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Vol. 96. Issue 1.
Pages 88-90 (1 January 2021)
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Vol. 96. Issue 1.
Pages 88-90 (1 January 2021)
Dermatologia Tropical/Infectoparasitária
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Dengue exantemática mimetizando rubéola
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Dario Palharesa,
Corresponding author
dariompm@unb.br

Autor para correspondência.
Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil
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Resumo

É apresentado um caso de dengue imitando rubéola. Paciente do sexo masculino, no segundo episódio de dengue, apresentou‐se afebril, com exantema morbiliforme difuso, de progressão craniocaudal, tendo acometido posteriormente palmas e plantas. Ao terceiro dia de evolução clínica, as sorologias não apontaram IgM, IgG nem NS1, mas ao sexto dia de evolução apresentou IgM e IgG reativos para dengue. Episódios prévios de dengue são fator de risco para o desenvolvimento de quadros mais graves, mas este foi atípico por ter sido afebril e com exantema rubeoliforme. Também, ilustra uma resposta anamnéstica precoce de IgG, por ter sido reinfecção.

Palavras‐chave:
Dengue
Imunoglobulina E
Imunoglobulina G
Sorologia
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Introdução

A dengue é doença infecciosa sistêmica transmitida por mosquitos do gênero Aedes. O vírus da dengue se apresenta com cinco sorotipos – os sorotipos 1 a 4 são de ocorrência mundial, e o sorotipo 5 foi identificado na Índia.1 A infecção por um dos sorotipos não confere imunidade contra os demais.1 Fatores de risco para o desenvolvimento de quadros graves de dengue incluem: episódio prévio de dengue, idade avançada, comorbidades.2–4

Caso

Paciente do sexo masculino, 42 anos de idade, previamente vacinado para hepatites A e B. Referia primoinfecção de dengue 15 anos antes, com apresentação febril e sorologia IgM positiva. Relatou surgimento de pequenas pápulas no tronco havia dois dias, mas que tinha amanhecido tomado por exantema rubeoliforme (figs. 1‐3), acometendo do pescoço até os joelhos e cotovelos, poupando a face. Queixava‐se de astenia, mas negava febre. O exame físico geral não mostrou outras anormalidades além do exantema, nem mesmo gânglios palpáveis. Os exames complementares à chegada mostraram: hemograma com hemoglobina 15,4g/dL, plaquetas 170 mil/mL, leucócitos 4020mL (segmentados 39%, eosinófilos 3%, basófilos 1%, linfócitos 35%, monócitos 22%); dengue: IgM, IgG e NS1 negativos, transaminases, bilirrubinas e enzimas musculares normais. O exantema progrediu por mais dois dias, acometendo palmas e plantas. O paciente referiu alguns episódios diarreicos, e negou febre. Ao sexto dia de evolução, o exantema começou a desaparecer, e os exames mostraram: hemograma com hemoglobina 15,8g/dL, plaquetas 148 mil/mL, leucócitos 4910mL (segmentados 20%, eosinófilos 5%, linfócitos 59%, linfócitos atípicos 6%, monócitos 10%). Sorologias: padrão imune para toxoplasmose, citomegalovirose, sarampo, herpes simples e vírus de Epstein‐Barr. Não reagente para HIV, sífilis, zika virus, chikungunya, borreliose e rubéola. Reagente IgG e IgM positivo para dengue; IgE total de 713,8 UI/mL. O paciente recuperou‐se totalmente e foi revacinado para rubéola.

Figura 1.

Detalhe do exantema. Visão geral do exantema.

(0.04MB).
Figura 2.

Visão geral do exantema. Exantema rubeoliforme, ao terceiro dia de evolução do quadro clínico. A região axilar direita foi poupada.

(0.15MB).
Figura 3.

Terceiro dia de evolução do quadro clínico, lado esquerdo do corpo: a região axilar estava acometida.

(0.1MB).

Este caso é incomum por ter sido um segundo episódio de dengue, com apresentação afebril e imitando rubéola, com progressão craniocaudal de exantema rubeoliforme. Com o passar dos anos, os títulos de IgG contra dengue tendem a cair e eventualmente se tornam negativos, e justamente títulos mais baixos de IgG são fator de proteção contra formas graves de dengue.5 Porém, em caso de uma segunda infecção, há uma resposta anamnéstica, com aparecimento precoce de IgG; é possível que um eventual futuro terceiro episódio de dengue neste paciente venha a ser mais grave. O antígeno NS1 apresenta sensibilidade ao redor de 85% e tende a ser menor em segundos episódios de dengue; ou seja, na prática clínica uma proporção relativamente considerável de pacientes não será diagnosticada na fase inicial da doença.6 É possível que a natureza alérgica do paciente tenha influenciado na apresentação clínica, com exantema que não é o classicamente descrito para dengue.7

Uma vez que o exantema foi de rápida resolução espontânea, biópsias não foram feitas, como seria preconizado caso o exantema se tornasse crônico. Contudo, neste caso, o hemograma foi útil para a conduta clínica, por ter mostrado um padrão tipicamente viral, inclusive no que tange aos linfócitos atípicos, relacionados a várias doenças, entre as quais dengue e rubéola.8–10 As relações entre parasitas e hospedeiros são complexas; assim, a dengue deve fazer parte do diagnóstico diferencial de exantemas, ainda que o paciente não apresente sintomas clássicos como febre ou dor orbitária. No ambiente de pronto‐atendimento, o hemograma, exame usualmente pronto em poucas horas, pode auxiliar na decisão clínica.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Dario Palhares: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

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Como citar este artigo: Palhares D. Exanthematic dengue fever mimicking rubella. An Bras Dermatol. 2021;96:88–90.

Trabalho realizado na Clínica Privada, Brasília, DF, Brasil.

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