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Vol. 95. Issue 3.
Pages 376-378 (1 May 2020)
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Pages 376-378 (1 May 2020)
Dermatologia Tropical/Infectoparasitária
Open Access
Esporotricose sistêmica em paciente etilista
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Norami de Moura Barros
Corresponding author
norami.barros@gmail.com

Autor para correspondência.
, Allen de Souza Pessoa, Arles Martins Brotas
Departamento de Dermatologia, Hospital Universitário Pedro Ernesto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
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Resumo

Paciente masculino, 44 anos, com nódulos que evoluíam com flogose, drenagem de exsudato seropurulento e ulceração. História de alcoolismo nos últimos 6 anos. Ao exame físico, apresentava nódulos normocrômicos, outros eritematosos, e úlceras recobertas por crostas espessas e enegrecidas na face, tronco e membros. Na cultura do fluido, houve crescimento de Sporothrix sp. Apresentava ainda acometimento pulmonar. A doença foi classificada como esporotricose sistêmica, forma rara e que geralmente acomete portadores de HIV. O abuso crônico de álcool foi considerado o fator de imunossupressão neste caso.

Palavras‐chave:
Alcoolismo
Esporotricose
Imunossupressão
Full Text

A esporotricose é uma infecção fúngica subaguda ou crônica causada por fungos dimórficos do gênero Sporothrix. Aproximadamente 80% dos pacientes afetados apresentam a forma linfocutânea. Entretanto, em pacientes com imunossupressão, formas disseminadas podem ocorrer.1,2

Paciente do sexo masculino, 44 anos, com quadro de nódulos subcutâneos normocrômicos que evoluíam com flogose, seguindo‐se drenagem de exsudato seropurulento e ulceração. História de alcoolismo nos últimos 6 anos. Negava comorbidades, embora relatasse contato prolongado com gatos de procedência desconhecida.

Ao exame físico, apresentava nódulos subcutâneos normocrômicos, outros eritematosos, e úlceras recobertas por crostas espessas e enegrecidas na face, tronco e membros (figs. 1 e 2).

Figura 1.

Nódulos normocrômicos e eritematosos, além de úlceras recobertas por crostas espessas e enegrecidas.

(0.11MB).
Figura 2.

Nódulos normocrômicos e eritematosos, além de úlceras recobertas por crostas espessas e enegrecidas.

(0.07MB).

A partir da história epidemiológica compatível e do padrão de evolução das lesões, a principal hipótese diagnóstica foi esporotricose.

Foi feita cultura do fluido aspirado de um dos nódulos, com crescimento, após cinco dias, de Sporothrix sp. (figs. 3 e 4).

Figura 3.

Hifas hialinas, septadas, ramificadas e regulares. Conídios piriformes dispostos em forma de margarida na extremidade do conidióforo.

(0.11MB).
Figura 4.

Colônia membranosa com áreas brancas e enegrecidas, com verso incolor.

(0.08MB).

Exames laboratoriais (hemograma, testes de função hepática, renal e tireoideana) não mostraram alterações e as sorologias (hepatite B, hepatite C, VDRL, HTLV e HIV) foram negativas.

Tomografia de tórax de alta resolução revelou atelectasia, infiltrado em vidro fosco, linfadenopatia hilar e derrame pleural em ambos os pulmões.

A doença foi classificada como esporotricose sistêmica, segundo a classificação recomendada por Orofino‐Costa et al., ilustrando uma apresentação exuberante em paciente imunossuprimido por alcoolismo.3

O paciente foi tratado com anfotericina B (complexo lipídico) por 28 dias, seguida por itraconazol, prescrito por 11 meses. O paciente apresentou boa resposta, com cicatrização das úlceras, sem recidivas em seis meses de seguimento.

A transmissão zoonótica felina da esporotricose foi observada na década de 1990 no Estado do Rio de Janeiro, atualmente sendo considerada hiperendêmica. Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, S. brasiliensis é o principal agente etiológico da esporotricose humana e animal (88%).3

As formas sistêmicas são raras e geralmente afetam indivíduos imunossuprimidos, principalmente os portadores de HIV.3

O abuso crônico de álcool resulta em linfopenia e ativação crônica do pool de células T, o que pode alterar a capacidade dessas células de se expandir e responder a desafios patogênicos, induzindo um estado de anergia e alterando a resposta Th1 e Th2.4

A resposta Th1 é considerada como o principal fator de controle da infecção fúngica. Além da imunossupressão do paciente, deve‐se frisar que S. brasiliensis é a espécie mais virulenta do gênero, devido à sua capacidade de invadir tecidos e levar à morte.3,5

A alta prevalência de abuso de álcool na população brasileira, estimada em 13,7%, e a crescente transmissão zoonótica da esporotricose podem levar a um aumento da prevalência de formas disseminadas da doença. 6

O presente caso corrobora a associação previamente relatada entre alcoolismo e disseminação da esporotricose.7–10

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Norami de Moura Barros: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Allen de Souza Pessoa: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Arles Martins Brotas: Concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.

Conflitos de interesse

Nenhum.

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Como citar este artigo: Barros NM, Pessoa AS, Brotas AM. Systemic sporotrichosis in an alcoholic patient. An Bras Dermatol. 2020;95:376–8.

Trabalho realizado no Hospital Universitário Pedro Ernesto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

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