respectivamente). A duração média da doença dos pacientes foi de 12,6 anos. O escore PASI médio foi de 12,3 no grupo de pacientes. Quinze pacientes tinham psoríase leve e 31 pacientes tinham psoríase moderada a grave, de acordo com os escores PASI. Os pacientes tinham IMC um pouco maior do que os controles, com diferença não significante (25,9±4,8kg/m2vs. 24,6±3,2kg/m2; p=0,154). A PA sistólica média e a circunferência da cintura foram maiores no grupo de pacientes, e essas diferenças foram significantes (p=0,044 e p=0,005, respectivamente). As características descritivas dos participantes são mostradas na tabela 1.
Características basais dos grupos do estudo (n=89)
Grupo de pacientes(n=46) | Grupo controle(n=43) | p‐valor | |
---|---|---|---|
Idade, anos | 40,3±13,8 | 39,9±11,6 | 0,890a |
IMC, kg/m2 | 25,9±4,8 | 24,6±3,2 | 0,154a |
Sexo feminino, n (%) | 19 (41,3) | 18 (41,9) | 0,958b |
Tabagismo, n (%) | 25 (54,3) | 20 (46,5) | 0,460b |
Etilismo, n (%) | 9 (19,6) | 13 (30,2) | 0,244b |
Pressão arterial sistólica, mmHg | 121,8±18,7 | 115,1±11,9 | 0,044c |
Pressão arterial diastólica, mmHg | 77,7±9,7 | 74,0±9,7 | 0,070a |
Pulsação, por minuto | 79,2±8,9 | 76,1±6,5 | 0,067a |
Circunferência da cintura, cm | 94,8±14,2 | 87,9±7,2 | 0,005c |
Os dados são fornecidos como média±desvio padrão, número (n). IMC, índice de massa corporal.
Diferenças estatisticamente significantes foram demonstradas entre pacientes e controles saudáveis em relação aos níveis de glicemia de jejum, TG e PCR (para todos p <0,05). Todos esses parâmetros foram maiores no grupo de pacientes (tabela 2).
Parâmetros laboratoriais dos grupos do estudo (n=89)
Grupo de pacientes(n=46) | Grupo controle(n=43) | p‐valor | |
---|---|---|---|
Glicemia, mg/dL | 110,1±31,1 | 93,4±14,2 | 0,021a |
Colesterol total, mg/dL | 191,3±36,1 | 183,4±36,5 | 0,365 |
Triglicerídeos, mg/dL | 141,0±67,0 | 102,6±46,5 | 0,002a |
LDL, mg/dL | 118,3±27,4 | 110,8±27,7 | 0,200 |
HDL, mg/dL | 47,0±13,1 | 51,8±13,4 | 0,088 |
Hs‐PCR, mg/L | 4,1±3,1 | 1,8±2,1 | 0,002a |
Os dados são fornecidos como média±desvio padrão, número (n). HDL, lipoproteína de alta densidade‐colesterol; LDL, lipoproteína de baixa densidade‐colesterol; Hs‐PCR, proteína C‐reativa de alta sensibilidade.
O valor médio de SCUBE‐1 nos pacientes foi de 4,47±2,40, enquanto no grupo controle foi de 2,66±2,49, e essa foi uma diferença significante (p <0,001). Além disso, foram encontradas diferenças significantes entre os grupos em relação às medidas da EIMC direita, esquerda e média (para todos, p <0,001; tabela 3).
Níveis de SCUBE‐1 e valores da espessura íntima‐média carotídea dos grupos do estudo (n=89)
Grupo de pacientes (n=46) | Grupo controle(n=43) | p‐valor | |
---|---|---|---|
Escore SCUBE‐1 | 4,47±2,40 | 2,66±2,49 | <0,001a |
EIMC direita | 0,81±0,07 | 0,75±0,04 | <0,001a |
EIMC esquerda | 0,81±0,08 | 0,74±0,04 | <0,001a |
EIMC média | 0,81±0,07 | 0,75±0,04 | <0,001a |
Os dados são fornecidos como média±desvio padrão, número (n). EIMC, espessura íntima‐média carotídea.
Não foram mostradas diferenças significantes entre cada um dos valores de SCUBE‐1 e medidas da EIMC de acordo com a gravidade da doença com base nos escores PASI no grupo de pacientes (para todos, p> 0,05; tabela 4).
