Quimioterapia citotóxica, terapia molecularmente direcionada, imunoterapia, radioterapia, transplante de células‐tronco e terapias endócrinas podem levar a alterações dos cabelos que, na maioria dos casos, são reversíveis.1,2 Entretanto, alopecia persistente induzida por quimioterapia (pCIA, do inglês persistent chemotherapy‐induced alopecia) e alopecia persistente induzida por radioterapia (pRIA, do inglês persistent radiotherapy‐induced alopecia) podem ocorrer.1,2 Elas são definidas como crescimento incompleto do cabelo mais de seis meses após a conclusão do tratamento,2 e dependem do tipo, duração e dose do tratamento oncológico.1 O presente artigo relata o caso de paciente pediátrica com pCIA e pRIA que apresentou crescimento significativo do cabelo utilizando minoxidil oral em baixa dose (MOBD).
Paciente feminina, de 4 anos, foi diagnosticada com tumor teratoide rabdoide atípico (TTRA) no cerebelo. Foi iniciada quimioterapia com protocolo Dana‐Farber com vincristina, cisplatina, doxorrubicina, ciclofosfamida, etoposídeo, temozolomida e actinomicina D por 18 meses. Além disso, a paciente foi submetida a dez sessões de quimioterapia intratecal com citarabina e dexametasona, seguida de radioterapia de crânio e neuroeixo e craniotomia occipital com ressecção parcial do tumor. Felizmente, a paciente obteve remissão oncológica, mas evoluiu com pCIA e pRIA. Aos 9 anos, a alopecia tornou‐se preocupação cosmética, então minoxidil tópico a 5% foi tentado uma vez ao dia durante seis meses, sem resposta clínica. Aos 14 anos, foi iniciado MOBD 0,5mg/dia, com alguma melhora na densidade dos cabelos após seis meses. Essa dose foi aumentada para 1mg/dia por mais seis meses, com notável resposta clínica e tricoscópica e sem efeitos colaterais relatados (figs. 1‐2).
A pCIA foi relatada em 14% dos sobreviventes de câncer pediátrico.1 A queda aguda de cabelos durante a quimioterapia ocorre em virtude da ação citotóxica no folículo piloso, interrompendo a mitose e perturbando o ciclo do cabelo. Os mecanismos exatos que levam a pCIA e pRIA não são claros, mas podem estar relacionados a danos às células‐tronco foliculares e sinalização alterada com falha na restauração de um novo ciclo.2,3 A associação de quimioterapia e radioterapia aumenta os riscos de alopecia persistente.2
Bussulfano, ciclofosfamida, antraciclina, carboplatina, docetaxel, paclitaxel e etoposídeo são os agentes mais comumente associados à pCIA. Clinicamente, a pCIA pode apresentar‐se semelhante à alopecia androgenética, com padrão difuso ou irregular ou alopecia total. A histopatologia geralmente mostra alopecia não cicatricial com densidade capilar reduzida e miniaturização.3
O minoxidil oral é vasodilatador arterial introduzido inicialmente como medicamento anti‐hipertensivo.4,5 Na dermatologia, o MOBD (0,25‐5mg/dia) tem sido cada vez mais utilizado para alopecia androgenética, alopecia areata, alopecia por tração e, mais recentemente, pCIA.4,5 Para pRIA na população pediátrica, o uso de MOBD ainda não foi relatado. Um estudo retrospectivo com 63 pacientes pediátricos tratados com MOBD para diferentes tipos de queda de cabelo não mostrou efeitos adversos graves.5
A pCIA e a pRIA podem causar sofrimento significativo, impactando o desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes. É particularmente desafiador quando ocorrem simultaneamente. Os autores apresentam um caso de pCIA e pRIA associadas tratadas com sucesso com MOBD. Apesar dos poucos relatos na literatura sobre esse medicamento na faixa etária pediátrica para condições persistentes de queda de cabelos, o tratamento com MOBD parece ser seguro e eficaz e deve ser considerado pelos dermatologistas.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresRaíssa Rodriguez Melo: Elaboração do rascunho; redação do manuscrito e aprovação da versão final a ser publicada.
Rita Fernanda Cortez de Almeida: Planejamento do estudo; redação do manuscrito e aprovação da versão final a ser publicada.
Luciana Rodino Lemes: Planejamento do estudo; redação do manuscrito e aprovação da versão final a ser publicada.
Sidney Frattini Junior: Elaboração do rascunho, revisão do texto e aprovação da versão final a ser publicada.
Paulo Muller Ramos: Planejamento do estudo; revisão crítica do manuscrito e aprovação da versão final a ser publicada.
Daniel Fernandes Melo: Concepção do estudo; revisão crítica do manuscrito e aprovação da versão final a ser publicada.
Conflito de interessesNenhum.
Como citar este artigo: Melo RR, Cortez de Almeida RF, Lemes LR, Frattini S, Müller Ramos P, Melo DF. Low‐dose oral minoxidil for persistent chemotherapy and radiotherapy‐induced alopecia in a pediatric female patient. An Bras Dermatol. 2024;99:642–4.
Trabalho realizado no Hospital Pedro Ernesto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.