Os Anais Brasileiros de Dermatologia, publicados desde 1925, constituem o periódico dermatológico mais influente da América Latina, indexado nas principais bases bibliográficas internacionais, e ocupando a 50a posição entre as 70 revistas dermatológicas indexadas no Journal of Citations Reports, em 2022. Neste texto, apresentamos análise crítica de sua trajetória na última década e comparamos seus principais índices bibliométricos com revistas médicas brasileiras e revistas dermatológicas internacionais. O periódico apresentou crescimento consistente em diferentes índices bibliométricos, o que indica uma política editorial bem‐sucedida e maior visibilidade na comunidade científica internacional, atraindo autores estrangeiros. O incremento das citações recebidas (4,1×) e do escore de influência dos artigos (2,9×) foram mais proeminentes que das principais revistas médicas brasileiras e dermatológicas internacionais. O sucesso dos Anais Brasileiros de Dermatologia no cenário científico internacional depende de uma política editorial assertiva, da publicação de artigos de qualidade, de maneira ágil, e do estímulo institucional com fomento à pesquisa clínica na área de Dermatologia.
A produção de conhecimento científico na área biomédica deve atingir diretamente a sociedade, os profissionais da saúde e os pesquisadores por meio da publicação da pesquisa científica revisada por pares, a fim de que possa ser consultada, criticada, operacionalizada, aprimorada e submetida à refutação.1,2 Desse modo, os artigos científicos compõem a célula mater da ciência biomédica, e os periódicos científicos constituem os grandes vetores da ciência moderna. A qualidade de um artigo científico é conceito multidimensional, que abrange seu grau de ineditismo, a objetividade e clareza de sua escrita, propriedade metodológica e analítica, o interesse (social ou acadêmico), transparência, potencial replicabilidade, além da contextualização com o conhecimento disponível.3,4 Nesse ínterim, espera‐se que os periódico de maior qualidade sejam os que agregam os melhores artigos científicos.5
Entretanto, os periódicos científicos refletem particularidades referentes à área do conhecimento, às características das pesquisas que publica, ao tipo de artigo científico e até à conjuntura da estrutura de pesquisa do país. Esses pontos são importantes na hierarquização de periódicos, especialmente se comparadas especialidades médicas diferentes, que publicam em língua não inglesa ou que reflitam a realidade da pesquisa em países diferentes, como acontece no Brasil.6,7
A pesquisa científica brasileira ainda é fundamentada pelas pós‐graduações das universidades públicas, depende em muito das agências governamentais de fomento, com pequena participação de instituições privadas de pesquisa.8,9 Esses pontos justificam per se o menor volume e menor impacto internacional da pesquisa científica brasileira como um todo.6,10,11
A avaliação da qualidade dos periódicos científicos depende, ainda, de diferentes elementos de ordem qualitativa e quantitativa, e os diferentes índices bibliométricos auxiliam na percepção de sua influência científica, subsidiando decisões quanto às políticas editoriais.12,13
Neste texto, apresentamos análise crítica da trajetória dos Anais Brasileiros de Dermatologia (ABD) na última década e comparamos seus principais índices bibliométricos com revistas médicas brasileiras e dermatológicas internacionais.
Análise fundamentalistaOs ABD são periódico científico longevo, publicado desde 1925, ininterruptamente, pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), organização representativa dos especialistas brasileiros. Os ABD contam com independência editorial; o editor‐chefe é eleito em votação secreta por colegiado de representantes dos associados da SBD a cada cinco anos. Além disso, dispõem de corpo editorial qualificado composto por 60 membros do conselho editorial em 14 países/regiões, dos quais 32 são do Brasil (https://www.anaisdedermatologia.org.br/pt‐comite‐editorial).
O periódico está indexado nas principais bases bibliográficas: PubMed/PMC/MEDLINE, Scopus, ISI‐Web of Science, SciELO, Lilacs, Embase (Excerpta Médica) e Latindex, constituindo a revista dermatológica latino‐americana mais influente e a única indexada na base MEDLINE.14
Todos os artigos são revisados por pares, de maneira anônima (quanto aos autores e instituições), utilizando sistema eletrônico de submissão gratuita. Os artigos aceitos, corrigidos e formatados, são disponibilizados on‐line até a inclusão em uma edição (ahead of print). As edições são publicadas bimestralmente, em português (impressa e on‐line no site da revista) e em inglês (on‐line), com acesso público aberto de toda a coleção.