Comparação dos níveis de SCUBE‐1, EIMC direita, EIMC esquerda e médias de EIMC de acordo com a gravidade da doença no grupo de pacientes (n=46)
Escore PASI ≤ 10(n=16) | Escore PASI> 10(n=30) | p‐valor | |
---|---|---|---|
Escore SCUBE‐1 | 4,80±2,35 | 4,28±2,44 | 0,487 |
EIMC direita | 0,82±0,07 | 0,81±0,06 | 0,714 |
EIMC esquerda | 0,84±0,08 | 0,78±0,14 | 0,138 |
EIMC média | 0,83±0,07 | 0,80±0,08 | 0,153 |
Os dados são fornecidos como média±desvio padrão, número (n). EIMC, espessura íntima‐média carotídea.
p <0,001, teste U de Mann‐Whitney.
Os valores de SCUBE‐1 e EIMC foram correlacionados positivamente nos pacientes (tabela 5). Uma correlação positiva também foi mostrada entre os níveis de SCUBE‐1 e PA sistólica e diastólica. Além disso, foram encontradas correlações positivas entre PA sistólica e diastólica, IMC e circunferência da cintura, colesterol total e níveis de LDL (tabela 5). Análises de regressão linear múltipla revelaram que a presença de psoríase também foi significantemente associada com EIMC e níveis de SCUBE‐1 (tabela 6).
Correlação de variáveis entre si no grupo de pacientes (n=46)
IMC | Duração da doença | Tabagismo | PA sistólica | PA diastólica | Circunferência da cintura | Colesterol Total | LDL | SCUBE1 | EIMC | PASI | |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
IMC | |||||||||||
CP | 1 | ||||||||||
Sig. (bicaudal) | |||||||||||
Duração da doença | |||||||||||
CP | 0,130 | 1 | |||||||||
Sig. (bicaudal) | 0,389 | ||||||||||
Tabagismo | |||||||||||
CP | 0,013 | –0,193 | 1 | ||||||||
Sig. (bicaudal) | 0,906 | 0,199 | |||||||||
PA sistólica | |||||||||||
CP | 0,381a | –0,043 | 0,048 | 1 | |||||||
Sig. (bicaudal) | 0,000a | 0,778 | 0,658 | ||||||||
PA Diastólica | |||||||||||
CP | 0,299a | 0,171 | ‐0,059 | 0,661a | 1 | ||||||
Sig. (bicaudal) | 0,004a | 0,255 | 0,585 | 0,000a | |||||||
Circunferência da cintura | |||||||||||
CP | 0,676a | 0,213 | 0,079 | 0,404a | 0,330a | 1 | |||||
Sig. (bicaudal) | 0,000a | 0,155 | 0,464 | 0,000a | 0,002a | ||||||
Colesterol Total | |||||||||||
CP | 0,213b | 0,028 | 0,010 | 0,198 | 0,097 | 0,166 | 1 | ||||
Sig. (bicaudal) | 0,045b | 0,855 | 0,925 | 0,063 | 0,365 | 0,120 | |||||
LDL | |||||||||||
CP | 0,222b | 0,019 | 0,067 | 0,177 | 0,127 | 0,151 | 0,923a | 1 | |||
Sig. (bicaudal) | 0,037b | 0,902 | 0,532 | 0,097 | 0,235 | 0,158 | 0,000a | ||||
SCUBE‐1 | |||||||||||
CP | 0,135 | –0,204 | 0,091 | 0,294a | 0,316a | 0,205 | 0,156 | 0,203 | 1 | ||
Sig. (bicaudal) | 0,208 | 0,175 | 0,398 | 0,005a | 0,003a | 0,053 | 0,146 | 0,057 | |||
EIMC | |||||||||||
CP | –0,037 | 0,109 | 0,019 | 0,363a | 0,272a | 0,055 | 0,144 | 0,203 | 0,286a | 1 | |
Sig. (bicaudal) | 0,727 | 0,472 | 0,856 | 0,000a | 0,010a | 0,611 | 0,179 | 0,057 | 0,007a | ||
PASI | |||||||||||
CP | 0,171 | 0,130 | 0,198 | 0,079 | 0,097 | 0,010 | –0,059 | –0,193 | 0,028 | 0,144 | 1 |
Sig. (bicaudal) | 0,255 | 0,389 | 0,063 | 0,464 | 0,365 | 0,925 | 0,585 | 0,199 | 0,855 | 0,357 |
IMC, índice de massa corporal; PA, pressão arterial; LDL, lipoproteína de baixa densidade‐colesterol; EIMC, espessura íntima‐média carotídea; CP, correlação de Pearson.
