A lentiginose eruptiva confinada a áreas de placas psoriásicas em regressão é um fenômeno raro. Foi descrita inicialmente após fototerapia porém vários outros esquemas de tratamento utilizados na psoríase, incluindo agentes biológicos tópicos e sistêmicos, têm sido relatados como indutores de lentigos.1 Relatamos um novo caso de lentiginose eruptiva após o tratamento com adalimumabe.
Uma mulher de 45 anos de idade, sem história médica relevante, apresentou‐se em nosso Departamento com múltiplas lesões acastanhadas em áreas previamente ocupadas por placas psoriásicas, sete meses após o início do tratamento com adalimumabe. Negava aplicação de qualquer tratamento tópico ou exposição ao sol. O exame físico revelou máculas marrons agrupadas sobre áreas previamente afetadas (fig. 1). A paciente sofria de psoríase crônica em placas desde a adolescência, que havia se mostrado refratária às terapias tópicas, metotrexato e ciclosporina. Fototerapia não foi realizada na paciente. Ela não estava fazendo uso de nenhum outro medicamento. Uma biópsia de pele por punch mostrou hiperpigmentação da camada basal da epiderme consistente com lentigo. Nenhum tratamento foi iniciado devido à recusa da paciente. As lesões permaneceram estáveis ao longo de um ano de seguimento.
Lentigos confinados a placas psoriásicas resolvidas raramente têm sido mencionados na literatura. Associação com tratamentos tópicos e terapias biológicas usadas na psoríase foram publicados. Dentre as terapias biológicas, a lentiginose eruptiva foi relatada em relação ao infliximabe, adalimumabe, etanercepte, ustekinumabe e secuquinumabe. Que seja de nosso conhecimento, até o momento, há apenas um caso relatado associado a terapias sistêmicas clássicas.2
A fisiopatologia da lentiginose eruptiva não está bem documentada. Sabe‐se que algumas citocinas produzidas na pele psoriásica estimulam a melanogênese e podem ser responsáveis pelos lentigos.3 Além disso, Wang et al. relataram que a IL‐17 e o TNF podem afetar tanto o crescimento como a produção de pigmento pelos melanócitos, o que pode contribuir para as alterações de pigmentação associadas à psoríase.4 Por outro lado, foi sugerido que a lentiginose eruptiva representa uma recuperação exagerada da produção de pigmento, associada a maior gravidade da doença ou maior inibição de citocinas com o tratamento.1
Até o momento, nenhuma terapia eficaz foi relatada. Lentigos aparecem nos primeiros meses de tratamento e podem persistir com nenhuma ou pouca melhora.1 Embora isso não exija a interrupção do tratamento, recomenda‐se acompanhamento.
Apresentamos um novo caso de lentiginose eruptiva confinada a áreas de placas psoriásicas em regressão após tratamento com adalimumabe. Considerando o aparecimento de novos tratamentos biológicos e novos alvos terapêuticos, é provável que surjam novos casos de lentiginose eruptiva. Os médicos precisam estar cientes dos potenciais efeitos colaterais das terapias biológicas devido ao seu uso crescente.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição do autorFernando Garcia‐Souto: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.