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Vol. 96. Issue 6.
Pages 797-798 (1 November 2021)
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Carta ‐ Caso clínico
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Melanose tumoral sem metástase: um relato com três anos de seguimento
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Anna Carolina Miolaa,
Corresponding author
anna.c.miola@unesp.br

Autor para correspondência.
, Ana Claudia Cavalcante Espositoa, Hamilton Ometto Stolfa,b, Helio Amante Miota
a Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
b Disciplina de Dermatologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil
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Prezado Editor,

Melanose tumoral é manifestação clínica rara de um melanoma completamente regredido, geralmente representado por lesão pigmentada clinicamente suspeita de melanoma invasivo. O exame histopatológico revela infiltrado dérmico denso de melanófagos, porém sem melanócitos atípicos.1 O prognóstico dessa entidade incomum é incerto, mas foram descritas metástases durante o seguimento ou mesmo no momento do diagnóstico.2

Apresentamos o caso de paciente do sexo feminino, branca, 56 anos de idade, sem história prévia de queimaduras solares, com lesão pigmentada escura no dorso com 1,2cm de diâmetro e halo hipopigmentado, detectada durante consulta médica e sem histórico de crescimento. Na dermatoscopia foram observadas áreas de peppering na periferia, irregularidade das bordas e véu cinza‐azulado (fig. 1). Não foram encontrados linfonodos endurecidos ou aumentados durante a palpação.

Figura 1.

Lesão enegrecida, com 1,2cm de diâmetro, com halo hipopigmentado; na dermatoscopia, irregularidade das bordas e véu cinza‐azulado.

(0.18MB).

Foi realizada biópsia excisional com 2mm de margem, com a hipótese de melanoma; o exame histopatológico revelou múltiplos agregados de melanófagos na derme reticular (Clark III), melhor visualizados após contracoloração com Giemsa (figs. 2 e 3). O diagnóstico de melanose tumoral foi estabelecido, e optou‐se pela ampliação com margens de 2cm de diâmetro. O exame clínico e a tomografia computadorizada do corpo total não revelaram lesões metastáticas. Foi realizada ultrassonografia de abdome e linfonodos, sem a presença de aumento ou sinais de metástase. A paciente foi mantida em acompanhamento clínico a cada três meses, por três anos consecutivos, sem sinais de recorrência local da lesão ou metástase, confirmada pelo exame clínico e ultrassonográfico.

Figura 2.

Magnificação: intenso infiltrado de melanófagos na derme (Hematoxilina & eosina, 100×).

(0.21MB).
Figura 3.

Presença de macrófagos abarrotados de pigmento melânico (melanófagos), melhor evidenciados no H&E após contracoloração com Giemsa.

(0.18MB).

Regressão é ocorrência comum na neoplasia melanocítica, esperada em aproximadamente 30% dos casos. Geralmente ocorre de modo focal e parece ter pouco ou nenhum efeito no prognóstico do melanoma excisado. No entanto, extensas áreas de regressão estão associadas a pior prognóstico.3 Dado que a melanose tumoral representa regressão completa das células atípicas melanocíticas, elas também podem ser encontradas nos linfonodos com sinais clínicos de metástase. Também são relatados casos de melanose tumoral após tratamento de melanoma metastático com anticorpos monoclonais (por exemplo, dabrafenibe/trametinibe).4

Na literatura, existem dados conflitantes sobre o efeito prognóstico da regressão no melanoma. Sugere‐se que a regressão parcial em menos de 50‐75% das células tumorais não afete o prognóstico, enquanto a regressão completa ou extensa acima desse percentual de tecido tumoral está associada à doença metastática.

O nível do infiltrado de melanófagos é comumente correlacionado com a invasividade da lesão anterior, além de outros sinais histopatológicos, como elastose solar, na melanose tumoral.5 No caso apresentado, embora os melanófagos estejam situados na derme – sem contato com a epiderme, o que dificulta a alegação de que é o caso de uma lesão primária –, acreditamos que o paciente apresentava um melanoma fino que evoluiu para regressão completa, o que explica o acompanhamento sem recidiva ou metástase durante o período de três anos.

Este caso relata a importância do conhecimento desse aspecto histopatológico incomum da lesão e de se considerar a necessidade de acompanhamento próximo, mesmo em casos com aparente boa evolução.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Anna Carolina Miola: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.

Ana Claudia Cavalcante Esposito: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.

Hamilton Ometto Stolf: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Helio Amante Miot: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
R.J. Barr.
The many faces of completely regressed malignant melanoma.
Pathology., 2 (1994), pp. 359-370
[2]
I. Satzger, B. Völker, A. Kapp, R. Gutzmer.
Tumoral melanosis involving the sentinel lymph nodes: a case report.
J Cutan Pathol., 34 (2007), pp. 284-286
[3]
J. Guitart, L. Lowe, M. Piepkorn, V.G. Prieto, M.S. Rabkin, S.G. Ronan, et al.
Histological characteristics of metastasizing thin melanomas: a case‐control study of 43 cases.
Arch Dermatol., 138 (2002), pp. 603-608
[4]
A. Laino, B. Shepherd, V. Atkinson, H. Fu, H.P. Soyer, H. Schaider, et al.
Tumoral melanosis associated with combined BRAF/MEK inhibition (dabrafenib/trametinib) in metastatic melanoma.
JAAD Case Rep., 4 (2018), pp. 921-923
[5]
C. Kaur, R.J. Thomas, N. Desai, M.A. Green, D. Lovell, B.W.E.M. Powell, et al.
The correlation of regression in primary melanoma with sentinel lymph node status.
J Clin Pathol., 61 (2008), pp. 297-300

Como citar este artigo: Miola AC, Esposito AC, Stolf HO, Miot AA. Tumoral melanosis without metastasis: a report after three years of follow‐up. An Bras Dermatol. 2021;96:797–8.

Trabalho realizado no Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil.

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