Os ABD apresentam‐se como fonte de divulgação em dermatologia e especialidades afins, enfatizando a dermatologia tropical, dermatologia infecciosa e parasitária, infecções sexualmente transmissíveis, AIDS e dermatopatologia. Para isso, publicam artigos no formato de revisão, educação médica continuada, artigos originais (investigativos), cartas de investigação, cartas de casos clínicos, cartas de dermatopatologia, cartas de dermatologia tropical/infecto‐parasitária e artigos especiais. Oferecem, ainda, espaço para cartas ao editor, permitindo a publicação de críticas aos seus próprios artigos.
Nos últimos anos, os ABD apresentaram incremento consistente de diferentes índices bibliométricos nos cenários nacional e internacional,12 levando‐os a serem classificados como QUALIS B2 na classificação vigente (2020) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), órgão normativo dos Programas de Pós‐Graduação no Brasil.
Segundo o Fator de Impacto (FI) de 2022, que pondera dois anos de publicações, os ABD ocupam a 50ª posição entre 70 periódicos dermatológicos indexados pelo Journal of Citations Report – JCR (https://jcr.clarivate.com/jcr-jp/journal-profile?journal=AN%20BRAS%20DERMATOL&year=2022), posicionando‐se no terceiro quartil classificatório da categoria. Entretanto, segundo o cite score da base SCOPUS (https://www.scopus.com/sourceid/24247), que pondera quatro anos de publicações, os ABD situam‐se em 60° lugar entre 133 periódicos dermatológicos indexados, posicionando‐se no segundo quartil. Quando comparado aos 32 periódicos médicos brasileiros indexados no JCR, os ABD ocupam a 18ª posição.
Na década analisada, segundo a hierarquia do FI, os ABD avançaram da porcentagem 20% para 29% no ranking das revistas dermatológicas internacionais, e de 26% para 44% entre as revistas médicas brasileiras (tabela 1). Esse aumento foi mais notável a partir de 2020. Apesar do grande interesse em cosmiatria nas duas últimas décadas, os ABD permaneceram englobando aspectos amplos da especialidade, não declinando de sua vocação de formar e atualizar o dermatologista ou colegas médicos interessados em assuntos diversos de atuação clínica, sanitária, cirúrgica, cosmiátrica, além da ciência básica.
Principais indicadores bibliométricos dos Anais Brasileiros de Dermatologia (2013‐2022)
Ano | Índice de imediatismo | FI (2a) | FI (5a) | Eigenfactor Score | Eigenfactor normalizado | Escore de influência | DERMa | MED‐BRa | P/C – DERMb | Artigos completosc | Citações recebidas | Autocitação (2a) | Meia‐vida das citações | Idade das referências |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
2022 | 0,775 | 1,724 | 1,974 | 0,00286 | 0,61560 | 0,465 | 29%/70 | 44%/32 | 8/374 | 65 | 3.550 | 4% | 6,7 | 7,3 |
2021 | 0,412 | 2,113 | 2,290 | 0,00352 | 0,75772 | 0,465 | 34%/69 | 52%/33 | 9/393 | 86 | 3.855 | 5% | 6,1 | 7,8 |
2020 | 0,372 | 1,896 | 2,057 | 0,00408 | 0,85607 | 0,445 | 27%/69 | 62%/34 | 11/377 | 105 | 3.520 | 6% | 5,7 | 7,5 |
2019 | 0,204 | 1,121 | 1,514 | 0,00395 | 0,48152 | 0,333 | 17%/68 | 29%/24 | 7/283 | 101 | 2.585 | 6% | 5,6 | 8,2 |
2018 | 0,125 | 1,050 | 1,398 | 0,00424 | 0,50537 | 0,320 | 16%/66 | 26%/23 | 7/261 | 140 | 2.333 | 6% | 5,2 | 8,3 |
2017 | 0,064 | 0,884 | 1,242 | 0,00342 | 0,39916 | 0,273 | 7%/64 | 22%/23 | 7/245 | 201 | 1.847 | 7% | 4,8 | 8,5 |
2016 | 0,048 | 0,978 | 1,091 | 0,00353 | 0,40585 | 0,260 | 15%/63 | 33%/24 | 7/228 | 129 | 1.456 | 8% | 4,7 | 7,9 |
2015 | 0,074 | 0,880 | 1,053 | 0,00344 | 0,39195 | 0,261 | 14%/61 | 27%/22 | 7/197 | 190 | 1.282 | 12% | 4,4 | 8,5 |
2014 | 0,130 | 0,723 | 0,918 | 0,00237 | 0,26552 | 0,185 | 15%/63 | 17%/23 | 7/195 | 135 | 1.077 | 24% | 4,1 | 8,2 |
2013 | 0,048 | 0,866 | 0,804 | 0,00175 | 0,19259 | 0,161 | 20%/61 | 26%/23 | 7/189 | 207 | 867 | 28% | 3,8 | 8,1 |
Em 2022, os ABD receberam 641 submissões, das quais 171 (27%) foram aceitas para publicação. O tempo médio entre a submissão do artigo e o aceite foi de 14 semanas, porém o intervalo entre a submissão e a publicação on‐line foi de 64 semanas, o que é longo no parâmetro da divulgação científica.