Análises de regressão univariada e multivariada de parâmetros em psoríase
Univariada | p–valor | Multivariada | p‐valor | |
---|---|---|---|---|
OR (IC95%) | OR (IC95%) | |||
Pressão arterial sistólica | 0,970 (0,941‐1,000) | 0,052 | ||
Circunferência da cintura | 0,947 (0,909‐0,986) | 0,008a | 0,968 (0,919‐1,019) | 0,212 |
Glicemia | 0,965 (0,936‐0,994) | 0,019a | 0,996 (0,969‐1,023) | 0,764 |
Hs‐PCR | 0,733 (0,579‐0,927) | 0,010a | 0,848 (0,649‐1,107) | 0,225 |
Triglicerídeos | 0,988 (0,980‐0,996) | 0,005a | 0,992 (0,981‐1,003) | 0,155 |
EIMC | 0,960 (0,940‐0,981) | <0,001b | 0,965 (0,945‐0,976) | 0,003a |
SCUBE‐1 | 0,729 (0,598‐0,888) | 0,002a | 0,828 (0,652‐1,051) | 0,031a |
IC, intervalo de confiança; OR, odds ratio; Hs‐PCR, proteína C‐reativa de alta sensibilidade; EIMC, espessura íntima‐média carotídea.
Evidências sugerem que além da inflamação, a angiogênese e a disfunção endotelial também são componentes significantes dos mecanismos patogênicos na psoríase.17,18 A associação entre psoríase e aumento do risco de doenças cardiovasculares foi comprovada em muitos estudos,17,19‐22 mas os mecanismos subjacentes permanecem indefinidos. Dois mecanismos subjacentes foram propostos: primeiro, fatores de risco cardiovascular no centro das atenções (DM, resistência à insulina, hipertensão, perfis lipídicos alterados, IMC alto, tabagismo) podem ser vistos com maior frequência em pacientes com psoríase em comparação com o restante da população;23,24 o segundo é a própria psoríase, cuja inflamação sistêmica também pode afetar diretamente as paredes dos vasos e, como resultado, vasos inflamados elevam o risco de doenças cardiovasculares e mortalidade.25 Em um estudo de base populacional, os autores mostraram que a psoríase estava associada ao aumento médio da EIMC, mas não à prevalência de placa carotídea.26 Em outro estudo da Itália, observou‐se aumento significante nos valores médios de EIMC em pacientes com psoríase, além de forte correlação positiva entre os escores PASI e EIMC.27 Semelhante à literatura, o presente estudo mostra diferença significante nos valores de EIMC de pacientes com psoríase em relação aos controles saudáveis. Além disso, PA sistólica e diastólica foram significantemente mais altas no grupo de pacientes, enquanto ambos os grupos não mostraram nenhuma diferença em termos de hábitos de tabagismo e consumo de álcool e IMC. Ao contrário do estudo mencionado anteriormente, não foram encontradas diferenças significantes nos valores da EIMC de acordo com a gravidade da doença, nem correlação entre os valores da EIMC e os escores PASI. Nossos resultados mostraram que mesmo pacientes com doença leve podem ter maior risco de presença de aterosclerose subclínica e, nos pacientes do presente estudo, acredita‐se que o possível mecanismo subjacente causador dessa diferença esteja relacionado à própria doença.
