A coexistência de vitiligo e alopecia frontal fibrosante (AFF) já foi relatada;1,2 entretanto, ainda é incerto se existe associação real entre ambas afecções.
Uma paciente de 58 anos foi encaminhada para tratamento de vitiligo, que apresentava havia seis anos. Ao exame, foi notada rarefação capilar na região frontal do couro cabeludo, na mesma topografia das manchas acrômicas de vitiligo (fig. 1A). A histopatologia de biópsia do couro cabeludo mostrou dermatite de interface restrita ao infundíbulo do folículo piloso com numerosas células apoptóticas e fibrose perifolicular incipiente, o que confirmou o diagnóstico de AFF. Ambas se manifestaram após a menopausa. No seguimento, foi observada rarefação dos pelos dos supercílios concomitantemente com placa crescente de vitiligo (fig. 1B).
Outra paciente de 75 anos, com diagnóstico de vitiligo desde os 40 anos, apresentou despigmentação completa da pele. Ela também apresentava alopecia frontal com aspecto atrófico do couro cabeludo, sinal de pseudo‐franja e perda quase completa dos pelos dos supercílios (fig. 2).
A AFF é alopecia cicatricial linfocítica crônica, que afeta caracteristicamente a linha frontotemporal dos cabelos e frequentemente também as sobrancelhas. É observada predominantemente em mulheres na pós‐menopausa, e é mais comum em pacientes caucasianas. Alguns autores consideram a AFF uma possível variante clínica do líquen plano (LP),3 em virtude da semelhança dos achados histopatológicos. Como a AFF progride muito lentamente, muitas vezes é difícil definir seu início com precisão.4
O vitiligo é doença autoimune caracterizada pela perda seletiva de melanócitos, que causa despigmentação cutânea. Caracteriza‐se clinicamente por máculas acrômicas ou hipocrômicas. Fatores genéticos e ambientais estão envolvidos em seu desenvolvimento.5 A associação entre ambas afecções já foi descrita.1,2 Mais recentemente, em uma coorte de 20 pacientes diagnosticados com AFF, dois deles também apresentavam vitiligo.1
O vitiligo foi associado ao LP, o que pode ser explicado pelo achado de infiltrado inflamatório citotóxico de linfócitos CD8+ nas duas doenças.1 A associação entre AFF e vitiligo pode estar no fato de que a AFF pode ser uma variante do LP pilar.3 Sabe‐se que os melanócitos e queratinócitos formam unidades funcionais. Então, postulou‐se que, como os queratinócitos na bainha externa do folículo piloso são contínuos com os queratinócitos epidérmicos, eles provavelmente expressam as mesmas moléculas de adesão às quais os linfócitos se ligam,2 levando ao ataque linfocitário às unidades melanócitos‐queratinócitos e explicando a fisiopatologia de ambas as doenças. Além disso, sabe‐se que tanto o vitiligo quanto o LP apresentam o fenômeno de Köbner, o que pode explicar a presença de ambas na mesma topografia.1
O aparecimento concomitante de placa de vitiligo e AFF no supercílio da primeira paciente reforça a possibilidade de que pode haver associação entre elas. Além disso, a segunda paciente, que apresentava caso mais extenso de vitiligo, também teve caso mais avançado de AFF, o que pode fortalecer a hipótese de que suas fisiopatogenias possam estar ligadas. Entretanto, mais estudos são necessários para elucidar os mecanismos exatos pelos quais essas duas condições estão relacionadas.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresJéssica Pauli Damke: concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados, ou análise e interpretação dos dados; redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.
Bruna Ossanai Schoenardie: concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.
Rochelle Figini Maciel: concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.
Juliano Peruzzo: concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.