Do ponto de vista estrutural, em 2022 foram publicados 15 revisões, 65 artigos originais e 86 outros itens (p. ex., cartas e editoriais) que são citáveis, porém não são considerados artigos completos. Dentre os 20 artigos mais citados em 2022, 10 (50%) foram artigos de revisão ou consensos, sem clara distinção entre as temáticas mais citadas (acne, oncologia, dermatite atópica, cirurgia, fototerapia, psoríase, vitiligo, melasma e hanseníase).15–34 As referências dos artigos dos ABD apresentaram mediana de idade de 7,3 anos. Além disso, metade das citações recebidas dos artigos dos ABD, em 2022, eram mais recentes que 6,7 anos.
A figura 1 apresenta o percentual de artigos completos (artigos originais e revisões) entre todos os itens publicados em 2022 – uma vez que apenas os artigos completos compõem o denominador do cálculo do FI –, além da proporção de referências por artigo completo para os ABD e dos relacionados a revistas médicas brasileiras e dermatológicas internacionais nesse mesmo ano. Como referências para comparação internacional, o Journal of the American Academy of Dermatology (JAAD) foi escolhido por ser a publicação dermatológica com maior FI na última década; o International Journal of Dermatology (IJD) e o Indian Journal of Dermatology Venereology and Leprology (IJDV) foram selecionados por agregarem características editoriais semelhantes ao ABD; o Journal of Dermatology (JD) e o Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology (JEADV), por serem periódicos que representarem as sociedades japonesa e uma europeia de dermatologia. As referências para os periódicos nacionais foram publicações clínicas e de medicina tropical que mais se assemelham ao perfil editorial dos ABD: Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (MIOC), Revista da Associação Médica Brasileira (RAMB), JornaldePediatria (JPed), Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (RSBMT) e Brazilian Journal of Infectious Diseases (BJID).
(A) Séries temporais das citações de artigos publicados nos últimos dois anos, artigos de revisão, artigos completos e outros itens de publicação, na década 2013–2022 para os ABD (Anais Brasileiros de Dermatologia). (B) Proporções de artigos de revisão, artigos originais, artigos completos entre todas as publicações, referências em relação aos artigos completos e autocitações em relação a todas as citações de 2022 de revistas dermatológicas internacionais: Journal of the American Academy of Dermatology (JAAD), International Journal of Dermatology (IJD), Journal of Dermatology (JD), Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology (JEADV) e Indian Journal of Dermatology Venereology and Leprology (IJDV). (C) Comparação entre as revistas clínicas nacionais: Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (MIOC), Revista daAssociação Médica Brasileira (RAMB), Jornal de Pediatria (JPed), Revista daSociedade Brasileira de Medicina Tropical (RSBMT), Brazilian Journal of Infectious Diseases (BJID).
Para os ABD, tanto as citações gerais (−8%) quanto os artigos publicados nos últimos dois anos (−22%) apresentaram declínio em 2022. A proporção de revisões (15%), entre os itens publicados, ainda se situa abaixo da que apresentava em 2018. Houve, porém, redução progressiva da proporção de artigos completos em detrimento de outros itens citáveis (editoriais e cartas).35
Quando comparado aos demais periódicos dermatológicos, os ABD apresentaram menores proporções de autocitações (4% das citações), menor número de referências por artigo completo (média de 30 referências/artigo). No entanto, os ABD se destacaram pela alta porcentagem de artigos completos em relação ao total de itens publicados no período (48%), o que vem se reduzindo gradualmente na última década. Diante do panorama nacional, destacam‐se o menor número de referências por artigo completo e a menor proporção de autocitações.
