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Vol. 99. Issue 6.
Pages 981-983 (1 November 2024)
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Cartas ‐ Tropical/Infectoparasitária
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Lobomicose: lesão única no lábio
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Kananda Kesye Sousa Nunes
Corresponding author
kananda_kesye@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Antonio Pedro Mendes Schettini, Carlos Alberto Chirano Rodrigues, Sinésio Talhari
Departamento de Dermatologia, Fundação Hospitalar Alfredo da Matta, Manaus, AM, Brasil
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Prezado Editor,

Paciente do sexo masculino, 66 anos, agricultor, procedente de Coari, estado do Amazonas. Evolução de 10 anos com lesão no lábio superior. Ao exame, observou‐se lesão tumoral eritematosa, infiltrada, de consistência firme, no lábio superior à direita (fig. 1). O exame clínico geral e exames laboratoriais não apresentaram alterações.

Figura 1.

Lesão tumoral com evolução de 10 anos.

(0.16MB).

Foi realizada biopsia da lesão, e no exame histopatológico observou‐se infiltrado inflamatório nodular, granulomatoso, em toda a espessura da derme e hipoderme, constituído de histiócitos epitelioides e numerosas células gigantes contendo estruturas fúngicas arredondadas em disposição catenular compatíveis com Lacazia loboi (figs. 2 e 3).

Figura 2.

Exame histopatológico da peça cirúrgica. Reação inflamatória granulomatosa com grande número de células gigantes contendo elementos fúngicos arredondados (Hematoxilina & eosina, 200×).

(0.25MB).
Figura 3.

Exame histopatológico da peça cirúrgica. Presença de elementos fúngicos, todos do mesmo tamanho, com paredes espessas e birrefringentes no interior das células gigantes (Hematoxilina & eosina, 400×). Microfotografia: Verificam‐se estruturas fúngicas arredondadas, birrefringentes, com disposição catenular (Grocott, 600×).

(0.16MB).

Como exérese cirúrgica da lesão (fig. 4) e iniciou‐se tratamento com itraconazol na dose de 100mg, de 12/12 horas, por via oral, durante seis meses, em tentativa de prevenir recidiva. O paciente está no oitavo mês de acompanhamento, evoluindo satisfatoriamente, sem recidiva da lesão.

Figura 4.

(A) Marcação cirúrgica antes da ressecção. (B) Cinco meses após o procedimento.

(0.22MB).

A lobomicose (doença de Jorge Lobo) foi descrita pela primeira vez em 1931 pelo dermatologista Jorge Oliveira Lobo. É micose subcutânea caracterizada habitualmente por lesões nodulares de aspecto queloideano; entretanto, pode haver polimorfismo lesional com lesões em placas, pápulas, máculas, verrucosidades, ulcerações e lesões cicatriciais, de evolução lenta, por vezes dificultando o diagnóstico clínico.1,2 As lesões são geralmente assintomáticas, embora possa ocorrer prurido e disestesia.2 A doença é ocasionada por fungo leveduriforme, denominado Lacazia loboi, que recentemente foi renomeado para Paracoccidioides lobogeorgii, seguindo regras taxonômicas atuais, após ampla revisão nomenclatural.3

Ainda que a doença ocorra em toda a América Central e do Sul, ela é observada principalmente na região amazônica, em pacientes procedentes de áreas rurais.2 O mecanismo de transmissão não é exatamente conhecido, embora seja plausível a implantação traumática do fungo na pele. O agente etiológico, até o momento, não foi cultivado.

Na maioria dos casos, a lobomicose localiza‐se principalmente nas extremidades distais e orelhas. A localização labial é rara com apenas dois casos registrados na literatura consultada.4

O diagnóstico é estabelecido com base nos aspectos clínicos, exame micológico direto por escarificação, raspagem ou curetagem da lesão e exame anatomopatológico.1

Atualmente, não há terapia totalmente satisfatória. A abordagem de escolha para formas unifocais e localizadas é a excisão cirúrgica, com margens de segurança, associada ou não a tratamento clínico com a finalidade de evitar recidiva. Já as formas multifocais devem ser tratadas, sempre que possível, com combinação de cirurgia excisional e tratamento sistêmico adjuvante. As medicações com eficácia já relatadas na literatura incluem posaconazol, itraconazol e clofazimina. Vale ressaltar a necessidade de acompanhamento a longo prazo, uma vez que a recorrência é possível.2,5

Novos estudos de investigação da etiopatogenia, transmissão e tratamento da lobomicose são necessários para melhor elucidação dessa doença tropical negligenciada e ainda obscura, que permanece um desafio na prática dermatológica.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Kananda Kesye Sousa Nunes: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Antonio Pedro Mendes Schettini: Elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Carlos Alberto Chirano Rodrigues: Participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e terapêutica do caso estudado; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Sinésio Talhari: Elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
A.C. Brito, J.A.S. Quaresma.
Lacaziosis (Jorge Lobo's disease): review and update.
An Bras Dermatol., 82 (2007), pp. 461-474
[2]
S. Talhari, C. Talhari.
Lobomycosis. Clin Dermatol, 30 (2012), pp. 420-424
[3]
R. Vilela, S. De Hoog, K. Bensch, E. Bagagli, L. Mendoza.
A taxonomic review of the genus Paracoccidioides, with focus on the uncultivable species.
PLoS Negl Trop Dis., 17 (2023), pp. e0011220
[4]
M.F.R. Miranda, D.A.A. Unger, A.C. de Brito, F.A.R. Carneiro.
Jorge Lobo's disease with restricted labial presentation.
An Bras Dermatol., 86 (2011), pp. 373-374
[5]
G. Grotta, P. Couppie, M. Demar, K. Drak Alsibai, R. Blaizot.
Fungal density in lobomycosis in French Guiana: a proposal for a new clinico‐histological and therapeutic classification.
J Fungi (Basel)., 9 (2023), pp. 1005

Como citar este artigo: Nunes KKS, Schettini APM, Rodrigues CAC, Talhari S. Lobomycosis: single lesion on the lip. An Bras Dermatol. 2024;99:981–3.

Trabalho realizado no Fundação Hospitalar Alfredo da Matta, Manaus, AM, Brasil.

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