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Vol. 98. Issue 2.
Pages 270-272 (1 March 2023)
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Vol. 98. Issue 2.
Pages 270-272 (1 March 2023)
Cartas ‐ Tropical/Infectoparasitária
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Esporotricose cervical simulando carcinoma espinocelular em paciente com fotodano
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Emilly Neves Souzaa,b,
Corresponding author
neves.emilly@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Lucia Martins Dinizb, Luana Amaral de Mouraa,b, Valentina Lourenço Lacerda de Oliveiraa,b, Henrique Vivacqua Leal Teixeira de Siqueirac
a Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, Vitória, ES, Brasil
b Departamento de Clínica Médica/Dermatologia, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil
c Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, SP, Brasil
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Prezado Editor,

Mulher, 61 anos, agricultora, residente com animais domésticos – cães e gatos sem doenças. Previamente hipertensa, em uso de losartana 50 mg/dia. Relata surgimento de lesão eritematosa no pescoço cerca de quatro meses após trauma com galho de árvore. Em três meses, evoluiu com crescimento da lesão, prurido e dor local, quando compareceu à consulta. Ao exame, foi identificada placa de borda eritemato‐infiltrada, centro vegetante e hiperceratótico, encimado por pústulas, crostas melicéricas e pontos pretos, na região cervical anterior (fig. 1). Ao redor dessa lesão, foi observado fotodano cutâneo com melanoses, leucodermias e elastose solar. Após hipótese diagnóstica de carcinoma espinocelular (CEC), realizou‐se biópsia incisional da lesão. Estudo anatomopatológico evidenciou hiperplasia pseudocarcinomatosa com abscessos no epitélio, reação granulomatosa epitelioide e infiltrado inflamatório misto, rico em plasmócitos. Pesquisas diretas negativas para fungos e bacilo álcool‐ácido resistente. Cultura em ágar Sabouraud modificado apresentou colônia filamentosa enegrecida com halo branco (fig. 2) e microcultivo característico de Sporothrix spp.

Figura 1.

(A), Placa eritemato‐infiltrada de superfície hiperceratótica na região cervical anterior. (B), Detalhes da placa eritemato‐infiltrada, evidenciando pústulas, crostas melicéricas e pontos pretos.

(0.55MB).
Figura 2.

Cultura em meio de ágar Sabouraud modificado evidenciando macromorfologia de colônia filamentosa enegrecida com halo branco.

(0.78MB).

Iniciado itraconazol oral 200mg/dia por dois meses, sem melhora clínica, substituído por solução de iodeto de potássio 5g/dia por seis meses, totalizando oito meses de tratamento. Em virtude da permanência de cicatriz inestética (fig. 3A), foram realizadas quatro sessões de criocirurgia, com resultado satisfatório (fig. 3B).

Figura 3.

(A) Placa cicatricial inestética com bordas hiperceratóticas após tratamento para esporotricose. (B) Lesão residual após quatro sessões de crioterapia.

(0.61MB).

A esporotricose representa a micose subcutânea mais comum na América Latina,1,2 causada pelo Sporothrix spp., principalmente por S. schenckii. No entanto, nos últimos 20 anos, cada vez mais infecções por S.brasiliensis têm sido relatadas.3 Tradicionalmente, a infecção era adquirida por inoculação cutânea do patógeno nas extremidades corporais após trauma, manipulação de solo, plantas ou material orgânico contaminado. Assim, agricultura, mineração e floricultura eram associadas ao maior risco de infecção, com predomínio em homens, na forma clínica linfocutânea (80%–95%).2,3 Entretanto, ao final da década de 1990, houve mudança no perfil de transmissão, assumindo caráter urbano pelo contato com felinos infectados, ocasionando aumento de casos em mulheres e crianças, com localizações cutâneas atípicas.4,5 No Brasil, essa se tornou a forma de contaminação mais descrita nos últimos anos.3,5 Neste relato, há fatores de risco para as duas formas de contaminação.

A variante cutânea localizada, como neste caso, é menos frequente, manifestada por lesão papulonodular única, que pode evoluir com aspecto infiltrado ou vegetante.6 Os principais diagnósticos diferenciais incluem paracoccidiodomicose, leishmaniose, cromomicose, tuberculose cutânea, CEC e úlceras não infecciosas.2 Na literatura, foram encontrados relatos de esporotricose simulando ceratoacatoma e carcinoma de células de Merkel,7,8 porém nenhum caso mimetizando CEC.

O diagnóstico pode ser confirmado por cultura para fungos e microcultivo,2 conforme neste relato. Não foi realizada identificação molecular do patógeno, em virtude da indisponibilidade do exame. O tratamento padrão é itraconazol oral (primeira escolha), solução de iodeto de potássio ou terbinafina.5 O tempo de tratamento varia com a forma clínica, a virulência do fungo e/ou o estado imune do hospedeiro. Criocirurgia e eletrocirurgia podem ser associadas à medicação para reduzir o tempo de tratamento, também sendo opções para lesões hiperceratóticas.5,9 Neste relato, optamos inicialmente pelo tratamento padrão com medicação sistêmica, complementado por criocirurgia, em razão do tamanho e da localização da lesão.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Emilly Neves Souza: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Lucia Martins Diniz: Concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Luana Amaral de Moura: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Valentina Lourenço Lacerda de Oliveira: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Henrique Vivacqua Leal Teixeira de Siqueira: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Conflito de interesses

Nenhum.

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Como citar este artigo: Souza EN, Diniz LM, Moura LA, Oliveira VLL, Siqueira HVLT. Cervical sporotrichosis simulating squamous cell carcinoma in a patient with photodamage. An Bras Dermatol. 2023;98:280–2.

Trabalho realizado no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, Vitória, ES, Brasil.

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