A maior parte dos artigos publicados em 2022 foi de autores brasileiros (61%), especialmente de universidades públicas, seguido por autores da Turquia, Espanha, China e Portugal (17%). Já as citações recebidas pelos ABD, em 2022, foram majoritariamente estrangeiras, principalmente oriundas do JEADV, Dermatology and Therapy, Cureus, IJD, Journal of Fungi, Frontiers in Medicine e Clinical Cosmetic and Investigational Dermatology. As autocitações reduziram‐se 86% na década analisada, o que indica a forte internacionalização do impacto do periódico.
Análise bibliométrica dos Anais Brasileiros de DermatologiaNão há forma absoluta e objetiva que possa mensurar a influência de um periódico em sua área do conhecimento, ou ainda no universo científico como um todo. Ao passo que não existam fontes confiáveis para avaliar os acessos individuais aos textos, sua divulgação, ou repercussão, o core dos indicadores bibliométricos baseia‐se nas citações que o periódico recebe de outras publicações.36,37
Em tempo, as citações podem ser avaliadas ponderando‐se as bases bibliográficas que as registram, a natureza do periódico que a citou, o país de origem da citação, o ano do artigo publicado, o número de artigos publicados pelo periódico em análise, o comportamento das demais citações dos periódicos da base de dados, entre outras covariáveis. Essas diferentes nuances dão origem aos principais índices bibliométricos, que revelam diferentes interpretações e exigem cautela em sua análise.36
O FI é a métrica mais utilizada para avaliar a relevância de uma revista acadêmica, calculado a cada ano a partir da soma das citações recebidas no ano em questão (p. ex., 2022) de artigos publicados nos dois anos anteriores (p. ex., 2020 e 2021), dividido pelo número de artigos publicados nos dois anos anteriores (p. ex., 2020 e 2021).36,38 No entanto, também há críticas ao uso exclusivo do FI para avaliar a qualidade da pesquisa, pois pode favorecer revistas que publicam certos tipos de artigos mais frequentemente citados, como revisões e consensos, em detrimento de outros tipos de pesquisa igualmente valiosos, mas que podem receber menos citações, como relatos de casos.39,40 Alternativamente, o FI pode ser calculado para citações de cinco anos.
O Índice de Imediatismo mede a rapidez com que os artigos publicados em uma revista científica são citados logo após sua publicação. Ele é calculado dividindo o número total de citações recebidas por artigos publicados em determinado ano pelo número desses artigos publicados nesse mesmo ano, como se fosse um FI instantâneo.36
O Eigenfactor Score é métrica que não leva em conta apenas as citações recebidas no período de cinco anos, mas também a importância das revistas que fazem essas citações.36 O Eigenfactor não considera as autocitações; ele é calculado a partir de um algoritmo que leva em conta a estrutura da rede de citações entre as revistas. Pode ser normalizado (Normalized Eigenfactor) para levar em consideração o tamanho e a natureza da revista, e isso possibilita a comparação de revistas de diferentes tamanhos ou áreas do conhecimento, fornecendo visão mais abrangente da relevância e do alcance de uma revista na comunidade científica.
Como tanto o FI quanto o Eigenfactor são inflacionados pelo número de publicações de um periódico, o escore de influência do artigo utiliza o Eigenfactor normalizado ajustado pelo volume de publicações das revistas.
A base de dados do JCR, ainda que venha se ampliando anualmente, contou em 2022 com 21.522 periódicos científicos. Já a base SCOPUS engloba 44.737 periódicos (revisados por pares), livros on‐line e publicações de congressos, explicando sua maior abrangência. A análise dos dados bibliométricos da tabela 1 apresenta os principais índices dos ABD na última década. O indicador Índice de Imediatismo foi o de crescimento mais proeminente (16×), seguido pelo número total de citações recebidas (4×), Eigenfactor normalizado (3×) e o escore de influência (3×). Enquanto os FI (de dois e cinco anos) e o Eigenfactor Score apresentaram crescimento mais modesto na década e redução no último ano. Destacam‐se o marcante aumento de publicações e de citações desde 2020 em todas as categorias médicas, o que pode ter sido impulsionado pela pandemia de COVID‐19.41
A tabela 1 detalha a evolução de diferentes índices bibliométricos da revista na última década, e a figura 2 apresenta a evolução do FI dos ABD comparado a revistas médicas brasileiras e dermatológicas internacionais indexadas. Quando comparada a progressão do FI dos ABD com a mediana dos periódicos dermatológicos internacionais e das revistas médicas brasileiras indexadas no JCR, evidenciam‐se crescimentos consistentes do FI no panorama global da última década: ABD (99%), revistas dermatológicas internacionais (58%) e revistas médicas brasileiras (91%). O crescimento linear se mantém apesar da redução do FI de 2022: ABD (−18%), revistas dermatológicas internacionais (−12%) e revistas médicas brasileiras (−19,3%).
