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Vol. 98. Issue 1.
Pages 84-86 (1 January 2023)
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Vol. 98. Issue 1.
Pages 84-86 (1 January 2023)
Carta ‐ Investigação
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Características demográficas e clínicas dos pacientes com eczema de pálpebras atendidos em serviço de referência no período de 2004 a 2018
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Mariana de Figueiredo Silva Hafnera,
Corresponding author
mariana@hafner.med.br

Autor para correspondência.
, Victoria Cerqueira Eliab, Rosana Lazzarinia, Ida Duartea
a Clínica de Dermatologia, Hospital da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
b Faculdade de Ciências Médicas, Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
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Prezado Editor,

Dentre as etiologias dos eczemas das pálpebras, a dermatite alérgica de contato (DAC) é a mais frequente. Os alérgenos, nesses casos, podem estar em produtos aplicados diretamente nas pálpebras (p. ex., colírios), em outras áreas, como couro cabeludo (p. ex., shampoos) e unhas (p. ex., esmaltes), ou até dispersos no ambiente (p. ex., perfumes atuando como aeroalérgenos).1–5

Há poucos estudos brasileiros sobre o tema, e por isso a importância deste trabalho, que objetivou determinar características demográficas e clínicas dos pacientes com eczema palpebral submetidos a testes de contato em serviço de referência entre 2004 e 2018, etiologias e alérgenos responsáveis.

Foram avaliados retrospectivamente dados de prontuários dos pacientes com eczema palpebral submetidos a testes de contato no período. Tais testes seguiram a metodologia de aplicação e leitura preconizada pelo International Contact Dermatitis Research Group. De acordo com a anamnese, as séries de alérgenos utilizadas nos testes foram: bateria padrão brasileira (30 substâncias/FDA‐Allergenic, RJ, Brasil), de cosméticos (10 substâncias/FDA‐Allergenic, RJ, Brasil), latino‐americana (24 substâncias/Chemotechnique Diagnostics, Malmo, Suécia), também chamada regional ou padrão estendida, capilar (15 substâncias/IPI ASAC, SP, Brasil) e, quando possível, alérgenos avulsos e produtos do próprio paciente. Os contensores utilizados nos testes foram do tipo Finn Chamber (Smart Practice, EUA) ou Allergo Chamber (Neoflex, São Paulo, Brasil).

O estudo incluiu 228 pacientes, dos quais 204 (89,5%) eram do sexo feminino e 24 (10,5%) do masculino. A maior proporção de mulheres é compatível com a literatura, e justificada pelo maior uso de produtos cosméticos causadores de DAC palpebral pelo público feminino.6,7

A média de idade dos pacientes foi de 45 anos. Com relação à etnia, 114 (50%) eram brancos, 42 negros (18%), 68 pardos (30%) e 4 amarelos (1,75%). Em relação a histórico de atopia, 91 (39,9%) apresentavam antecedente pessoal e 66 (28,9%), familiar. O tempo de evolução da dermatose teve como valor de mediana de 12 meses.

O diagnóstico final dos pacientes analisados foi DAC em 139 casos (61%), dermatite atópica (DA) em 29 (12,7%), não esclarecido em 28 (12,3%), dermatite de contato irritativa em 18 (7,9%), sobreposição de DAC e DA em 7 (3,1%) e outros diagnósticos em 7 (3,1%).

Em relação ao quadro clínico, 148 (64,5%) apresentavam lesões de eczema em mais regiões do corpo além das pálpebras, como outras áreas da face em 118 (51,8%), braços em 82 (36%), mãos em 52 (22,8%), pernas em 47 (20,6%), tronco em 43 (18,9%) e couro cabeludo em 24 (10,5%). A maior proporção de acometimento em outras áreas da face e membros superiores pode ser justificada pelo maior uso de produtos cosméticos nessas regiões (figs. 1 e 2).

Figura 1.

Dermatite alérgica de contato pelo Kathon CG presente em cosméticos.

(0.14MB).
Figura 2.

Dermatite alérgica de contato pela resina tolueno sulfonamida presente em esmaltes.

(0.17MB).

Dos 228 casos, 183 (80,3%) tiveram pelo menos um teste de contato positivo. No entanto, após estabelecimento da relevância, esse número caiu para 147 pacientes (64,4%), dos quais 94 (41,2%) com um resultado positivo relevante, 31 (13,6%) com dois resultados relevantes, e 22 (9,6%) com três ou mais. Em estudo francês semelhante, 56,4% tiveram pelo menos um resultado positivo relevante nos testes.7

O uso das baterias padrão brasileira e de cosméticos nos testes de contato possibilitaram o diagnóstico da grande maioria dos casos de DAC (84,3%). No entato, é importante ressaltar que o uso das demais baterias foi adotado no serviço apenas a partir do ano de 2014.

Dentre os pacientes com diagnóstico final de DAC, as principais etiologias foram esmaltes de unhas em 53 (36%), medicamentos tópicos em 40 (27,2%), cosméticos não especificados em 36 (24,5%), tinturas de cabelos em 20 (13,6%), metais em 23 (15,6%), borracha em 10 (6,8%) e shampoos em 6 (4%). Os alérgenos relevantes estão na tabela 1.