SCUBE‐1 pertence à família de proteínas SCUBE que estão aumentadas em processos inflamatórios e condições associadas à hipóxia, e acredita‐se que tenham papel na angiogênese fisiológica e patológica.28 Na literatura, a expressão de SCUBE‐1 foi demonstrada especialmente em células endoteliais vasculares de tecidos altamente vascularizados,8 e os níveis de SCUBE‐1 estavam aumentados em condições como síndrome coronariana aguda, acidente vascular encefálico isquêmico agudo, DM, neoplasias malignas e também psoríase.9–11,29,30 Além disso, os níveis de SCUBE‐1 diminuíram com tratamentos contra IL‐1β e TNF‐α.8 Até o momento, há apenas um estudo avaliando os níveis de SCUBE‐1 em pacientes com psoríase, e esse estudo demonstrou que os níveis de VEGF, SCUBE‐1 e SCUBE‐3 eram significantemente diferentes entre pacientes com psoríase e controles saudáveis.12 Os autores também relataram que SCUBE‐1 apresentou 83% de sensibilidade e 62% de especificidade para prever a psoríase. Assim, eles sugeriram que a família de proteínas SCUBE pode ser marcador potencial no processo e na triagem da angiogênese patológica em pacientes psoriásicos. Da mesma maneira, o presente estudo demonstrou níveis significantemente elevados de SCUBE‐1 no grupo de pacientes em comparação aos controles saudáveis. A análise de regressão múltipla e os resultados de correlação entre EIMC e SCUBE‐1 indicaram que o nível de SCUBE‐1 está fortemente associado à aterosclerose e pode ser um biomarcador útil e independente que demonstra a presença de aterosclerose subclínica, além da medida da EIMC.
A PCR é uma proteína de resposta de fase aguda envolvida em muitos processos inflamatórios, como angiogênese, trombose e ativação do sistema complemento.31 Foi demonstrado que níveis elevados de PCR estão relacionados ao risco de eventos cardiovasculares futuros.32 O presente estudo mostrou níveis significantemente aumentados de PCR no grupo de pacientes, o que pode demonstrar maior prevalência de aterosclerose subjacente e distúrbios cardiovasculares em pacientes com psoríase. A circunferência da cintura é um marcador clínico de obesidade associado a aterosclerose e a distúrbios cardiovasculares. Além disso, é considerado medida não invasiva independente da aterosclerose subclínica.33 No presente estudo, embora os pacientes tivessem IMC semelhante ao dos controles saudáveis, a medida da circunferência da cintura era significantemente maior no grupo de pacientes. Também foi demonstrada correlação positiva entre a circunferência da cintura e a PA. Esses resultados sugerem que a medida da circunferência da cintura também é um valor importante, indicando aumento da PA e possível aterosclerose subclínica, mesmo que os pacientes não sejam obesos.
ConclusãoEmbora o presente estudo tenha algumas limitações, como baixo número de participantes e não ter incluído nenhum outro marcador inflamatório relacionado à angiogênese ou aterosclerose, como VEGF, adiponectina, entre outros, não há nenhum outro estudo na literatura avaliando parâmetros metabólicos, SCUBE‐1 sérico e medida da EIMC simultaneamente em pacientes com psoríase. Com esses resultados, os autores demostraram que além da medida da EIMC, SCUBE‐1 pode ser marcador importante e independente para demonstrar aterosclerose subclínica por meio de sua participação no processo patológico da angiogênese em pacientes com psoríase. Além disso, os níveis séricos de PCR e a circunferência da cintura podem estar particularmente relacionados à aterosclerose subclínica e podem ser indicadores de futuras doenças cardiovasculares. Este estudo pioneiro deve ser validado em futuros estudos longitudinais prospectivos com amostras maiores e mais marcadores inflamatórios. Os autores acreditam que, no futuro, quando as vias e os mecanismos pelos quais a SCUBE‐1 atua na patogênese da psoríase forem mais bem compreendidos, ela poderá ser um alvo potencial para futuras terapêuticas, especialmente para prevenir a angiogênese patológica subjacente e a aterosclerose subclínica na psoríase.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresHavva Hilal Ayvaz Çelik: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; elaboração e redação do manuscrito.
Mevlüt Serdar Kuyumcu: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; análise estatística; concepção e planejamento do estudo.
Fevziye Burcu Şirin: Aprovação da versão final do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.
Mehmet Cirit: Obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa.
Selma Korkmaz: Revisão crítica do manuscrito.
İjlal Erturan: Revisão crítica do manuscrito.
Seda Çelik: Obtenção, análise e interpretação dos dados.
Mehmet Yıldırım: Revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.
Como citar este artigo: Ayvaz Çelik HH, Kuyumcu MS, Şirin FB, Cirit M, Korkmaz S, Erturan İ, et al. Could SCUBE‐1 be a marker for subclinical atherosclerosis other than carotid artery intima‐media thickness in patients with psoriasis? An Bras Dermatol. 2023;98:595–601.
Trabalho realizado nos Departamentos de Dermatologia e Bioquímica, Suleyman Demirel University, Isparta, Turquia.