Séries temporais dos Fatores de Impacto (FI) na década 2013‐2022. (A) Anais Brasileiros de Dermatologia (ABD), revistas dermatológicas internacionais indexadas (DERM), e revistas médicas brasileiras indexadas (MED‐BR). (B) Série com os FI de revistas dermatológicas internacionais: Journal of the American Academy of Dermatology (JAAD), International Journal of Dermatology (IJD), Journal of Dermatology (JD), Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology (JEADV) e Indian Journal of Dermatology Venereology and Leprology (IJDV). (C) Série com os FI de revistas clínicas nacionais: Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (MIOC), Revista da Associação Médica Brasileira (RAMB), Jornal de Pediatria (JPed), Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (RSBMT), Brazilian Journal of Infectious Diseases (BJID).
Na figura 3 estão dispostas as citações recebidas pelos ABD, revistas médicas brasileiras e revistas dermatológicas internacionais em 2022. Além disso, compara os escores de influência dos artigos publicados por algumas revistas médicas brasileiras e dermatológicas internacionais. Os ABD apresentaram, na década estudada, aumento no número de citações (4,1×) que foi superior ao das revistas dermatológicas indexadas (2,0×) e das revistas médicas brasileiras indexadas (2,1×). Da mesma maneira, o crescimento (2,9×) do escore de influência dos ABD foi maior que o das revistas médicas brasileiras e das dermatológicas internacionais selecionadas.
(A) Séries temporais das citações totais recebidas por ano na década 2013‐2022 dos Anais Brasileiros de Dermatologia (ABD), revistas dermatológicas internacionais indexadas (DERM) e revistas médicas brasileiras indexadas (MED‐BR). (B) Série com os escores de influência dos artigos de revistas dermatológicas internacionais: Journal of the American Academy of Dermatology (JAAD), International Journal of Dermatology (IJD), Journal of Dermatology (JD), Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology (JEADV) e Indian Journal of Dermatology Venereology and Leprology (IJDV). (C) Série com os escores de influência dos artigos de revistas clínicas nacionais: Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (MIOC), Revista da Associação Médica Brasileira (RAMB), Jornal de Pediatria (JPed), Revistada Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (RSBMT), Brazilian Journal of Infectious Diseases (BJID).
O volume de periódicos científicos cresce anualmente, o que exige o emprego de indicadores bibliométricos para adequada hierarquização de sua relevância. Na última década, o crescimento vultoso do número de citações dos ABD, do imediatismo em que as publicações foram citadas e a maior influência dos artigos tiveram desempenho superior aos periódicos dermatológicos internacionais e médicos brasileiros. Esses elementos refletem sucesso na política editorial e indicam consistência no crescimento de sua influência.
O FI e o Eigenfactor Score sofrem grande influência do número total de itens publicados em cada ano de avaliação, e apresentaram redução em 2022 para as revistas dermatológicas como um todo. Houve, porém, redução de 22% dos artigos publicados em todos os periódicos dermatológicos após a pandemia de COVID‐19 (10.610/2020, para 8.248/2022), penitenciando‐os quanto a esses itens. Nesses termos, os ABD podem se beneficiar do aumento no número de artigos publicados por edição, uma vez que já acumulam taxa de rejeição notável (73%); entretanto, seu volume de publicações é bastante inferior aos periódicos usados na comparação deste artigo.
Da mesma maneira, o incentivo ao uso de referências mais recentes e em maior número por artigo é um elemento que pode beneficiar sua visibilidade. Foi observado que o número de referências bibliográficas de um artigo, a atualidade das referências (< 5 anos) e a extensão do resumo foram associados a maior chance de citação.42,43 Note‐se, ainda, que o número de autocitações dos ABD encontra‐se muito baixo, o que pode representar a amplitude de temas que aborda e falta de linhas de pesquisa bem definidas dos dermatologistas sul‐americanos.