Tabela 1.

Alérgenos relevantes encontrados nos testes de contato realizados nos pacientes com eczema das pálpebras

Alérgeno  Quantidade  Frequência de positividade 
Resina‐tolueno‐sulfonamida‐formaldeído  52  33,76% 
Parafenilenodiamina  21  9,21% 
Sulfato de níquel  19  8,33% 
Perfume‐mix 1  16  7,00% 
Neomicina  15  6,57% 
Kathon/mMetilisotiazolinona  15  6,57% 
Formaldeído  12  5,26% 
Prometazina  3,94% 
Tiuram‐mix  3,50% 
Etilenodiamina  2,63% 
Carba‐mix  2,63% 
Lanolina  2,19% 
Bicromato de potássio  2,10% 
Cetoconazol  NA 
Bálsamo do Peru  1,70% 
Resina‐epóxi  1,31% 
Quinolina‐mix  1,31% 
Propilenoglicol  1,31% 
Colofônia  1,31% 
Cocoamidopropilbetaína  11,11% 
P‐aminofenol  NA 
Laurilglucosídeo  NA 
Esmalte da paciente  NA 
Budesonida  7,40% 
Benzocaína  0,87% 
Trietanolamina  0,64% 
Pivalato de tixocortol  3,70% 
Perfume‐mix 2  3,70% 
Paládio  3,70% 
M‐aminofenol  NA 
Itiomorfoline  NA 
Irgasan  0,43% 
Decilglucosídeo  NA 
Colírio do paciente  NA 

NA, não se aplica (testes em que foram usados alérgenos/substâncias avulsas não testados de rotina nos demais pacientes, de maneira pontual, não sendo possível determinar a frequência de positividade dos mesmos).

Os estudos da literatura mostram os cosméticos como a principal causa de DAC palpebral, mais frequentemente por fragrâncias e conservantes. Os principais alérgenos são: sódio tiossulfato de ouro, perfume mix, bálsamo do Peru, sulfato de níquel.6,8 Assim, a presente casuística é compatível com a literatura, tendo também os cosméticos sido a principal etiologia.

A resina tolueno‐sulfonamida‐formadeído presente nos esmaltes de unhas foi o alérgeno relevante mais comum entre os analisados. Trata‐se de substância responsável por dar resistência e brilho ao produto. Como o costume de esmaltar unhas é comum em nosso meio, esse alérgeno causa sensibilização em parcela significativa da população, com valores superiores aos encontrados em outros países.6,9

Outro alérgeno comum entre os casos de DAC foi a parafenilenodiamina, encontrada na maioria das tinturas de cabelos definitivas. É interessante mencionar que apenas 7 dos 21 pacientes com testes positivos relevantes para esse alérgeno apresentavam lesões concomitantes no couro cabeludo, mostrando que pacientes com DAC a tinturas de cabelos podem se manifestar com eczema apenas nas pálpebras, outras áreas da face e região cervical.10

Ainda sobre sensibilizantes presentes em produtos cosméticos nos casos de DAC palpebral, foram observados os conservantes kathon CG e formaldeído, e as fragrâncias.6,8,9

O alérgeno com maior positividade total nos testes analisados foi o sulfato de níquel, embora sua frequência tenha sido menor entre os testes positivos relevantes (15,6% das DAC palpebrais). Podem ser causa de DAC palpebral pela sua presença em produtos de metal (p. ex., curvador de cílios) e como contaminante de maquiagens. É ainda comum a transferência acidental do níquel em contato das mãos para as pálpebras.8,9

Em relação aos medicamentos tópicos, os principais alérgenos foram neomicina e prometazina. Eles podem causar DAC pelo contato direto (uso de colírios ou contato acidental após aplicação em outra área) ou por sensibilização à distância.6

Sete dos casos foram de origem ocupacional: três manicures (por resina‐tolueno‐sulfonamida‐formadeído dos esmaltes e sulfato de níquel de instrumentos metálicos); uma massagista (pelo kathon da loção de massagem); um pedreiro (por bicromato de potássio do cimento e carba/tiuram‐mix das luvas de borracha); um instalador de esquadrias de alumínio e um aplicador de pisos (ambos pela resina‐epóxi das colas e rejuntes).

As principais limitações do trabalho foram a utilização de diferentes baterias complementares e dois tipos de contensores nos testes, o que configura não homogeneidade de instrumental técnico na avaliação.

Os casos relacionados ao uso de cosméticos prevaleceram no estudo, com destaque para esmaltes de unhas, embora outras causas tenham sido observadas. Assim, frente a pacientes com eczema das pálpebras, a investigação com testes de contato é fundamental.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Mariana de Figueiredo Silva Hafner: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Victoria Cerqueira Elia: Elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; aprovação da versão final do manuscrito.

Rosana Lazzarini: Elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Ida Alzira Gomes Duarte: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Como citar este artigo: Hafner MFS, Elia VC, Lazzarini R, Duarte IAG. Demographic and clinical characteristics of patients with eyelid eczema attended at a referral service from 2004 to 2018. An Bras Dermatol. 2023;98:84–6.

Trabalho realizado na Clínica de Dermatologia, Hospital da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

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