Os ABD devem se beneficiar da agilidade de disponibilização on‐line (ahead of print) dos principais artigos aceitos. Revistas dermatológicas de prestígio, como JAAD e JEADV, dispõem dos textos aceitos, sem formatação, poucos dias após seu aceite. A demora de quase um ano para a publicação on‐line dos artigos aceitos reduz a visibilidade e o ineditismo das pesquisas, perde a oportunidade de citação, desatualiza a pesquisa bibliográfica, além de não participar da discussão de assuntos emergentes (p. ex., epidemias de COVID‐19 e varíola dos macacos). O aumento do número de artigos em cada edição pode também reduzir a fila de espera para publicação.
A adoção compulsória de recomendações de publicação como CARE (relato de casos), STROBE (estudos observacionais), CONSORT (ensaios clínicos) e PRISMA (revisões sistemáticas) deve aumentar a qualidade das comunicações científicas dos ABD. Além disso, a adoção dos checklists desses guias deve orientar tanto os autores quanto os revisores.44
Os ABD podem se beneficiar da publicação de cartas e editoriais para tratar de comunicações pontuais, em detrimento de artigos completos. Há um movimento recente de uma série de periódicos para a priorização do uso de cartas na divulgação de estudos menos robustos, ou com menor número de variáveis envolvidas, que demandam menor necessidade de discussão.45 Em 2022, o JAAD publicou apenas 9% dos 1.777 itens como artigos completos; o JEADV, 34% de 883 itens; o IJD, 30% de 515 itens; enquanto os ABD foram 48% de 166 itens. Essa estratégia editorial não penitencia o FI do periódico, uma vez que cartas não são considerados artigos que somem no denominador do cálculo – pelo contrário, essas publicações potencialmente amplificam suas citações, podendo inflacionar seu valor.35 Ademais, nem a extensão do artigo, tampouco o número de autores, são associados ao número de citações que o mesmo produz.46
Os ABD podem incentivar o convite a pesquisadores prolíficos e que tenham linha de pesquisa bem estruturada a escrever bons artigos de revisão sobre seus campos de estudo. Os artigos de revisão são de grande visibilidade educacional e retornam citações – especialmente – por grupos de pesquisa bem definidos.47,48 Nesse ínterim, os consensos de especialistas também são valiosos no sentido de sua atualidade e aplicabilidade. A abundância de condições clínicas, cirúrgicas e sanitárias com que a dermatologia lida cria ambiente favorável à publicação de revisões e consensos. O envolvimento de autores produtivos em seus artigos de revisão e consensos maximiza a citação de sua própria produtividade nas próximas publicações.
Em contrapartida, pesquisadores brasileiros vinculados a instituições públicas de pesquisa são avaliados segundo sua produtividade em publicações de maior FI. Essa é uma questão que naturalmente desfavorece os periódicos nacionais, porquanto apresentem FI menores, restando a eles os artigos de menor qualidade, que geram menos citações e – em um círculo vicioso, nada virtuoso – não impulsionam os periódicos nacionais.49
Como as publicações dos ABD são de acesso aberto, deve‐se investir na maior visibilidade de seus artigos junto à sociedade, aos dermatologistas e a grupos de pesquisadores. Diante de miríade de publicações científicas disponíveis, a maior visibilidade da revista deve ser perseguida a partir da indexação adequada de seus artigos e dos metadados (p. ex., palavras‐chave, DOI das referências), o que facilita a pesquisa por sistemas de busca.
Os periódicos médicos também são acessados por pacientes, grupos de apoio em doenças, operadoras de saúde, jornalistas, entre outros interessados no assunto publicado, porém esse interesse social dos textos publicados não é capturado pelos indicadores bibliométricos. Altmetrics é um índice que avalia a penetrância de determinada publicação nas redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram, e sites como BBC e Times. A divulgação das publicações fora da esfera médica pode ser uma opção para garantir maior visibilidade das pesquisas, bem como maior número de citações.50 Além disso, mídias sociais poderiam ser empregadas para divulgar os principais artigos dos ABD, por exemplo, com o uso de vídeos do próprio autor ou resumos gráficos.51
Por fim, é elementar que a melhoria dos índices bibliométricos dos ABD deva ser fundamentada na publicação de artigos de grande relevância científica. Entretanto, por ser uma revista fundamentada no Brasil, reflete a natureza da pesquisa médica brasileira e latino‐americana, ainda pouco competitiva internacionalmente.6 Além disso, dermatologistas brasileiros são vocacionados para a atividade clínica individual, são pouco adeptos às pós‐graduações (mestrado e doutorado) e ainda apresentam dificuldade de leitura em inglês.52 Cabe à SBD, junto a seus serviços, estimular a iniciação científica dentro da residência médica, como instrumentalização facultativa da geração de conhecimento científico original, na especialidade. Afinal, o país ainda vive condições dermatológicas endêmicas, além de carecer de pesquisa clínica independente para a avaliação crítica da incorporação de novas tecnologias e fármacos no sistema de saúde.53–55
Apesar de o número de pesquisadores, instituições de pesquisa, número de periódicos e de publicações terem aumentado nos últimos anos na América Latina, de modo geral, a ciência não constitui peça fundamental de sua economia. A diferença entre a produção científica em relação aos países desenvolvidos ainda é imensa. Dentre os motivos para a baixa produtividade dos países latino‐americanos, destacam‐se limitados recursos financeiros destinados à pesquisa, orçamentos públicos inadequados, níveis abaixo do padrão de infraestrutura e equipamentos de laboratórios, alto custo de materiais de consumo, inadequada remuneração dos pesquisadores e demais recursos humanos envolvidos na pesquisa. A instabilidade política e econômica, na maioria desses países, é determinante na ausência de planos de longo prazo para o desenvolvimento científico nessa região.9,52 As iniciativas dos fundos de pesquisa para a pesquisa dermatológica (FUNADERM e FUNADERSP) da SBD e a SBD‐RESP já viabilizaram mais de 70 projetos de pesquisa e são embriões que visam fomentar o desenvolvimento científico da classe, que devem ser valorizados.
A consistência da melhora da influência dos ABD no cenário internacional depende de uma série de ações editoriais que envolvem esforço relacionado à rigorosa seleção de artigos e ágil divulgação dos textos aprovados. O alinhamento dessa política editorial deve ser feito com os revisores e comunicado aos autores, a fim de maximizar a qualidade dos artigos publicados.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresHélio Amante Miot: Idealização do estudo, escrita e aprovação do texto final.
Paulo Ricardo Criado: Idealização do estudo, escrita e aprovação do texto final.
Caio César Silva de Castro: Idealização do estudo, escrita e aprovação do texto final.
Mayra Ianhez: Idealização do estudo, escrita e aprovação do texto final.
Carolina Talhari: Idealização do estudo, escrita e aprovação do texto final.
Paulo Müller Ramos: Idealização do estudo, escrita e aprovação do texto final.
Conflito de interessesHélio Amante Miot: Advisory Board – Johnson & Johnson, L’Oréal, Theraskin, Sanofi e Pfizer; Pesquisa clínica – Abbvie, Galderma e Merz.
Paulo Ricardo Criado: Advisory Board – Pfizer, Galderma, Takeda, Hypera, Novartis, Sanofi; Pesquisa clínica – Pfizer, Novartis, Sanofi, Amgen e Lilly; Palestrantre – Pfizer, Abbvie, Sanofi‐Genzyme, Hypera, Takeda, Novartis.
Caio César Silva de Castro: Advisory Board – Sanofi, Aché, Sun‐Pharma, Galderma; Pesquisa Clínica – Abbvie, Pfizer, Jansen, Sanofi; Palestrante – Abbvie, Jansen, Novartis, Sanofi, LeoPharma.
Mayra Ianhez: Advisory Board – Galderma, Sanofi, Pfizer, Novartis, Abbvie, Janssen, UCB Biopharma, Boehringer‐Ingelheim; Palestrante – Galderma, Sanofi, Pfizer, Theraskin, Novartis, Abbvie, Janssen, LeoPharma, FQM.
Carolina Talhari: Nenhum conflito de interesses.
Paulo Müller Ramos: Advisory Board e Palestrante – Pfizer.
Como citar este artigo: Miot HA, Criado PR, Silva de Castro CC, Ianhez M, Talhari C, Ramos PM. Bibliometric evaluation of Anais Brasileiros de Dermatologia (2013‐2022). An Bras Dermatol. 2024;99:90–9.
Trabalho realizado no Departamento de Infectologia, Dermatologia, Diagnóstico por Imagem e Radioterapia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil.